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Uma das minhas primas chega em casa. Presumo que seja ela quem estava tocando a campinha. Deborah sempre sorridente e oferecida, adora esbanjar o que tem. Dá em cima de mim o quanto pode, com certeza ela vai se insinuar para o meu lado. Mais uma piranha que adora me dar bola.
- Oi, Leonel - ela sorri, retribuo.
Ela senta ao meu lado, com o braço apoiado em meu pescoço. Será que ela não percebeu o meu mau humor?
- Cadê sua princesa dos cabelos avermelhados? Não veio?
- Não.
- Ah! - bufa, revirando os olhos. - Aquilo ali é uma criança para você. Quantos anos essa menina tem, hein?
- Não fale assim da Esther. Ela é maior de idade.
Deborah começa a rir.
- Olha, sinceramente, ela parece ter treze anos. Você está bancando o pedófilo.
Levanto do sofá já sem paciência, ela me olha. Pego meu jaleco nas mãos de Wallace brutalmente.
- Já vai, doutor?
- Já.
- Ah, não, irmão, fique mais um pouco - pedi Mary.
- Não posso, prometi a Esther que ficaria com ela.
- Prometi a Esther que ficaria com ela - repete Deborah com petulância.
- Deborah, você é mau amada - rebato. - A inveja que você tem da Esther é muita.
Essa foi para doer na pele, piranha assanhada. Ela me fuzila com os olhos. Um vulcão em erupção passa pelo seu rosto. Deborah vira o pimentão apimentado. Isso mesmo.
- Mãe, pai, estou indo.
- Já? Filho, ainda são cinco e quarenta da tarde - diz minha mãe.
- Tenho que ir. Amanhã, talvez, vou vir aqui com a Esther.
- Estamos todos com saudades dela. Ela é uma moça extrovertida - balbucia Cristoffer.
Sorrio para ele. Meu pai agacha a cabeça e sussurra em meu ouvido:
- Antes de sair, converse com a Maryelli e dê conselhos a ela.
- Está bem. Tchau, pai.
- Tchau, filho.
- Mary, vem - chamo.
Ela me estende a mão, e saímos pelo corredor de mãos dadas. A cor das paredes são em tons de café com leite, os quadros da família estão espalhados numa pequena parede de vidro, ao lado da escada de madeira. Indico a sala de bilhar para Mary entrar.
Fecho a porta atrás de mim. Ela pega uma cadeira para eu me sentar à frente da mesa de jogos.
- Sente-se - ofereço o centro da mesa de bilhar. - Então, Mary, minha linda. O que há de errado com você?
- Nada - ela dá um sorrisinho tímido. - É que... eu... estou namorando - ela fecha os olhos e baixa a cabeça, envergonhada. Respiro. É, Leonel, mais um trabalho para você.
- Bom, se você fosse minha filha...
- ...eu iria levar uma surra. Eu já sei disso.
- Mary, querida, você está muito nova. É... Como vou dizer isso?... - coço a cabeça preocupadamente. - Você só tem quinze anos.
- Eu não sou mais criança.
- Eu sei. Mas você vai descobrir muita coisa nesse namoro, como o sexo, por exemplo. Você é muito jovem, entende? É ingênua nesse assunto. A vida não é feita de beijos e carícias, além disso, tem muita coisa para explorar por aí. Você nem sabe se ele é o cara certo. Quem é ele?
- É um garoto da minha escola, do terceiro ano. Ele é legal, responsável.
- Ahn?
- Eu gosto dele - ela me olha.
- Adolescência é a pior fase - murmuro, impaciente.
- Me ajude, por favor, a mamãe não quer aceitar meu namoro.
- Prometo que vou conversar com ela depois.
- Então, eu não estou pronta?
- Isso. Você entendeu direitinho.
- Tenho que terminar meu namoro?
- Não há necessidade. Traga-o para conhecer a família Blanchard, assim como ele fez com você, não é mesmo?
- É. Obrigada, irmão - ela salta da mesa e me abraça.
- Hum. Obedeça os nossos pais, Mary, eles são um bem precioso de Deus.
- Eu sei.
- Se precisar falar comigo, pegue o telefone e me ligue.
- Pode deixar - ela me solta. - Eu te amo. Você é o melhor irmão dom mundo.
Sorrio. Isso faz com que minha tarde fique ainda melhor.
- Também te amo, linda. Se cuide.

O TRÂNSITO ESTÁ PÉSSIMO, não aguento esse engarrafamento insuportável. Todo dia é a mesma coisa. Rio de Janeiro é foda. Coloco uma música da banda Nickelback chamada Rockstar para tentar relaxar. O celular toca e a música continua, mas com o volume baixo.
- Leonel, boa noite.
- Doutor, está tudo pronto na Casa de Praia. Esperamos pelo senhor.
- Certo, obrigado.
- De nada, doutor.
Estaciono o carro na garagem do apartamento da Sra. Montevidéu. A noite está agitada na grande Rio, muita festa está rolando por aí. Antes de ir para a Casa de Praia, quero ter um momento delicioso com a Esther. Ela vai adora tudo que preparei hoje, apesar das nossas brigas banais de manhã cedo.

Minha estúpida obsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora