Capítulo 14

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Chegamos em casa exaustos por causa do trânsito no Rio de Janeiro. São duas horas da tarde de domingo do dia 15 de agosto de 2010. Os minutos estão contados para eu nunca mais ser feliz, porque a felicidade está aqui e eu a mandarei embora. Não mereço tudo isso.
- Vou tomar um banho - diz ela toda feliz. Coitada.
- E eu vou revisar algumas coisas no escritório.
Ela me dá um beijo reverentemente e sai. Ah, Esther, você é tudo que um homem precisa. Por que diabos foi se apaixonar por mim? Eu não mereço você, em hipótese alguma. Você é um anjo e eu sou um demônio.
Abro a porta do escritório e entro, suspirando fundo. Ande, Leo, tenha coragem. Que tipo de homem eu sou, Deus?
Estico as pernas na cadeira da mesa de vidro e ligo o computador. Há duas mensagens na caixa de email.

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De: Annie Montevidéu
Assunto: Venda
Data: 15/08/2010 09:45 AM
Para: Leonel Blanchard

O que me pediu está feito, espero que não se arrependa. Vendi o apartamento da garota. Ela tem dois dias para sair.

Pacros Montevidéu, 95 (RJ).
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Levo as mãos na cabeça e leio outro email.

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Blanchard York
→Shoppingcenter
De: Membros da Blanchard
Assunto: Novidades
Data: 13/08/2010 16:00 PM
Para: Leonel Blanchard

Olá, doutor, tudo bem? Esperamos que sim. Temos tendências na empresa Blanchard York. Como um dos donos, gostaríamos que o senhor viesse fazer uma visita ao shoppingcenter. Agradecemos a atenção.

Atenciosamente a direção da empresa.
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Nossa, eu não havia percebido esse email. Pego o celular e disco o número da minha assistente da clínica. Ela é quem resolve todos os meus planos de voos para fora do Brasil.
- Pâmela, boa tarde - ela fala profissionalmente.
- Boa tarde. Atrapalho, Pâmela?
- Ah, não, senhor, imagine.
- Quero que marque um voo para Porto Alegre, às cinco horas da manhã.
- Para quando, doutor?
- Amanhã mesmo.
- Em que classe?
- Primeira. Ainda não conhece os meus gostos?
- Ah, sim, me desculpe.
- Não se desculpe. - Poso os cotovelos sobre a mesa.
- É para o senhor?
- Não. É uma garota que vai viajar, chama-se Esther Winkler Marihá. Passarei os dados dela para você por email.
- Ok. Ela é menor de idade?
- Não. Tem dezoito anos.
- Vai sozinha?
- Sim.
- Pode enviar os dados, doutor.
- Tudo bem, obrigado.
- De nada.
Desligo o celular com um nó na garganta. Vai ter que ser assim. Será que o diretor da faculdade já a transferiu? Resolvo mandar um email para ele.

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De: Leonel Blanchard
Assunto: Transferência
Data: 15/08/2010 14:59 PM
Para: Eduardo Oakley

Caro Eduardo, quero notícias da transferência da Srta. Winkler para outra faculdade ainda hoje.

→Bairro Leblon. C. 342, sentido oeste (RJ).
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Minutos depois, meu celular toca de novo. É Eduardo.
- Leonel?
- Ele mesmo.
- Fiz a transferência sexta-feira. Ela não está mais na Faculdade de Medicina.
Respiro. Pronto. Fiz o que fiz.
- Ótimo. Obrigado, Eduardo.
- Tem certeza do que está fazendo? Ela é uma boa aluna.
- Tenho.
- Hum. Bom, minha parte já está feita, agora falta a sua.
- Pagarei você amanhã. Combinado?
- Combinado.
Desligo. É errado o que estou fazendo, meu Deus. Levo as mãos na nuca, abaixo a cabeça e encaro o vidro da mesa. Minha Marihá, minha pequena Marihá, você é um anjo que se perdeu no meu caminho. Não quero estragar sua vida, meu bem. Quero que você vá além, longe desse homem cruel que me tornei. Eu não mereço você, Esther.
Minhas mãos vão ficando gélidas à medida que a preocupação e o arrependimento me vem à cabeça. Agora não posso retroceder. É para o bem dela e do seu futuro.

ELA ESTÁ DEITADA no chão, fazendo abdominais. Que isso? Rio quando me deparo com a cena. Vou sentir falta dessas gracinhas também. Ela me olha e levanta do chão.
- O que você estava fazendo, hein? - digo, bem-humorado.
- Queimando calorias.
Caio na gargalhada, Esther me acompanha também. Abraço ela com muito carinho, muito mesmo. Até eu não me reconheço assim, se ela fosse minha esposa, eu a trataria com todo cuidado do mundo. Ficamos em silêncio por um tempo.
- O que foi? - pergunta, preocupada.
- Nada.
- Já está melhor?
- Estou. Muito melhor. Você me deixa feliz, Esther - sussurro. Ela sorri e me solta, pegando minhas mãos.
- Que bom.
Puxo-a para os meus braços e a beijo com vontade, na boca. Forço seu corpo no meu. Ela me envolve em seus braços, revidando a minha língua violenta. Seus dedos deslizam por entre os botões da minha camisa branca, buscando-me desesperadamente. Meu corpo reage. Ela me quer, merda. E agora? Não posso mais, não posso. Solto-a rapidamente.
- Não!
- O quê?
Seus olhos arregalam e sua testa franze num v.
- Não, Esther.
- Por quê?
- Porque já não dá mais.
Eu não posso enganar ela. Deus, perdoe-me! Ela tenta me agarrar de novo, mas evito, segurando suas mãos.
- Me solte! Eu quero você, Leonel.
- Não! - quase grito.
Ela pula em cima de mim e me beija agressivamente, passando por cima das minhas ordens. O que deu nela, Senhor? Você ascendeu a garota. Caio na cama, desaprumado. Ela me quer sem pensar, sem juízo, sem ter medo de que eu posso perder a cabeça.
- Esther, precisamos...
- Não, tire as roupas nem vamos conversar.
Nossa! Eu não aguento resistir. Ela me quer mesmo. O que está acontecendo com essa garota, meu Deus do céu?

Minha estúpida obsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora