5.7K 374 14
                                    

- Você me odeia?
Reviro os olhos.
- Não.
- Você acabou de dizer que detesta gente curiosa.
- Eu disse que detesto, Esther. Detestar é diferente de odiar. Entendeu?
- Entendi.
- Vamos sair. Já está pronta.
Cubro ela com um roupão branco e saímos do banheiro.
- No meu closet tem roupas suas.
- Aonde você vai?
Ela saca que vou me retirar do quarto.
- Sei lá, vou dar uma volta por aí. - Dou de ombros, saindo pela porta.
- Leonel! - grita, chorando. E como um idiota, volto quase correndo para o quarto atendê-la.
- O que foi, Esther?
Encaro ela, que me envolve num abraço apertado.
- Não me deixe aqui sozinha, estou com medo. Esta casa é muito grande - chora em meu ombro, molhando o V do meu terno preto. - Por favor, eu não quero que você saia de perto de mim, fique, fique. - Pede entre soluços. Acabo sedendo ao abraço dela, levando a mão em seus cabelos.
- Me desculpe, eu odeio quando você fica zangado. Parece que nunca vai melhorar. Eu não vou mais desobedecer você - ela me aperta em seus braços. Suspiro.
- Meu Deus, Esther - sussurro. - Eu vou tomar um drinque lá embaixo, só isso. Não chore mais - beijo seu rosto.
- Não - choraminga. - Vamos dormir. Está tarde.
- Você vai ficar bem.
- Por favor, Leonel - ela me beija na boca, descontrolada. Solto ela bem rápido, para não continuar.
- Está bem, vamos dormir, vamos.
Desvencilho-me da calça jeans, da camisa branca e do terno. Fico apenas de uma cueca azul escura. Esther me olha, dessa vez mais calma do que estava antes, e deita na cama em silêncio. Em seguida, me deito também, aconchegando debaixo do cobertor sem tocar em Esther. Um silêncio ecoa no quarto por segundos.
- Não vamos dormir abraçados? - pergunta Esther, insone.
- Ainda estou irritado com você.
- Eu já pedi desculpas várias vezes. Isso não conta?
Levo a mão direita na cabeça, exasperado. Suspiro fundo, impaciente.
- Sim, mas estou irritado porque larguei assuntos pendentes em Bordeaux por sua culpa.
Ela me observa com o sentimento de culpa.
- Então, volte - murmura.
- Para você fazer outra proeza dessas? Jamais! Deixei Denize responsável por tudo.
- Eu juro que não faço mais isso.
- Chega, está bem? Não me venhe com essa bajulação. Chega - digo, destemido pelo mau humor.
Ela me olha outra vez e desiste, então, vira as costas para mim e cobre o corpo com o cobertor.
- Boa noite, Leonel.
Meu coração palpita de arrependimento. Abrace ela, droga. O que você foi fazer, Esther? Que rebeldia de criança! Abro a boca para falar, mas me contenho. Aproximo dela e toco suas costas com o dedo indicador.
- Tire as mãos de mim - balbucia.
Presumo que ela esteja chorando de novo, então retiro as mãos.
- Esther, vire.
Ela emudece.
- Estou falando sério.
Ela vira e não me olha, observa apenas o teto do quarto.
- Olhe para mim - ordeno. Ela obedece. Ficamos olho no olho.
- Existe coisas na vida que não podemos fazer. Você fez uma coisa que quase te matou, saiu com pessoas que poderiam te deixar viciada em drogas. Esses caras não estão nem aí com ninguém, Esther. Quem usa droga é um idiota, que acaba achando outro idiota para experimentar, e assim sucessivamente. Ser rebelde não é legal, não combina com você. Rebeldes se vêem revoltados com tudo e com todos. A vida está aí. Se você não souber brincar com ela, ela vai brincar com você. Hoje em dia temos que pesquisar nossas novas amizades - ela ouve e me olha atentamente. - Você sempre achou que o Thaly Alberto, naquele jeito extrovertido e de aparência saudável, fosse um bom amigo para penetrar em sua vida, mas você viu que tipo de pessoa ele é. Talvez, ele esteja passando por um momento chato na família e decidiu se entregar ao mundo das drogas, ou pode ser um que disse ser amigo, veio e ofereceu-lhe essa porcaria.
Ela pisca os cílios duas vezes. Acarecio seu rosto. Ela se entrega à minha mão.
- Entendeu agora porque eu não queria você perto dele desde o começo do ano na faculdade?
- Entendi. Eu estava cega.
- Que bom que você se despertou a tempo.
- Obrigada, valeu a pena aquele sermão todo que recebi de você.
- Eu sei das coisas, Esther. Se algum dia eu tiver coragem, conto tudo de mim para você.
- Eu já conheço você.
- Não... Você não conhece.
- O que...
- Shhh - toco seu lábio com o indicar - vamos dormir.
- Abraçados?
- Sim.

Minha estúpida obsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora