A OUSADIA DE THALY ALBERTO

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              14 de agosto de 2010

            Capítulo 82

   Meu pai está igual a um sorumbático sentado no sofá assistindo  “Deus não está morte”. O filme fala de um jovem que luta para manter sua fé em Deus, ele desafia até seu professor de faculdade.
   Estou na cozinha, tomando café com leite e comendo bolo de chocolate. Minha mãe fez o bolo antes de ir trabalhar. Dou mais uma olhadela para o meu pai, ele está totalmente absorto diante da televisão.
   Meu pai se chama Daniel Alberto, ele é detetive particular da delegacia onde o pai do Leonel, meu professor, trabalha. Daniel Alberto tem uma RR na garagem de casa, e estou pensando em dar uma volta nela. Não piloto essa moto faz dois meses.
— Papai, posso... dar uma volta por aí? — fecho os olhos e abro. Não estou sendo franco, ele percebe.
— Claro, pode ir — zomba.
— Mas quero emprestada sua RR.
   Ele me olha, transparecendo a desconfiança. Vai, pai, me empreste, imploro em mente.
— Você não vai voltar à pilotar a minha moto, ela é perigosa demais para estar em suas mãos.
   Reviro os olhos.
— Eu sei controlar essa moto, pai, por favor.
   Ele emudece e me ignora. Eu vou conseguir. Insista, Thaly.
— Pai, eu vou encontrar alguns amigos lá fora, mas eles vão de moto na festa. Eu não quero ir de carro, por favor.
— Ah! Está bem, Thaly, pegue a moto. Jovens! — bufa ele.
   Rá! Eu disse que ia conseguir. Faço careta atrás do meu pai.
— Eu estou vendo, Thaly. Saia logo antes que eu mude de ideia — balbucia. Rio quando me retiro da sala.
                 

   PARO COM A moto em frente ao apartamento da Esther. Será que ela já dormiu? Olho o relógio — são oito e vinte e seis da noite. Acho que ainda está acordada. Estaciono a RR do outro lado da rua, e atravesso para tocar o interfone da portaria. Um senhor está de vigia lá em cima, ele me olha e atende.
— Pois não, rapaz.
— A Srta. Winkler está?
— Sim, por quê?
— Gostaria de entrar para falar com ela.
— Você não pode entrar assim, rapaz, primeiro temos que resvistá-lo e chamar a Srta. Winkler para reconhecê-lo. Está de acordo?
— Sim, senhor.
— Espere um momento.
   Ele desliga. Acho que vai chamar a Esther agora. Vou dar uma volta com ela, e correr bem rápido dessa moto. Se a Esther aceitar. Mas eu vou insistir até o fim, eu vou conseguir ela para mim. Tenho que aproveitar enquanto o seu protetor está de viagem. Realmente, esse professor é um babaca, sempre está acobertando ela.
   Eles têm outro tipo de relação, eu tenho certeza. Os dois não desgrudam dia e noite. Eu já vi eles em um restaurante, dando voltas pelo Rio de Janeiro de carro e saindo de mãos dadas numa praça ao lado da minha casa.
   O doutorzinho gosta de menininhas não de mulheres experientes. Filho da mãe, o pior é que ele tem sorte. Mas pode se dar mal por estar de namorinho com a própria aluna.
   Esther surge pela portaria do prédio, ao seu seu lado estão dois brutamontes de terno e gravata, com armas na mão.
— Ah, Thaly.
— Vem, rapaz, precisamos revistá-lo.
— Tem certeza? — franzo a testa para o segurança baixinho.
— Tenho, são as ditames da Sra. Montevidéu.
   O segurança fala grosso e rápido.
   Eles me revistam do pé à cabeça, e encontra apenas o celular e a chave da moto no bolso de trás da calça jeans preta.
— Está limpo. Conhece ele, Srta. Winkler?
— Claro que sim — ela sorri.
— Entre, não podemos ficar aqui fora.
   Usando o controle, ele fecha o portão automaticamente. Esther e eu pegamos o elevador para subir, sem os seguranças nos rondando. Ela me olha, confusa.
— O que foi? — pergunto, tentando minimizar a tensão entre nós.
— Estou preocupada.
— Com o quê?
— Com o Leonel.
   Esfrego o queixo, olhando para ela. Esther usa um short curto e uma blusa com manga caída nos ombros.
— Ele está bem, Esther.
— Como sabe?
— Fiquei sabendo pela boca do povo e, além do mais, ele está em sua cidade natal.
— Mas eu queria... — ela pausa, confusa.
   Não era para falar, acho eu. Essa frase combina com que palavra? Pode ser: falar com ele, queria ele, telefonar para ele... Não sei.

Minha estúpida obsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora