Capítulo 31

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Entro na casa de Marcos me sentindo uma invasora, a mulher dele está sorrindo e me abraça, eu retribuo.

- Estou suja, não sei se deve me abraçar assim! - digo, ela se afasta.

- Sem problemas, ouvi muito sobre você! - sorrio e baixo a cabeça.

- Ele te contou que me chama de totó? - digo.

Ela ri e logo atrás vem uma criança correndo e rindo, creio que tenha no máximo uns quatro anos, ele é lindo.

- Ele me contou sim! - a criança passa por ela e por mim, olho para trás e vejo Marcos abraçar o piquetuxo.

- Como ele se chama? - pergunto encarando a criança.

- Eduardo! - a mãe da criança responde e me puxa pelo braço - Venha! Você precisa de um banho, terá que dormir no quarto do Dudu, se importa? - caminhamos para o banheiro e ela praticamente me empurra para dentro - Quer uma toalha? E roupas? O que prefere vestir? - as perguntas são tantas que fico um pouco apavorada.

- Qualquer coisa que trazer, irei vestir! - digo sorrindo, ela assente e sai, fecho a porta e tomo um banho demorado, alguns minutos depois ouço um barulho vindo do box - Obrigada.

- Por nada! - a voz é de Marcos e levo um susto, por sorte o box é escuro.

- Achei que sua mulher fosse trazer?! - digo com o coração batendo forte.

- Ela foi fazer o Dudu dormir, relaxa não vou entrar aí! - ouço a porta fechar e sinto um alívio, pois meu medo era de que Marcos não tivesse se transformado em um homem sério.

Termino meu banho e saio do box, me seco com a toalha e visto a roupa que está ali. É uma camiseta do Iron Maiden e uma legging preta.

Me dou conta que pareço uma adolescente dentro dessa roupa e me sinto mais cabisbaixa ainda, pois não passo uma imagem seria.

Me olho no espelho e suspiro, saio do banheiro e caminho pela casa, saio na sala que é de coloração bege, tudo é bege.

Vejo uma porta larga com cortina feita de pequenas pedras que imitam o diamante, caminho para aquela direção e vejo a mulher de Marcos cantarolando enquanto serve um prato de comida.

"Ela é tão feliz!" Sinto um nó na garganta e o fato da minha alegria ter evaporado faz com que sinta inveja dela.

- Obrigada! - digo sorrindo, ela para de cantarolar e me olha com o olhar caridoso.

- Marcos tem um carinho especial por você, ele diz que por mais que os anos passem você sempre será o totó dele... - ela pronuncia as últimas palavras rindo. Reviro os olhos.

- Pois diga a ele que esse é um apelido horrível! - sorrio e me sento em uma das cadeiras da humilde cozinha.

- Você me parece uma boa moça! - ela diz enquanto empurra o prato para mim.

- Não sei se posso receber esse elogio ... Creio que nunca fui uma boa moça e só agora esteja caindo a ficha... - digo enquanto meus olhos voltam a ficar marejados. Suspiro.

- Talvez você seja uma pessoa boa com alguns defeitos apenas... - ela diz.

- Assim espero! - digo levando uma garfada a boca.

- Trabalha com o quê? - ela diz enquanto caminha para a pia e começa a lavar alguns pratos.

- Não trabalho! - respondo envergonhada.

- Ó! - ela não diz mais nada, apenas continua seus afazeres e depois de um tempo comendo termino meu prato, estou satisfeita.

- Obrigada novamente! - digo e afasto ela da pia.

- Eu faço isso! Você é visita! - levanto as mãos em protesto.

- Por favor, não me faça me sentir mais inútil que já sou! - digo pegando a esponja para lavar louça.

- Se prefere lavar, tudo bem! - ela exclama.

Não demora muito e termino de lavar, ela também termina de secar e guardar e minutos depois Marcos entra na cozinha.

- Totó trabalhando? - ele questiona.

- Tenho um nome! - digo irritada, os dois riem.

- Vitória! Sei seu nome... - ele me cutuca e acabo dando um murro no braço dele.

- Muito obrigada! - exclamo novamente e os dois respondem em uníssono.

- Por nada! - eles se entreolham e riem.

"Que sincronismo!" Fico pensando o quanto são perfeitos um para o outro e se encaixam tão bem, enquanto eu sou essa pessoa dependente, mimada e sem graça.

Me entristeço e suspiro.

- Está tudo bem? - sou tirada dos meus pensamentos pela pergunta da mulher de Marcos.

- Claro, só estou com sono! - digo.

Ela se apressa a me puxar pelo braço me tirando imediatamente da cozinha, aceno para Marcos e ele ri acenando de volta.

Ela me leva ao quarto do pequeno Eduardo.

- A cama é de solteiro, mas é confortável! - ela diz, sorrio.

- Imagina! Agradeço por estar disponibilizando! - digo e observo o quarto, ele é branco e possui cortinas azuis, os móveis são amarelos e azuis.

O ambiente é harmonioso e tranquilo, além de carregar uma energia positiva e animada. Eduardo deve receber muito amor dentro dessa casa, dentro desse quarto.

- Fique à vontade! - ela sorri e se retira.

Entro no quarto e fecho a porta atrás de mim, fico alguns instantes parada analisando o ambiente e sinto uma sensação estranha.

Tudo aqui é tão feliz e positivo que nunca deixaria que uma criança crescesse transtornada e cheia de medos, com certeza é diferente do ambiente que Dimitry cresceu.

Um nó se forma em minha garganta e desejo nunca ter iniciado o curso de psicologia, mas na verdade me apaixonei por ele, de verdade.

Ainda assim, tenho a impressão que me arrependerei muito mais de ter conhecido Dimitry Richards. Afasto os pensamentos, pois estou profundamente magoada e sentindo-me mal pelas coisas que ouvi dele.

Caminho até a cama e me deito pensativa, fico durante alguns minutos martelando as palavras que ele disse.

Foi tão impactante que agora tomei elas como minha verdade absoluta e quero mudar essa situação, não quero mais depender do meu pai e nem ser a garota que recebe tudo de mãos beijadas.

Quero saber o que é viver por conta própria e saber me virar sozinha, quero passar por dificuldades e aprender a dar valor no que tenho.

Quero ser uma pessoa melhor e mais caridosa, que assim como Marcos e a mulher dele, oferece um lar para pessoas que estão desamparadas, assim como estive hoje.

É mentalizando essa mudança que acabo adormecendo.

Abominável - A lei da AtraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora