Entro na casa de Marcos me sentindo uma invasora, a mulher dele está sorrindo e me abraça, eu retribuo.
- Estou suja, não sei se deve me abraçar assim! - digo, ela se afasta.
- Sem problemas, ouvi muito sobre você! - sorrio e baixo a cabeça.
- Ele te contou que me chama de totó? - digo.
Ela ri e logo atrás vem uma criança correndo e rindo, creio que tenha no máximo uns quatro anos, ele é lindo.
- Ele me contou sim! - a criança passa por ela e por mim, olho para trás e vejo Marcos abraçar o piquetuxo.
- Como ele se chama? - pergunto encarando a criança.
- Eduardo! - a mãe da criança responde e me puxa pelo braço - Venha! Você precisa de um banho, terá que dormir no quarto do Dudu, se importa? - caminhamos para o banheiro e ela praticamente me empurra para dentro - Quer uma toalha? E roupas? O que prefere vestir? - as perguntas são tantas que fico um pouco apavorada.
- Qualquer coisa que trazer, irei vestir! - digo sorrindo, ela assente e sai, fecho a porta e tomo um banho demorado, alguns minutos depois ouço um barulho vindo do box - Obrigada.
- Por nada! - a voz é de Marcos e levo um susto, por sorte o box é escuro.
- Achei que sua mulher fosse trazer?! - digo com o coração batendo forte.
- Ela foi fazer o Dudu dormir, relaxa não vou entrar aí! - ouço a porta fechar e sinto um alívio, pois meu medo era de que Marcos não tivesse se transformado em um homem sério.
Termino meu banho e saio do box, me seco com a toalha e visto a roupa que está ali. É uma camiseta do Iron Maiden e uma legging preta.
Me dou conta que pareço uma adolescente dentro dessa roupa e me sinto mais cabisbaixa ainda, pois não passo uma imagem seria.
Me olho no espelho e suspiro, saio do banheiro e caminho pela casa, saio na sala que é de coloração bege, tudo é bege.
Vejo uma porta larga com cortina feita de pequenas pedras que imitam o diamante, caminho para aquela direção e vejo a mulher de Marcos cantarolando enquanto serve um prato de comida.
"Ela é tão feliz!" Sinto um nó na garganta e o fato da minha alegria ter evaporado faz com que sinta inveja dela.
- Obrigada! - digo sorrindo, ela para de cantarolar e me olha com o olhar caridoso.
- Marcos tem um carinho especial por você, ele diz que por mais que os anos passem você sempre será o totó dele... - ela pronuncia as últimas palavras rindo. Reviro os olhos.
- Pois diga a ele que esse é um apelido horrível! - sorrio e me sento em uma das cadeiras da humilde cozinha.
- Você me parece uma boa moça! - ela diz enquanto empurra o prato para mim.
- Não sei se posso receber esse elogio ... Creio que nunca fui uma boa moça e só agora esteja caindo a ficha... - digo enquanto meus olhos voltam a ficar marejados. Suspiro.
- Talvez você seja uma pessoa boa com alguns defeitos apenas... - ela diz.
- Assim espero! - digo levando uma garfada a boca.
- Trabalha com o quê? - ela diz enquanto caminha para a pia e começa a lavar alguns pratos.
- Não trabalho! - respondo envergonhada.
- Ó! - ela não diz mais nada, apenas continua seus afazeres e depois de um tempo comendo termino meu prato, estou satisfeita.
- Obrigada novamente! - digo e afasto ela da pia.
- Eu faço isso! Você é visita! - levanto as mãos em protesto.
- Por favor, não me faça me sentir mais inútil que já sou! - digo pegando a esponja para lavar louça.
- Se prefere lavar, tudo bem! - ela exclama.
Não demora muito e termino de lavar, ela também termina de secar e guardar e minutos depois Marcos entra na cozinha.
- Totó trabalhando? - ele questiona.
- Tenho um nome! - digo irritada, os dois riem.
- Vitória! Sei seu nome... - ele me cutuca e acabo dando um murro no braço dele.
- Muito obrigada! - exclamo novamente e os dois respondem em uníssono.
- Por nada! - eles se entreolham e riem.
"Que sincronismo!" Fico pensando o quanto são perfeitos um para o outro e se encaixam tão bem, enquanto eu sou essa pessoa dependente, mimada e sem graça.
Me entristeço e suspiro.
- Está tudo bem? - sou tirada dos meus pensamentos pela pergunta da mulher de Marcos.
- Claro, só estou com sono! - digo.
Ela se apressa a me puxar pelo braço me tirando imediatamente da cozinha, aceno para Marcos e ele ri acenando de volta.
Ela me leva ao quarto do pequeno Eduardo.
- A cama é de solteiro, mas é confortável! - ela diz, sorrio.
- Imagina! Agradeço por estar disponibilizando! - digo e observo o quarto, ele é branco e possui cortinas azuis, os móveis são amarelos e azuis.
O ambiente é harmonioso e tranquilo, além de carregar uma energia positiva e animada. Eduardo deve receber muito amor dentro dessa casa, dentro desse quarto.
- Fique à vontade! - ela sorri e se retira.
Entro no quarto e fecho a porta atrás de mim, fico alguns instantes parada analisando o ambiente e sinto uma sensação estranha.
Tudo aqui é tão feliz e positivo que nunca deixaria que uma criança crescesse transtornada e cheia de medos, com certeza é diferente do ambiente que Dimitry cresceu.
Um nó se forma em minha garganta e desejo nunca ter iniciado o curso de psicologia, mas na verdade me apaixonei por ele, de verdade.
Ainda assim, tenho a impressão que me arrependerei muito mais de ter conhecido Dimitry Richards. Afasto os pensamentos, pois estou profundamente magoada e sentindo-me mal pelas coisas que ouvi dele.
Caminho até a cama e me deito pensativa, fico durante alguns minutos martelando as palavras que ele disse.
Foi tão impactante que agora tomei elas como minha verdade absoluta e quero mudar essa situação, não quero mais depender do meu pai e nem ser a garota que recebe tudo de mãos beijadas.
Quero saber o que é viver por conta própria e saber me virar sozinha, quero passar por dificuldades e aprender a dar valor no que tenho.
Quero ser uma pessoa melhor e mais caridosa, que assim como Marcos e a mulher dele, oferece um lar para pessoas que estão desamparadas, assim como estive hoje.
É mentalizando essa mudança que acabo adormecendo.
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Abominável - A lei da Atração
RomanceTantas pessoas no mundo e sempre caímos na labia do lobo mal... "Existe uma pequena linha tênue entre o ódio e o amor!" "Existem pessoas que diriam que sou louco, mas prefiro acreditar na teoria de que sou apenas um excêntrico rico em busca de uma n...