Capítulo 04

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- Não ouse ameaçar ninguém da minha família Dimitry, ou será um homem morto! - ele grita.

- Creio que já viveram muito! - solto uma gargalhada.

- Seu... Seu monstro! - ele diz com certo desprezo.

- Achei que estivesse tentando me ajudar Senhor Francisco Tompson! - digo ironizando.

- E estou! Mas algo me diz que esta é uma batalha perdida! - seu olhar se torna triste, reviro os olhos.

- Não se preocupe! Não vou espalhar que fracassou tentando recuperar um paciente, aliás não quero destruir sua carreira - ele ri.

- Nenhum profissional recuperaria sua sanidade, se é que existe sanidade em sua mente. - ele se coloca de pé - Creio que podemos deixar sua consulta para outro dia, peça para sua secretária agendar e saia da minha casa! - ele aponta para a porta.

Levanto às mãos em gesto de rendição e caminho até a porta.

- Tem filhas? - pergunto.

- Suma. Da. Minha. Casa. Agora! - ele cospe as palavras e dou de ombros.

- Não devem ser tão bonitas mesmo! - caminho em direção a saída e sei que não adiantou muito a visita, "ajuda? Não preciso de ajuda!"

Continuo quase sucumbindo a vontade de cometer um pecado que não seria maior ou menor, pois já estou condenado a viver eternamente no grande sofrimento pelas coisas que fiz e sinceramente não faz diferença.

Me dirijo novamente para meu carro e procuro me lembrar de algumas coisas que são importantes para mim, consigo apenas me lembrar de uma coisa.

Satisfazer meus desejos, nada mais me fascina tanto quanto satisfação.

Retorno para o hotel e decido descansar o restante da tarde, mas algo não está do jeito que quero e saio constantemente do quarto e retorno durante algumas horas, sigo fazendo esse processo durante intermináveis instantes e em nenhum momento paro com a inquietação.

Depois de uma tarde conturbada noto que flashes de lembranças extremamente ruins estão pairando sobre minha cabeça e sinto uma dor descomunal na mesma.

Deixo os flashes invadirem minha mente e a raiva transbordar no meu consciente, acabo tendo um ataque de fúria e quebro a mesa de vidro da cozinha, soco as paredes de modo de raivoso e descontrolado e meus gritos furiosos tomam conta do apartamento.

Após longos minutos tomado pela raiva me ajoelho no chão ao lado dos inúmeros cacos que sobraram da mesa, me debruço sobre meus joelhos e sinto uma dor cortante e aguda pela minha mão, pelos meus dedos e pulsos.

Fico durante alguns minutos assim e sinto todos os flashes desaparecendo da minha cabeça, sei exatamente que tenho a capacidade de afastar as pessoas o suficiente para elas confundirem meu estado emocional e acabarem me julgando como um psicopata frio e calculista.

Sei no fundo do peito que na verdade sou mais que isso, sou uma amostra grátis de toda a maldade espalhada pelo mundo, de toda a angústia e sofrimento reprimido que  foi transformado em força e controle.

Acredito fielmente na minha sanidade mental, mesmo quando todos dizem que, na verdade, sou desequilibrado e emocionalmente instável.

Absorvo todo o ar que consigo e me coloco de pé, caminho até o banheiro e deixo pequenas gotas de sangue pelo caminho, sangue esse que escorre das minhas mãos esfoladas.

Abro a torneira e lavo todo o sangue, o simples fato de estar lavando as mãos causa um formigamento e pequenas picadas como se fossem agulhas sendo inseridas pelos ferimentos.

Pego a toalha branca e seco o sangue, depois enrolo faixas em minhas mãos e pulsos. Limpo a pia repleta de sangue e torço bem a toalha branca, que agora se confunde com a cor carmesim.

Refaço meu caminho para a sala, me abaixando limpando os rastros e gotas de sangue que deixei para trás, suspiro. "Uma droga ter que limpar toda essa bagunça!" Mas é necessário, pois não quero uma empregada do hotel questionando e nem mesmo quero ver uma mulher hoje, pelo menos não depois dos flashes que invadiram minha memória.

Olho para a parede que ficam ao lado do balcão e vejo grandes marcas de sangue, meu punho ficou perfeitamente desenhado na parede de forma que tudo que consigo imaginar é o trabalho que terei para limpar essa parede.

Começo a esfregar a parede e depois de meia hora deixo a parede aparentemente branca novamente "Amanhã providenciarei um spray branco para deixar a parede branca e uniforme novamente".

Caminho até a pia da cozinha e  tiro todo o sangue da toalha, torço o pano e sinto toda a faixa ensopada novamente e minhas mãos doem com cada torcida, faço algumas caretas, mas é o menos preocupante.

Atravesso novamente o piso repleto de vidros e piso com cuidado para evitar cortar meu pé também, passo o pano no local onde estava abaixado e retiro o sangue que se empoçou no chão.

Deixo o pano no balcão e alcanço um rodo no banheiro, junto todos os cacos perto do balcão e volto ao banheiro, deixo o rodo e pego a lixeira com uma pá que achei que jamais usaria, mas vejam só! Aqui Estamos!

Junto todos os cacos e deposito na lixeira, finalmente termino de limpar o lugar. Recolho a bagunça e passo a toalha no chão onde possivelmente pode ter sobrado resquícios de vidro. Melhor previnir do que remediar.

Com todo o lugar limpo e organizado decido pedir pelo serviço de quarto, afinal a louça não irá se lavar sozinha e minhas mãos estão pinicando.

- Poderiam mandar o serviço de quarto... Quinto andar, número 22. - digo.

- O que gostaria de pedir senhor? - ouço uma voz feminina me responder no interfone.

- Macarrão penne, carpaccio, e de sobremesa tiramisù.

- Daqui meia hora o serviço de quarto levará. - solto o botão do interfone e caminho para o quarto para trocar as faixas vermelhas e úmidas.

Retiro e torço elas, coloco atrás da porta e pego novas faixas dentro da última gaveta da pia do banheiro, enfaixo novamente as mãos e pego o laptop sobre a escrivaninha, caminho até a sala e me sento no sofá, "Hora de trabalhar!"

Abro minha caixa de mensagens e encontro duas mensagens de Lys.

De: Lys Barnes
Para: Dimitry Richards

Senhor Richards, agendei a reunião às três da tarde na terça-feira. Mandei mensagem para todos os representantes da empresa e pedi para o sócio majoritário convocar uma reunião com todos nesse mesmo dia e horário, creio que agora depende exclusivamente da disponibilidade dos sócios.

Mais notícias em breve.

(Companhia H. RICHARDS, Secretária do CEO D. Richards)

Leio atentamente a mensagem dela e me sinto ansioso e satisfeito com as notícias.

Abominável - A lei da AtraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora