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Toco a campainha três vezes. Taylison abre a porta e me olha, impassível. Está com raiva de mim, Taylison Winkler? Sinto muito. Ele parece que vai me amarrotar aqui mesmo, na porta. Cerro as mandíbulas e respiro.
- Sua irmã está?
- Está tomando banho, Leonel - diz, num tom sarcástico. - Entre.
- Dá licença.
Entro. O clima por aqui está tenso, é óbvio que Taylison não gosta de mim, com certeza o tal de Érodys vai me odiar também.
- Sente-se - ele me conduz para o sofá da sala. - Peço desculpas por ontem.
- Reconheceu que agiu mal?
- É.
- Você tem que saber dialogar, Taylison. Creio que está ciente disso.
- Sim.
- Não deveria ter falado da minha pessoa daquela maneira.
- Eu sei.
- Eu gosto de disciplinas, Sr. Winkler. Vivi no meio disso quando decidi ser médico.
- Posso fazer um pergunta?
- Você já fez.
Ele passa a mão na cabeça e volta à posá-la sobre a coxa.
- Segunda pergunta: Por que você não sai com uma mulher da sua idade, hein?
- Porque é a Esther que eu quero - falo rápido.
- Você sabe que a faculdade não permite esse tipo de coisa.
- Há muito tempo sei disso, Taylison.
- E então?
- E então o quê? - franzo a testa sem entender.
- Por que sai com a Esther?
- Eu já disse.
- Olha, o seu casinho com ela não vai durar.
- Quem sabe? Você não prevê o futuro - repreendo-o.
- Tem toda a razão, Dr. Blanchard.
Levo o tornozelo ao joelho, e olho para ele com cautela. Taylison parece agitado com algo, liga a tela do celular duas vezes e passa a mão nos lábios.
- Tem algum compromisso?
- Tenho.
- E por que não vai a esse compromisso?
- Porque eu não vou deixar você sozinho com a minha irmã.
Solto um gargalhada em sua frente. Ele fica surpreso com a minha reação. Essa é boa.
- O que tinha de acontecer já aconteceu, Taylison.
- Meu Deus, ela deveria ter feito isso depois do casamento - murmura para si.
- Então você vai fazer depois do casamento? - digo ironicamente. Ele me olha, irritado até.
- Você acha que é o dono de tudo, não é, Leonel?
- Nunca pensei assim. Eu só sei que sou dono dos meus negócios e que eu não dependo de ninguém para sustentar meus mantimentos.
- O que quer dizer com isso?
- Nada. Você levou à mal, eu não.
- Você é um cara muito esperto - comenta.
Esperto é o meu apelido. Engraçadinho.
- Quer beber alguma coisa?
- Quero, obrigado.
- Me acompanhe até a cozinha.
Levanto cautelosamente do sofá e sigo-o até a cozinha. Atravessamos o centro do apartamento. Ele abre a grande porta de vidro, que esclarece todas as partes da cozinha à fora. Enquanto ele abre a geladeira, sento em um dos bancos alto do balcão e poso os cotovelos na barra de madeira lisa com desenhos de mármores brancas. São lindas.
- Rio de Janeiro está muito agitado - comenta, enquanto abre a tampa da garrafa de vinho. - Gosta de vinho branco?
- É o meu preferido.
- Sirva-se.
Pego a garrafa e derramo o vinho na taça fina com bocas de argola. Taylison também faz o mesmo movimento com a garrafa.
- Como está indo o trabalho, doutor?
- Muito bom. E o seu?
- Bom - ele senta à minha frente.
- Está namorando a Srta. Winger?
- Estou. Vim para o Rio a fim de vê-la. Me arrependi de não ter avisado a Esther. Odiei pegar vocês dois transando.
- Isso acontece. Relexe, acabou. Eu também odiei quando você chegou àquela hora. Deveria bater na porta.
- Se você ouvisse sua irmã gemendo, com certeza entraria para ver o que está acontecendo.
- É, eu faria isso.
- Você gosta dela?
- Gosto.
Ele me olha, imperscrutável. Com esse olhar ele não vai saber nada sobre mim. Eu sinto que ele quer descobrir coisas da minha vida.
- O quê? - digo.
- Você é um cara cheio de mistérios, eu sinto.
Viu? Ele quer saber coisas que eu não aprovo. Dou um leve sorriso, mas sardônico.
- E eu sinto que você quer saber coisas que eu não aprovo - balbucio.
- Diga a verdade, doutorzinho.
Não me chame de doutorzinho, babaca! Odeio essa palavra.
- Dizer o quê?
- Você não está saindo só com a minha irmã. O que você vai querer com uma menina igual a Esther? Todo mundo sabe que você é muito velho para ela.
- Eu quero uma coisa séria agora, e acho que a idade não tem nada a ver. Você é três anos mais velho que Yany, minha aluna.
Ele suspira. Está impaciente comigo, e eu com ele. Detesto inquisições de pessoas intimoratas.

Minha estúpida obsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora