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Deixo ela no quarto e vou para a cozinha tentar cozinhar. Não! Você vai estragar a comida. Penso em algo para comprar no restaurante do prédio. O quê?... Já sei, vou pedir uma comida típica de Bordéus. Acho que devem servir aqui também. Em todos os restaurantes que eu já fui aqui do Rio de Janeiro têm esse tipo de cardápio. Neste tem que ter, por que não?
- Você não sabe cozinhar, o que está fazendo na cozinha? - diz Esther, surgindo pela porta grande. É verdade, eu não sei mesmo. Droga! Tenho que aprender. Até meus irmãos sabem.
- Qual é o número do restaurante daqui? - pego o celular nas mãos. Ela fala e eu vou digitando no celular. Está chamando. Esther se aproxima de mim, me fazendo carinho enquanto fico totalmente absorto com o celular na orelha.
- Quero para duas pessoas...
Isso... obrigado.
Desligo. Agarro ela, radiando felicidade por estar ao seu lado. Ela me acalma, me deixa feliz. Nunca senti isso antes, nem com a minha ex.
- Vamos fazer amor?
Ela sorri.
- Vamos.
- Como você quer? - digo em sua boca.
- Eu disse várias vezes a você: gosto de fazer amor com carinho. Mas você não consegue ser carinhoso, você é bruto.
- Eu sou bruto? - tento me fazer de inocente. - Eu não sou - brinco.
- É.
- Não sou.
- É.
Rimos juntos como se não houvesse o amanhã; e pode não haver o amanhã. Não há duvidas de que estou apaixonado por ela, mas isso não significa que vou bobear mais uma vez. Eu jurei que nunca mais ia ser iludido por uma mulher. A campainha toca duas vezes, nos tirando do clima.
- Vou atender.
Ela abre a porta. Um homem moreno, alto, de cabelo grisalho e magro entra com um pequeno carrinho de ferro branco. Ele sorri para Esther, mas de um jeito que, para ela, é muito intimidador. Aproximo e a seguro pela cintura, beijo seu cabelo - para mostrar que ela tem dono.
- Só isso, Srta. Winkler? - diz ele sorrindo e intimidando-a.
- Sim. Obrigada, Frazõ.
- De nada. Me dêem licença.
- Toda - digo ironicamente. Ele sai e joga mais olhar para Esther. Será que ele fez de propósito? Filho da puta.
- Filho da puta - resmungo, zangado. Esther arregala os olhos para mim.
- Leonel - exclama.
- Você não viu? Ele olhou as suas pernas. Esse cara...
- Calma.
Respiro.
- Está com ciúmes?
- Não é ciúmes, é raiva que estou sentindo desse abusado. Ele trabalha aqui todos os dias?
- Sim.
Ele não vai mais trabalhar neste prédio, eu juro.
- Quer almoçar primeiro? - digo.
- Quero.

NÃO CONSIGO TIRAR a cena daquele homem olhando para Esther com malícia. Pego meu computador e ponho ele sobre a mesa de jantar. Tenho que conversar com a Sra. Montevidéu. Antes, pesquiso a vida de Frazõ dentro do apartamento dela. Uma fixa aparece.

Nome: Frazõ Rômulo Serraste
Religião: Católico
Cidade atual: Rio de Janeiro
Cidade natal: Paris (França)
Idade: 29 anos
Altura: 1,72
Profissão: Camareiro
Escolaridade: Ensino médio incompleto.
Faixa criminal: Responsável por tráfico de drogas em 2001.
Frazõ Rômulo, como camareiro, contratado no dia 12 de julho de 2009 para prestar seus conhecimentos dentro do apartamento da Sra. Annie Montevidéu. Assinou seu contrato no dia 8 de julho de 2009, estando qualificado para desempenhar seu trabalho com ética, seriedade e eficácia.

Seriedade? Rio. Esse cara é um verdadeiro salafrário maldito. Quem disse que ele está prestando seus serviços com ética?

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De: Leonel Blanchard
Assunto: Empregados
Data: 23/07/2010 07:12 PM
Para: Annie Montevidéu

Cara Sra. Montevidéu, gostaria de saber se a senhora é mesma uma médica disciplinada. Será que anda verificando bem quem são seus empregados? Creio que não. Preciso falar com a senhora sobre isso.

Apartamento da Sra. Montevidéu, 19° andar. Pacros Montevidéu,765 (RJ).
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Agora é só esperar. Ela vai demitir esse nojento, ah, se vai. Ou eu não me chamo Leonel. Dou uma olhada no computador, tenho muitos emails para ler. Recebi um do hospital, da clínica, do consultório de Elliel e um de Thatiany. O que será que ela quer? Annie me responde.

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De: Annie Montevidéu
Assunto: Empregados
Data: 23/07/2010 07:19 PM
Para: Leonel Blanchard

Caro Leonel, gostaria de saber onde você quer chegar com isso? Seja franco, sem rebajulações.

Pacros Montevidéu, 765 (RJ).
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Ah, pois a senhora vai saber. Vou ser curto e grosso, Annie.

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De: Leonel Blanchard
Assunto: Empregados
Data: 23/07/2010 07:20 PM
Para: Annie Montevidéu

Pois bem, quero que demita imediatamente o camareiro Frazõ Rômulo. Demita já!

Apartamento da Sra. Montevidéu, 19° andar. Pacros Montevidéu, 765 (RJ).
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De: Annie Montevidéu
Assunto: Meus empregados
Data: 23/07/2010 07:22 PM
Para: Leonel Blanchard

Não posso demitir o Frazõ sem motivos, Leonel. Você sabe disso. Por favor, esqueça.

Pacros Montevidéu, 765 (RJ).
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O quê? Esquecer? Ela não me conhece mesmo. Vou mostrar quem eu sou se ela não fizer o que estou mandando.

Minha estúpida obsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora