Capítulo 32

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São onze e meia da noite e estou na delegacia, aparentemente a menininha do papai desapareceu e o primeiro suspeito é quem? Eu.

O velho Tompson está caminhando a vários minutos para lá e para cá e me pergunto quando irá abrir uma cratera no chão, causado pelo desgaste do piso.

- Sua filha não vai surgir abaixo dos seus pés. - digo rindo da situação.

- Ligue para ela! - ele ordena, dou de ombros.

- Me obrigue! - digo indiferente.

Por ser o último a ter sido visto com ela, sou o cara que mais tem chances de ter raptado ou matado a garota e o pior de tudo. Não foi eu.

"Ela vai me pagar de várias formas diferentes por esses momentos constrangedores e que acabam com minha imagem no Brasil!"

Infelizmente ainda possuo uma imagem para zelar e ela definitivamente está "cagando" nesta imagem.

Já dei depoimento sobre o que disse e vi da garota, todos os detalhes da última vez que me encontrei com ela, e de como ela reagiu ouvindo umas verdades.

Creio que eu esteja ficando contraditório, pois desejo me segurar e não xingar ela e no minuto seguinte estou tratando ela como uma estúpida, que na verdade é o que ela é!

Meu psiquiatra se aproxima de mim de forma estranha e acabo me espremendo contra a cadeira.

- Ligue. Para. Ela! - ele me fuzila com o olhar - a menos que você tenha mesmo feito algo para minha filha! Se encostou um dedo nela eu... - interrompo.

- Vai me matar! Já sei  - reviro os olhos - OK! Vou ligar! - digo preguiçosamente - Passa o número da maluca!

O pai dela me olha como se fosse me esguelar e só então me dou conta do que o olhar dele representa.

- Ó! O louco sou eu! - digo parecendo surpreso e ele suavisa a expressão.

Ouço atentamente ao número e coloco chamar. Ligo uma, duas, três e na quarta vez ela atende.

- Alô? - a voz dela é sonolenta.

- Onde se meteu, seu pai está me acusando de assassinato já! - digo friamente.

- Quem está falando? - ela pergunta "Sério? Quantas pessoas seriam acusadas de Assassinato caso ela sumisse?!"

- Dimitry Richards! - digo revirando os olhos.

- Por que me ligou? - "Ela é surda?"

- Porque estou em uma delegacia com seu pai dizendo que te matei! - vocifero, senhor Tompson toma meu celular - Ei! - digo enquanto ele leva o aparelho ao ouvido.

- Onde está? Por que não atende ao celular? Está bem? Alguém lhe machucou? - a cena me deixa entediado e cruzo os braços - Onde? Quer que lhe busque... Vai fazer o que... Espere... Não desligue... Por que não deu notícias... Filha! Filha! Filha! - ele encara o visor do celular e me entrega.

- Ela está bem, ótimo, vamos para casa! - pego as muletas e me coloco de pé.

- Ela está na casa do ex namorado! Disse que quer morar sozinha e vai procurar um apartamento! - ele parece chateado - A culpa é sua Dimitry, suas palavras fizeram ela querer isso! - ele lança.

- Se me deram licença... - passo por ele e sigo para meu carro deixando ele falar sozinho, entro e me sento fechando a porta.

Sinto um ciúmes estranho, talvez seja pelo fato de que a garota que estou tentando manter dentro das minhas condições esteja dormindo na casa do ex namorado.

Meu sangue ferve e sei que não tenho direito nenhum sobre a garota, mas algo dentro de mim ainda diz para que eu vá até ela e traga arrastada se necessário.

Tento manter a calma, mas não consigo e acabo ligando para um colega antigo.

- Boa noite Dimitry! - ele diz.

- Será que pode rastrear o número de uma pessoa? - ele não demora muito e diz que sim, e minutos depois recebo a ligação com as coordenadas que devo seguir, sinto um alívio percorrer meu corpo e sei que posso encontrar ela, não importa aonde.

Dou partida e saio acelerado em direção ao endereço, ando pelas ruas costurando um carro e outro.

Após um longo tempo andando a procura da casa, finalmente encontro, estaciono. "Por que está fazendo isso?! Pare agora com isso Dimitry!"

Respiro fundo e saio do carro "Não estou fazendo isso por ela e sim por mim, aliás o acusado de sequestro e assassinato foi eu!" É focando nesses pensamentos que começo a caminha em direção a casa.

Chegando a porta apoio as muletas em um braço só e começo a bater na porta, mas ninguém abre, procuro então uma outra forma de conseguir chegar até ela "Nada de atos errôneos!" vejo uma campainha no canto esquerdo e toco ela pela primeira vez, nada.

Toco mais uma vez e aguardo, ninguém mais uma vez, nem sequer um barulho que indique ao contrário. "Dimitry desista!" aperto o maxilar com força e agarro minha muleta, aliás não vou me rebaixar a ponto de querer saber mais do que já sei. Ela é comprometida com o ex ainda e isso quer dizer que não vou atormentar ela. Adeus planos.

Volto a caminhar em direção ao meu carro e decido tirar a garota dos meus planos, pois ainda tenho o bom senso de não causar mal a terceiros e obviamente o ex dela seria esse terceiro caso me envolvesse com ela.

Entro no carro acomodando minhas muletas no banco do passageiro novamente e dou partida.

"Preciso de Karoline com urgência!"

Sigo de volta com mais calma para evitar possíveis acidentes, não que provavelmente eu cause algum, mas prefiro ficar longe de mais problemas. Como passei a tarde incutido de resolver problemas e assinar papeis, é hora de dar um pouco de descanso para minha cabeça.

Após um longo caminho estou no estacionamento do hotel e caminhando para o elevador, entro no elevador e me recosto na parede gelada, se eu fosse um meio de transporte com certeza seria esse elevador metálico, gélido e pouco receptivo para pessoas cansadas.

Pego o elevador da recepção e conto os minutos para chegar ao quinto andar e quando finalmente chego, fico alguns segundos parado olhando para fora e somente quando a  porta está se fechando que saio batendo a muleta contra o chão.

Entro no apartamento trancando a porta e caminhando para o quarto, me dispo com dificuldades e tomo um banho rápido, pois nem a água corrente fará meu humor melhorar.

Me deito e logo adormeço.

Abominável - A lei da AtraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora