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Bato a porta atrás de mim, sento na cadeira e dou um soco na mesa, furioso. A porta se abre novamente e a cadela da recepcionista entra. Que petulância.
- Eu não disse para você me deixar em paz?! Que droga! Saia daqui agora mesmo! - grito altíssimo. Ela fica trêmula.
- Me desculpe, doutor, eu não queria irritá-lo. Só queria lembrar ao senhor da cirurgia.
- Eu saí de casa ciente dos meus assuntos pendentes. Não preciso de ninguém para lembrar-me disso, eu sou um médico competente. Agora, saia - rosno. Ela cria coragem e vira as costas.
- Mas, doutor...
Vou atrás dela a fim de arrastá-la para fora do consultório à força.
- Você não vai sair, não é? Então venhe aqui, cadela.
Ela corre antes que eu possa alcançá-la na porta. Pareceu ter medo de eu chegar perto. Assim é melhor. Quem será o próximo? Volto ao meu lugar, sento-me na cadeira e ligo o computador. Recebo um email de Thatiany, mas antes de abri-lo, vou mandar outro para Oliver.

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De: Leonel Blanchard
Assunto: Trabalho
Data: 23/07/2010 08:30 AM
Para: Oliver Lins

Oliver, estaremos na sala de cirurgia às nove horas. Prepare tudo.

Clínica Blanchard. Sala do Dr. Leonel Blanchard. N° 34.
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Pronto. Agora vou abrir o email de Thatiany.

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De: Thatiany Lamborghini
Assunto: Sua empregada
Data: 23/07/2010 08:27 AM
Para: Leonel Blanchard

O serviço está pronto. Ela levou uns arranhões feios. Simulamos um assalto e deu certo.


Rua Teófilo Oni, 97/ centro. C. 662. (RJ)
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Isso! Sorrio diante do monitor, mas a vingança ainda não acabou. Ah, cara, Pérola, você tem muito o que acertar comigo. Vou fazer da sua vida um inferno.

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De: Leonel Blanchard
Assunto: Acerto de contas
Data: 23/07/2010 08:34 AM
Para: Thatiany Lamborghini

Passe na minha clínica hoje às dez e meia. Só você. Darei todo o seu dinheiro.


Clínica Blanchard. Sala do Dr. Leonel Blanchard. N° 34. (RJ)

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De: Thatiany Lamborghini
Assunto: Acerto de contas
Data: 23/07/2010 08:35 AM
Para: Leonel Blanchard

Certo. Passarei aí. Até mais tarde.

Rua Teófilo Oni, 97/ centro. C. 662. (RJ)
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Pronto. O serviço está feito. Como será que Pérola está? Mal? Bem? Começo a rir, sozinho. Com certeza ela levou uma surra de doer na pele. Eu conheço Thatiany, ela não dá mole com o resto da sua turma. Mas eu quero mais! Ainda não estou satisfeito, ela tem que cair de onde está, tem que implorar por minha ajuda e aí, eu darei o troco.
Ela pode até ter gostado de transar comigo, mas não vai gostar do meu lado mau. Ah, Pérola, eu não vou ter pena de você.

OLHO PARA A JANELA do quarto de Esther, o dia está lindo. Por incrível que pareça, estou mais relaxado desde a hora em que cheguei aqui. Esther está dormindo, como um anjo cheio de condolências. Ela fica linda dormindo assim: agarrada ao travesseiro, com os cabelos soltos, a mão direita, tão pequena e tão macia, exposta ao lado do baby doll rosinha claro, e parece que vai sorrir a qualquer momento. Eu noto tudo. Sorrio e murmuro:
- Eu sei que você já acordou.
Ela sorri, abrindo os olhos como uma criancinha querendo doce.
- Bom dia.
- Bom dia. Já são onze horas da manhã e a senhorita não toma vergonha na cara em acordar cedo.
- Não tenho nada melhor para fazer.
- Ah, é? - esfrego o queixo. - Posso arranjar algo para você fazer.
- Você não manda em mim - ela mostra a língua e esconde o rosto no travesseiro.
Franzo as sobrancelhas de um modo divertido. Ela levanta da cama saltitando e me abraça carinhosamente, com um beijo reverente.
- Se você me ama...
- Tenho que obedecer - diz ela, interrompendo-me. - Eu sei.
- Você comeu?
- Até agora não.
Solto-a.
- Ah, não. Por quê?
- Porque eu estava com muita cólica e não queria levantar da cama.
- A cólica passou?
- Passou.
- Ainda está menstruada?
- Não.
- Vamos almoçar.
- Não quero.
- Meu Deus, eu vou ter que te arrastar pelos cabelos para que entenda a lição.
Ela sorri e me envolve nos braços outra vez. Beija meu peito por entre a camisa e me olha.
- É brincadeira, eu estou morrendo de fome, seu bobinho.
- Hum.

Minha estúpida obsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora