Não entendo o porquê de estar fazendo isso, o porquê de ter que fingir algo que não sou e acabo sempre deixando que uma palavra ou um gesto saia de forma inusitada ou previsível demais e isso acaba deixando minha máscara cair.
Vitória não se deixou abalar por minha resposta e isso me deixa estranhamente tranquilo e nervoso ao mesmo tempo, pois não é essa segurança que quero que ela sinta quando falar comigo, mas preciso dessa segurança para ter ela comigo.
- Por que acha que entra em minhas prioridades? - a pergunta dela me faz rir, aliás é transparente seu interesse por mim.
- Sabe que não pode esconder a verdade de mim, certo?
Vejo ela se contorcer na cadeira, mas retomar seu olhar de confiança rapidamente.
- Não me conhece tão bem assim Dimitry! Aliás não me conhece nada... - ela parece expressar um sentimento um tanto perigoso que acabo desconhecendo, porque não é como se eu vislumbra-se esse olhar todos os dias.
Observo atentamente cada movimento dela e depois de alguns minutos sua posição vacila, só então entendo que tudo não era um pequeno teatro para tentar me convencer de sua força, que aliás tem se mostrado extremamente escassa.
É como se brincar com os sentimentos de alguém pudesse me manter vivo e estranhamente mais aliviado, como se tirar a força e a auto confiança dela fosse algo maravilhoso que deixasse tudo em paz por alguns instantes,que não são tão duradouros quando ela simplesmente não quer deixar que eu veja, a fundo, seu coração.
- Odeio te contrariar Vitória... - dou um sorriso irônico - ...mas acho que não tem como esconder os sentimentos de uma pessoa que vive e se alimenta da negatividade em torno, certo? - vejo ela engolir seco e me deparo com uma incógnita, porém não é ela está incógnita, pois sei ler seus movimentos e eles dizem que ela está se sentindo desconfortável, o que não é surpresa.
A incógnita sou eu! Por incrível que pareça tem algo que não consigo descrever exatamente, é como se parte de mim estivesse a ponto de deixar um fio solto e descascado encostar com um liquido que nós chamamos gasolina e todo o ar, todo o chão, todos a volta fossem queimar em um fogo delicioso, porém tão sofrido que meu peito esteja pedindo para não ser tão cruel.
- Ainda acho que não me conhece bem, alias só pode saber o que sinto quando estou diante de você, mas não pode ler os pensamentos de uma pessoa baseado com os movimentos que estou passando, a menos que já tenha tido experiências como as minhas, o que na verdade, dúvido muito! Estou certa? - a pergunta dela se fez tão confusa que acho que meu rosto está em um imenso ponto de interrogação.
- Arrêter les questions! - Karoline começa a bater os dedos compulsivamente sobre a mesa - Vejam só! O garçom já chegou! - ela sorri e o garçom se aproxima com nossos pratos de comida.
***
Observo atentamente as expressões faciais de Vitória enquanto retornamos para casa e sei que têm algo errado, sei também que o fato de Karoline ter me mandado atrás dela não melhorou a situação, e que ela deve estar se sentindo uma idiota, nutrindo uma certa raiva de mim, e assumo que não levo jeito como bom moço nessa história toda, porém tem sido bem difícil manter tudo em ordem quando toda a minha vida tem sido uma desordem.
Chegamos no apartamento rapidamente e Vitória segue direto para seu abrigo, ou seja, meu quarto de hóspedes que agora serve como um refúgio para uma garota quase da minha idade com uma vida fracassada que é literalmente sustentada pelos pais e nunca sofreu ou passou por dificuldades.
Às vezes começo a me irritar com o fato de uns aguentarem tanto peso e outros nem sequer saberem o que é realmente um fardo pesado, desejo que os pais dela estivessem mortos e ela tivesse que passar por tudo que as crianças daquele maldito galpão passaram.
Pisco várias vezes seguidas quando me dou conta que Karoline está parada a minha frente e me olha com preocupação, dirijo meu olhar para ela e ignoro meus pensamentos mórbidos e carregados de dor alheia que nem sabia que poderia um dia chegar a sentir e saber que no fundo sou humano.
- Está tudo bem? - Karoline me pergunta e leva a mão ao meu rosto, sinto que estou um pouco descontrolado, mas sei que isso vai passar logo, alias hoje a noite será uma criança com a presença dela aqui.
- Claro, melhor impossível! - ela assente.
- Ótimo! então vai atrás dela e se desculpe pelo fiasco de almoço! - dou uma gargalhada e vejo que Karoline está um pouco irritada.
- Quem pensa que sou? O bom velhinho? Me poupe Karoline! Não vou pedir desculpas a ela! Estou cansado de tentar fazer o bom moço, pelo menos por hoje já cumpri com minha cota de santo! - Vejo ela revirando os olhos e sou obrigado a sair a passos lentos com as muletas, sei que devo me esforçar já que quero uma aventura a mais, porém minha adrenalina está bem alta até aqui e muito bem alimentada e em troca ainda não ganhei uma estrelinha de bom comportamento por não ter deixado a tal "adrenalina" falar mais alto.
Chego ao quarto e alcanço meu celular no bolso, procuro na agenda telefônica o número de Lys e quando encontro coloco chamar e não demora muito para ela me atender, antes de dizer algo fito Karoline parada a porta com uma carranca.
- Lys preciso que me informe quando chegar o jornal de notícias de amanhã! É algo de extrema importância!
- Sim senhor!
- Aguardo seu parecer e peço que me envie por Ney!
- Ok! Assim que chegar te mando!
- Tenha um bom dia, qualquer coisa me contate e vou a empresa!
- Igualmente senhor! - desligo e vejo que Karoline está com o cenho franzido, faço sinal para ela fechar a porta e tiro minha camiseta, em seguida ela se senta ao meu lado e começo a abrir meu zíper.
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Abominável - A lei da Atração
RomanceTantas pessoas no mundo e sempre caímos na labia do lobo mal... "Existe uma pequena linha tênue entre o ódio e o amor!" "Existem pessoas que diriam que sou louco, mas prefiro acreditar na teoria de que sou apenas um excêntrico rico em busca de uma n...