Capítulo 83

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Depois que saio da radioterapia pego uma blusa no varal e sigo para o carro, conecto-me pelo GPS e sigo para uma farmácia, compro pílula do dia seguinte e volto para casa, não me sinto muito bem, deixo o remédio em meu bolso, na primeira oportunidade entregarei a Vitória .  Entro e subo as escadas com dificuldades para ir para o quarto.

Quando a abro a porta dou de cara com Melany que iria fazer a mesma coisa que eu. Ela toma compostura.

- Pronto senhor...- abro espaço para ela passar.

- Obrigado. - ela olha para mim e sorri.

- Será que posso dizer uma coisa ao senhor? - Assinto. - O senhor é muito bonito. - sorrio.

- Você também Melany... - ela pisca várias vezes.

- Como...

- Dona Clarice me disse seu nome. - ela cora - Pode me chamar de Dimitry, não precisa da formalidade. - ela assente e desce.

O fato da aparência dela ser diferente não muda o fato do jeito ser parecido e isso me incomoda. Mesma timidez, mesma submissão, mesmas características, o que muda é a cor do cabelo e dos olhos, até mesmo a voz é parecida. Sinto um calafrio, me lembro que no dia da morte de Melany acabei saindo da casa em que estávamos e fui para outro lugar. Mas me lembro de vê-la desacordada, mas sua morte não era possível para mim até velarmos ela, apesar do caixão fechado. Até mesmo acreditaria em reencarnação se ela não falasse português. Fecho a porta do quarto e me deito, estou cansado e sinto vontade ficar para sempre na cama.

Ouço meu celular tocar e alcanço no criado mudo. Antes que atenda a ligação cai. Olho o número no visor, cinco ligações perdidas da velha. Antes que eu exclua as ligações o celular toca novamente. Atendo.

- Alô?

- Finalmente, não faça mais isso! Pelo amor de Deus, como está? E o tratamento? Meu filho quer matar sua mãe do coração!? - sua voz está trêmula.

- Estou Bem, não se preocupe! Estou cansado só , mas isso é culpa das radioterapias.

- Doutor Gordon está vindo ao Brasil, ele quer te examinar...

- Ok, era só isso?

- Como esta Vitória?

- Bem!

- Mande um beijo para ela.

- Entregue, tchau! - desligo.

Ligo para Lys.

- Companhia Richards.

- Marque uma conferência online para amanhã, peça para alguém vir de carro e trazer meu laptop daí da empresa.

- Senhor Richards. Claro. Como está?

- Melhor impossível! Não se preocupe.

- Vou pedir para levarem, logo para o senhor assim que chegarem aí e marcarei a conferência para às cinco e meia.

- Ok! Obrigado. Lys...

- Sim senhor?

- Pode investigar para mim a ficha de óbito de uma pessoa?

- Claro!

- O nome dela é Melany Clarkson.

- Vou averiguar senhor. Americana?

- Descendente, porém é francesa. Se possível entre em contato com o melhor detetive europeu, quero todos os dados deste óbito.

- Ok senhor.

- Procure também nas câmeras de segurança internacionais alguém parecido com a pessoa que estou pedindo para averiguar.

- O que quer dizer?

- Apenas faça isso. Se encontrar algo me avise assim que possível.

- Sim senhor.

- Obrigado, até mais.

Sei que parece loucura, mas tem algo que me chama atenção na garota, é como uma sensação de dejavú. É como se eu pudesse voltar no passado e ver Melany Clarkson aceitando o trágico pedido de casamento. Época essa que achei que seria feliz.

A porta se escancara e franzo o cenho olhando para Vitória.

- Está tudo bem?

- Sim! - ela parece zangada.

- Tem certeza? - ela me olha por um instante e caminha para a cama, se senta e levanta novamente fechando a porta.

- Sabe o que eu acho engraçado? A menina se molhou todinha de repente, e você pede para ela vestir uma roupa minha e ainda se oferece para subir com ela, às vezes tenho a imp...

- Para Vitória! Por acaso esta com ciúmes? - ela volta a se sentar na cama e me encara.

- Não! - suspiro.

- Fique tranquila, não tive nenhuma intenção com ela. - Vitória abaixa a cabeça e se entristece - Trouxe a pílula. - estendo a mão e ela pega.

- Eu aceito! - pisco várias vezes.

- O que disse?

- Eu aceito seu pedido, mas não quero que ninguém saiba ainda. - me aproximo e me sento na ponta da cama do lado dela.

- Tem certeza? Eu não quero te forçar a nada. - ela segura minha mão.

- Quero te pedir outra coisa também... - olho nos olhos dela.

- Qualquer coisa.

- Não tenha medo de me contar sobre o que passou, eu... - ela parece querer voltar atrás.

- Fala.

- Eu sei que o que passou foi difícil e foi quando era criança, mas não tenha medo de me contar por que eu ... - ela engole seco e abaixa a cabeça.

- Vitória...

- Eu te amo. - sou pego de surpresa e é como se recebesse um choque elétrico.

- Você disse o quê? - Seguro o rosto dela e obrigo ela a olhar para mim.

- Eu amo você... Mas sei que não se sente assim, por isso não quero que  ninguém saiba. Quero tentar te consertar primeiro. - sorrio para ela e dou um beijo em sua testa, em seguida junto nossas testas e seguro suas mãos.

- Só não foge depois disso, tá bom? - Me sinto no céu, apesar de tudo é como se eu tivesse encontrado o pote de ouro, não sei dizer o por quê, mas de todas as coisas que ouvi, de todos os eu te amo.

Esse é o que mais me fez feliz. Não sei dizer ao certo se me sinto como ela, mas realmente não quero perdê-la. Não vou perdê-la.

"Eu não teria tanta certeza!"

Ouço a voz da vadia e olho para trás em direção ao banheiro rapidamente.

- Dimitry? - Vitória segura meu rosto e me obriga a olhar para ela - Está tudo bem. - nego e decido tentar começar.

- Não está. Se aceitou precisa começar a saber um pouco sobre mim, o verdadeiro eu. - ela assente. - Primeiro quero que saiba o que eu vejo, posso desenhar ela se quiser... - Vitória me olha confusa.

- Você vê alguém? Uma pessoa de verdade? - Assinto.

- Ela é fruto da minha imaginação, creio.

- Você tem esquizofrenia Dimitry? - dou de ombros.

- Não sei. Realmente não consigo nem mesmo definir as coisas que sinto, mas você é capaz de para-las. Bem... - engulo seco. "Ela vai fugir! Ela vai te abandonar! Você vai ficar sozinho comigo para sempre de novo! Para sempre Dimitry!" Minha cabeça dói e fecho os olhos levanto as mãos na cabeça e abaixando-me na cama.

- Dimitry! Tudo bem, não força... - Vitória me abraça. - Tudo bem, eu não vou te forçar, jamais.

Abominável - A lei da AtraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora