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Mary melhorou a autoestima com todos depois daquela breve conversa que tivemos no quarto. Eu não suporto quando ela fica zangada por coisas banais. Ela é mão-aberta, não sabe controlar os gastos e lidar com dinheiro grande. Por que Bryan deixou o cartão de credito com ela? Ele conhece a filha que tem.
Estamos na mesa almoçando e comemorando muitas coisas nos brindes de taças. Esther está sentada ao meu lado na mesa, meu pai com minha mãe, Heithor com Liara e Cristoffer com Jeffy - o casal apaixonado - eles não desgrudam um do outro.
- Pai, mãe, preciso falar uma coisa - diz Cristoffer sorrindo como um bobo.
O que deu nele? Damos a atenção. Ele pega a mão de Jeffy e beija carinhosamente.
- A Jeffy está grávida.
Todos entreolham um para o outro, surpresos e ao mesmo tempo felizes. Damos os parabéns, um de cada vez. Meu irmão vai ser pai. Interessante isso...
- Nossa! Ele acertou o ponto da garota, hein? - diz Heithor ironicamente em voz alta.
Eu o censuro com um olhar e logo vem Liara dando-lhe um soco no abdômen. Bem-feito! Rio baixinho.
- Parabéns, irmão - digo.
- Obrigado - ele sorri todo feliz.
- Já sabem o sexo do bebê?
- Ainda não, mas a Jeffy senti que é uma menina.
Nossa, menina... É complicado lidar com meninas, mas fico feliz por ele.
- Eu vou adorar ter uma sobrinha - murmuro.
- Parabéns, Cristoffer - Esther vem saltitando abraçá-lo.
- Obrigado, Esther.
- Ai, eu amo bebês, acho todos eles uma gracinha.
- Você vai ter um também, espere só.
Cruzo os braços à frente do peito. A Esther não vai ter filho nenhum. Não quero um filho! Não agora. Ela dá uma risada e coloca a mão no ventre como uma grávida.
- Ah, não sei se aqui cabe um bebezinho. Minha barriga é muito fina e seca - ela ri, Cristoffer acompanha.
- Claro que cabe.
- Pessoal - Heithor ergue a voz. - Que tal a gente ir à praia nesse calor?
- É, aí todo mundo comemora o novo membro da família - diz Mary exultante.
Meus pais concordam com um gesto de cabeça. Esther me olha e dá de ombros como quem diz: "Não temos nada para fazer mesmo". Mas eu não estou a fim de ir, pois minha mãe está observando Esther desde que entramos e sei que ela vai discutir comigo o porquê do hematoma. Realmente, não sei o que deu em mim quando meti um soco nela, mas não foi forte.
- Esther, seu rosto está meio avermelhado. O que aconteceu?
Demorou. Esther me joga um olhar venerado, demonstro outro, erguendo a sobrancelha. Minha mãe me olha também, desconfiada, e volta a atenção para Esther.
- O meu filho fez alguma coisa com você? - ela fala baixinho, porém meus ouvidos são bem esfuziantes ao timbre da sua voz.
- Não! Isso aqui é resultado de... - Esther gagueja desaprumada.
Minha mãe cruza os braços, esperando ela terminar de se explicar.
Invente algo, sua tonta. Lídia Blanchard é dúbia nesse assunto.
- É... eu...
- Deixe de rodeios, querida, fale logo - insiste.
- O seu filho me deu uma bofetada - ela fala rápido, sem hesitar.
Argh! Suspiro. Essa garota não sabe mentir. Minha mãe me encara, perplexa.
- Filho! - exclama.
O resto do pessoal vão sumindo pouco a pouco da mesa de jantar. Eles se aglomeram lá em cima, na sala de estar, animadamente. Esther, minha mãe e eu ficamos a sós.
- Por que fez isso com ela?
Olho zangado para Esther, ela baixa a cabeça e encara as mãos entrelaçadas à frente do vestido.
- A Jaqui me atormentou de novo, mamãe.
Ela afaga minhas mãos, apreensiva. Acho que não deve ser a Jaqui, deve ser algum demônio que me tira do sério.
- Ah, filho, não deixe isso te dominar.
Esther fica do lado, sentindo-se inibida e fora do assunto. Ela franze as sobrancelhas sem entender o que conversamos. Estou abatido, enervado. Minha mãe nunca me viu assim, sempre tive a postura de doutor sério, intolerante e impassível.
- Já pedi perdão a Esther.
- Eu perdoei - balbucia para minha mãe.
- Meu filho, a Jaqui, como você mesmo diz, morreu para nós. Por que vive se atormentando com isso?
- Mamãe, é difícil controlar.
Não é só a traição dela que me atormenta, é outra coisa da qual não sei explicar.
- Desculpe, mas quem é Jaqui? Eu não sei do que vocês estão falando.
Olho para Esther.
- Eu vou contar a verdade a você, Esther. Aqui não. Eu não estou me sentindo bem, mamãe. Gostaria de ir para a minha casa, se a senhora não se importar.
Ela afaga meu rosto carinhosamente - jeito de mãe. Esther fica sem entender nada.
- Claro, filho, vá.
- Avise todos por mim. Voltarei quando puder.
- Sim.
Se é que vou voltar junto com a Esther. Vou tomar uma difícil decisão. Isso vai mudar minha vida por completo. Droga!
- Vamos, Esther - digo, tentando amenizar a tensão entre nós.
- Vamos. Até mais, Sra. Blanchard.
Sua voz é fina e sensível. Vou sentir falta disso.
- Até, querida.

Minha estúpida obsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora