Capítulo 04

9.3K 621 1
                                    

Mais tarde, às cinco horas, todo mundo se despede e vai embora, me deixando a sós com a Esther.
- Esther, foi um prazer conhecê-la - diz meu pai.
- Igualmente, Sr. Blanchard.
Eles se abraçam.
- Querida, se cuide, até breve.
Minha mãe sorri.
- Digo o mesmo, Sra. Blanchard.
- Pode me chamar de Lídia.
- Lídia, obrigada - ela sorri para a minha mãe com carinho sincero.
- Até mais, senhorita - Heithor beija a costa da mão dela, deixando-me desnorteado.
- Tchau, Leo - diz, sorrindo com ironia. Palhaço filho da mãe.
- Tchau. - Faço um gesto com a mão.
- Obrigada pelo almoço, filho, fique com Deus.
Mamãe me dá dois beijinhos.
- Obrigado você, mamãe.
Todos se despedem e, de repente, não vejo mais ninguém em casa, só Esther e eu.
Subo com ela para o meu escritório. Vou aproveitar o fim da tarde com uma aula extra sobre doenças.
- Onde vamos?
- Para o meu escritório, quero que aprenda algumas coisas sobre a aula de amanhã.
- O que você e os outros professores vão ensinar amanhã?
- A dissecar um corpo com as devidas cautelas.
- Hum.
Destranco a porta do escritório e entramos, ligo a luz e a alva resplandece, tanto do teto branco quanto do piso gelado.
- Você sabe o que significa anatomia?
- Sei, é a ciência que se ocupa da estrutura dos organismos e órgãos que são geralmente visível a olho nu.
- Isso mesmo, Esther.
Aconchego-me na cadeira de rodinhas, conduzindo Esther para se sentar ao meu lado - assim ficaremos de frente ao monitor do computador.
- Está gostando das aulas de anatomia? - pergunto.
- Mais ou menos.
- Por que mais ou menos?
Ela respira fundo.
- O que foi?
Franzo as sobrancelhas.
- Gente morta... Ai... Eu...
- Tem medo?
- Sim - murmura. Ela faz uma cara de quem chupou limão azedo.
- Relaxe, Esther. Mortos não fazem nada.
- Só dão medo na gente.
Dou uma leve e divertida gargalhada.
- Do que está rindo?
- De você. Esther, meu bem, mortos não se mexem. Ai, Céus.
Lasco um selinho nela, fazendo-a corar.
- Por que você fica tão relaxado? É gente morta, Leonel.
Rio de novo.
- Ah, Esther, você tem muito o que aprender - murmuro, tentando conter o riso.
- Isso é nojento.
- Para mim, é normal. Com o tempo você vai se acostumar e vai perder o medo. Eu adoro dissecar. - Traço uma linha com o dedo indicador embaixo do vestido dela, indo ao restante de cima do seu corpo.
- Eu adoro cortar, ver sangue e usar tesouras.
Ela me olha, perplexa.
- Você é um lunático - murmura baixinho.
- O que disse? - inclino a cabeça para fitá-la.
- Nada.
Ela disse lunático, o que eu sou às vezes - médico louco, irônico.
Ligo o computador e clico numa pasta azul, que encontra-se na área de trabalho, em seguida, surgem textos e imagens relacionados à medicina.
- O que é isso? - aponta com o dedo para a imagem 2, que mostra a aneurisma abdominal.
- Aneurisma abdominal. É basicamente uma distensão, como um balão, de um ponto enfraquecido da parede de qualquer artéria do organismo. Pode ocorrer desde a cabeça até as pernas. Existe um grande desentendimento na população em geral sobre aneurismas.
- E como ocorre?
- Ocorre devido aos tipos e tratamentos: podem ser fusiforme, sacular ou dissecante. Ainda podem ser classificados como congênio, inflamatório, degenerativo ou traumático.
Ela fica ainda mais curiosa. Continuo, olhando para o monitor:
- O aneurisma mais frequente ocorre na aorta, a maior artéria do corpo, também chamado de aneurisma de aorta abdominal.
- Entendi.

O TEMPO PASSOU rápido e eu nem percebi. Já são oito horas da noite e daqui a pouco tenho que levar Esther para casa.
Essa garota me distrai tanto com sua delicadeza, afeto e carinho que me deixo levar à toa.

Minha estúpida obsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora