Capítulo 34

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Acabo de colocar o último par de roupas que levarei para meu novo cantinho, o segundo passo é arrumar um emprego já que não cuido mais de tentar ajudar Dimitry, acredito que ele não queira mais minha presença na casa dele e respeito isso, aliás causei bastante dor de cabeça.

Preciso arrumar alguém que saiba onde encontrar um bom apartamento e com bom preço, pois irei pagar por ele com meu dinheiro, ou seja, não posso sair de casa sem que esteja empregada.

Decido preparar um currículo e agradeço aos céus por ter vários cursos de secretariado e administração contábil, agradeço mais ainda por ser ótima com cálculos.

Uma pena ter passado o cargo de assistente de secretaria para frente, aliás, estaria trabalhando agora e ganhando um bom salário, porém não acredito que Dimitry manteria meu emprego depois de toda confusão que causei na vida dele.

Começo a preparar meu currículo no computador e não demora muito, ele está pronto, imprimo e desço apressada, ouço vozes vindo da cozinha e decido ir lá, pois estou faminta e não vou ficar me escondendo feito uma criança.

Chego na cozinha e encontro mamãe preparando panquecas, dou um abraço nela por trás e ela retribui apertando meus braços.

- Bom dia querida!

- Bom dia mamãe. - me afasto e pego um prato com duas panquecas prontas.

- Este prato está sendo usado para colocar as panquecas prontas, poderia devolver? - ao invés de colocar o prato novamente no lugar, vou até a prateleira e pego um limpo, pois pretendo sair antes do café ser servido.

- Obrigada.

- Por nada mamãe... Diga ao papai que ele pode ficar tranquilo, mas que irei arrumar um lugar para morar... - mamãe me encara por alguns segundos e abre a boca para falar, mas fecha novamente e assente.

Se tem uma coisa que amo nela é a confiança que deposita em mim e creio que seja por conta dessa confiança que consigo tantas coisas boas em minha vida.

Termino minhas panquecas e me levanto, deposito um beijo em sua testa e saio a passos largos, pois não quero ser obrigada a ver ou discutir com papai novamente, isso tem se tornado cansativo e chato.

Respiro fundo e coloco um sorriso no rosto, isso terá que funcionar e não vou ser a mal humorada,  aliás sou melhor que isso certo?

Saio e me lembro que esqueci a carteira de habilitação, suspiro e retorno correndo, subo as escadas apressada e vejo papai no topo delas, me arrependo no segundo seguinte por ter voltado.

- Bom dia papai! - exclamo sem ânimo.

- Por que razão não atendeu o celular ontem? E  por que está agindo com imprudência? - franzo o cenho.

- Não quero discutir com o senhor, só acho que estou velha demais para continuar dependente do senhor... Infelizmente tive que ouvir umas verdades para me dar conta que não sou mais uma adolescente que precisa de permissão para tudo ou que tem que se manter dentro da casa dos pais para o resto da vida, eu cresci e quero ser tratada como tal! - ele me olha com orgulho e tristeza ao mesmo tempo.

- Achei que esse dia nunca chegaria... - as palavras dele saem com ternura e pisco várias vezes, pela primeira vez me dou conta que tudo que ele fazia, o modo que tratou sempre e cada palavra que me dirigiu foram para ver o quanto eu estava amadurecendo.

- Está sendo sincero? - ele revira os olhos.

- Na verdade fiquei um pouco surpreso e abalado pela sua recém descoberta e confesso ter amaldiçoado Dimitry, pois sei que foi ele que te disse essas coisas, sobre responsabilidade e desapego, mas sua mãe me convenceu de que era importante ver você querer seguir seus próprios passos e depois de refletir bastante eu cheguei a conclusão que esperei sempre mais de você! - os olhos dele estão marejados e me sinto orgulhosa de mim, apesar que deveria estar envergonhada por ser uma zé ninguém e sem perspectiva.

Subo o restante dos degraus e abraço papai, não porque estou saindo de casa e tomando uma decisão madura demais na visão dele, mas porque quero que ele confie em mim e não me julgue tanto.

- Vai ficar tudo bem e prometo parar de ser tão infantil e fazer as coisas com implicância com o senhor.

- E eu serei menos autoritário e ranzinza! - dou risada e me afasto dele.

- Isso é mal de velho papai! - ele me cutuca.

- Não é não, tem muitos novinhos que são insuportáveis. - paramos de rir.

- Vou pegar a minha carteira de motorista. - digo e sorrio.

Começo a caminhar em direção ao quarto e papai me para instantes depois.

- Filha! Eu abri algumas contas poupança para você e decidi que só te passaria o dinheiro caso tomasse a decisão de sair de casa e bem... Acho que este é o momento então... - "OK! decidi que não dependeria do dinheiro dele, mas vou pegar o dinheiro que ele guardou para mim e começar minha vida!"

- Podemos falar sobre isso mais tarde? - pergunto e ele assente.

Caminho para o quarto e recolho minha carteira de habilitação, pego um dinheiro que me sobrou de alguns trabalhos que fiz como babá e saio apressada, decidi que não irei de táxi e sim de a pé, aliás todo dinheiro que tenho é pouco e vou precisar dele para almoçar.

Caminho pelas ruas e vou deixando meu currículo em todos os espaços que encontro e ao final da manhã estou exausta e me sento no banco de uma lanchonete, qualquer um que me visse agora, diria que corri uma maratona.

Descanso um pouco e me levanto, caminho mais um pouco e entrego meu último currículo, aguardo respostas agora e torço para que tudo funcione.

Paro em um restaurante de comidas tradicionais e peço um prato caprichado, me delicio com cada garfada.

Próximo passo é conseguir um apartamento decente, escuto meu celular tocar e atendo.

- Oi, aqui é a mãe de Dimitry e quero te dar uma boa notícia! - levo um susto e demoro um pouco para responder.

- Oi, tu-tudo bem? - pergunto um pouco ansiosa " Boas notícias? Talvez eu já tenha um emprego!" Sinto uma satisfação tremenda, pois assim não vou precisar parar com meu TCC e também não irei precisar me preocupar com salário, a mãe de Dimitry é bem generosa.

- Dimitry me ligou essa manhã e fizemos um acordo, bem... Ele não sabe que é você, mas como já tenho uma confiança em você e por não ter desistido dele ainda, acredito que não seria tão bom assim procurar outra pessoa e como prometeu me ajudar...

- Claro! Sem problemas, estava mesmo atrás de um emprego. - digo animada.

- Ótimo! Que bom! Então ficamos combinadas, só não demore muito OK? Creio que ele não está muito bem... - a voz dela aparenta preocupação.

- Aconteceu alguma coisa?

- Bem... Ele acordou um pouco descontrolado e agrediu o gerente do hotel, digamos que ele está preso agora, e o pior, parece que a imprensa registrou tudo!

Abominável - A lei da AtraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora