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Ela está de conversinha com um sujeito que eu não gosto. Paro a explicação e fito os dois.
- Srta. Winkler, por favor - digo em voz alta.
Ela se assusta e o rapaz me olha com ironia. Ele é do grupo dela... Então vou fazer o possível para retirá-lo. Isso! Quem manda é você.
- Desculpe, professor - diz ele, rindo. De quê? Meus olhos ardem de raiva.
- Está rindo de quê?
- De nada - ele dá de ombro e faz beicinho.
- Está tirando sarro de mim, moleque?
Aproximo. Esther vira a cara de lado para não me encarar. A atenção dos outros voltam para a mesa do grupo de Esther. Oliver vem em minha direção.
- Pegue leve, Leonel, o rapaz não fez porque quis.
- Claro que fez porque quis - altero a voz.
- Por favor, Leonel - rosna Oliver sem paciência.
Ignoro-o.
- Você acha que já é doutor para tirar sarro da cara de um professor? Para mim, você ainda não é nada, seu frangalho - digo amargamente. Ele olha para o chão e leva a mão na cabeça, derrotado.
- Isso é pra doer, moleque. Dá próximo vez, eu vou ter o prazer de humilhar você na frente da sua turma - ameaço.
- Leonel, chega. Os alunos estão ouvindo.
- Pouco me importa.
Jogo um olhar pétrio para Esther com a expressão e zangada.
- Isso serve para você também, Srta. Winkler, eu não vou ter piedade de nenhum aluno, muito menos de você.
Observo sua reação e uma lágrima cai sobre seu rosto. Droga! Não é para você chorar, porra. Pare, pare já!
- Olhe o que você está fazendo - murmura Oliver, impaciente. - Não precisa disso, se acalme.
- Deixa ele, doutor - diz ela, chorando. - O que mais vai fazer comigo, Dr. Blanchard?
Emudeço, afligindo o arrependimento dentro de mim. O rapaz a consola, colocando a mão em sua cintura.
- Tire as mãos dela - aviso.
- Olhe até onde sua arrogância chegou por uma coisa fútil. O senhor está ofendendo ela, doutor.
- Tire as mãos dela - repito, possesso. Oliver perceber que vou atacar e tira o rapaz de perto da Esther bem depressa.
- Pronto, agora vamos voltar - ele me puxa pelo braço.
- Me solte - digo.
- Está com ciúmes? - murmura ele.
Rio.
- Ciúmes? Isso é ridículo.
- Então por que reagiu assim?
- Porque eu odeio que brinquem comigo.
Você está brincando com uma garota.

Depois que a aula termina, todos se reúnem envolta de Esther, me deixando introgado. O que eles estão fazendo? Até os professores de outras disciplinas estão aqui, no centro do corredor da Faculdade de Medicina. Não estou entendendo nada. Nem eu.
Alguns começam a abraçá-la e outros cantam parabéns. Parabéns? É anivesário dela e eu nem sabia! Droga! Ah, Esther, por que não me contou? De repente, vem a recordação do telefonema que recebi dela às cinco da manhã. "Hoje é um dia especial para mim, você sabe". Era isso. "Eu adoraria passar o dia com você, se você não se importar". Ah, céus! O que eu faço agora? Levo a mão na cabeça, exasperado comigo mesmo.
- Viva a Esther! - grita a multidão.
- Viva!
Como eu fui esquecer? Como? Para piorar, fiz ela chorar com a minha arrogância na frente de todo mundo. Kaleb Reymond - um dos melhores professores da Faculdade de Medicina -, vem na direção dela e a pega pelo braço. O rapaz é bastante jovem e muito bem-sucedido, tem uma fama e tanto em São Paulo e na USP.
Esther e ele são íntimos - ele a aperta nos braços e beija o cabelo dela três vezes. Em seguida, dá o último beijo bem no meio de sua testa. Todos estão aplaudindo a ceninha regurgitante dos dois e eu fico que nem um idiota no canto.
Não encoste no que é meu, Kaleb. Eu vou matar você, imbecil. Fora!

Minha estúpida obsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora