Capítulo 127

162 30 0
                                    

Acordo com relutância e suspiro. Olho para o lado e vejo Vitória dormindo como um anjo. Acaricio seu rosto e engulo seco.

"Que o seu final feliz seja maravilhoso com nosso bebê! "

Me levanto e caminho para o banheiro. Tomo um banho e escovo os dentes.

Saio do quarto e sigo para a cozinha. Senhora Thompson está preparando o café da manhã e meu sogro está com a maior cara de deboche ao me ver. Reviro os olhos e chego dando um tapa em suas costas. Ele me fulmina com o olhar.

- Bom dia sogrinho! Não faça essa cara, sua bebezinha não recebeu leitinho ontem a noite! - Ele se levanta da cadeira e ergo as mãos em rendição.

- Dimitry! - olho para senhora Thompson e caminho até ela, dou um abraço forte e um beijo em sua testa. Solto ela e viro para senhor Thompson que parece querer arrancar meus órgãos. Pisco e me sento ao seu lado.

- O cheiro está ótimo! Teremos panquecas? - pergunto. Ela assente e aguardamos elas ficarem prontas.

- Sua mala já está pronta? - nego. Senhora Thompson nos serve e se senta. - Vou ajudar Vitória a montá-la. Já deveria ter feito isso mocinho! - sorrio.

- Você fala comigo como uma mãe desses filmes... - ela sorri e senhor Thompson acrescenta.

- Nós nos preocupamos tanto quanto seus pais deveriam... - pisco várias vezes e levo um pedaço de panqueca na boca.

- Mas vocês não são meus pais... - digo e cutuco as costelas de senhor Thompson. Ele me encara e sorri. Franzo o cenho.

- Agora é como se fôssemos. - engasgo e solto o garfo. Me levanto aturdido e surpreso. "Eles não me odeiam?!" - Não fique chocado... Você tem feito Vitória feliz e não serei estúpido de estragar tudo agora... Você só tem que aprender a se controlar mais... - ele ergue a sobrancelha - principalmente a língua... - sorrio e sinto como se meu coração fosse saltar do peito. Ouvir isso me deixa extremamente feliz.

Eles realmente se importam, e isso tem um grau de importância para mim.

Vitória chega na cozinha em seguida e tenta sentar-se em meu colo, ajudo ela a subir e ela agarra meu garfo e começa a comer minha panqueca.

- Bom dia meus amores. - Ela diz socando minha panqueca na boca.

- Acho que este prato e está panqueca é minha. - digo tentando tomar o garfo de sua mão. Ela se esquiva.

- Agora não é mais! - mordo o lábio inferior e me aproximo do ouvido dela.

- Solta. Agora. - Ela nega.

- Me obrigue. - olho para o teto e gargalho.

- O que eu fiz para merecer isso! - grito e todos riem.

- Vou dividir com você. - Ela diz por fim e continuamos o café.

Depois seguimos com nosso dia, o qual passa depressa.

Acabo ajudando as damas a arrumar a mala e vez ou outra me lembro de quando arrumei minhas malas para sair da França.

"O bom filho a casa torna! Ou retorna!?"

Nunca fui bom em trocadilhos. Depois que o dia está chegando ao fim, nos arrumamos e peço para Ney nos levar no aeroporto. Teremos que pegar um avião daqui para São Paulo e de lá para a França. Com sorte pegamos poucas horas de conexão. Três horas apenas.

Chegamos no aeroporto e desço as malas rapidamente. Seguimos para uma mesa de um restaurante e nos sentamos. Não demora muito e minha chega. Olho para Vitória.

- Vocês precisam conversar... - Vitória me pressiona e aperto o maxilar.

- Oi querida. - Ela cumprimenta Vitória e os pais dela depois. Por último ela vem em minha direção. Me coloco de pé.

- Oi. - digo friamente e fecho os olhos. - Que tal se fôssemos darmos uma volta. - Ela assente e seguimos em direção ao lado de fora do aeroporto. Nos sentamos em um banco aleatório.

- Eu queria que você soubesse...

- Que sente muito? Ok! - digo e me levanto. Ela segura meu braço e me sento a contragosto.

- Ouça... - sinto meu coração bater forte. Assinto "Isso é tortura!" - Meu filho eu sei que não fui uma boa mãe, mas eu jamais podia imaginar que... que seu pai... Eu queria que soubesse que se tivesse tomado a atitude de me contar eu não teria deixado nada disso ter aconte... -gargalho.

- Você acredita que uma criança da minha idade ia saber o que dizer?! Eu fui agredido e abusado e não tinha condições de dizer nada... Eu tinha medo. - Ela começa a chorar.

- Eu sempre fui fraca... - "Foi!" - Eu acreditei que se eu e seu pai nos separasse eu jamais conseguiria alguém novamente... Alguém que me amasse e te tratasse tão bem quanto seu pai...

- Ele não me tratava bem, você estava cega. Cega... e estava sendo egoísta. - Ela assente e sinto um nó na garganta.

- Eu sei que destruí sua infância quando fui egoísta, mas jamais imaginei que ele pudesse fazer mal ao próprio filho, sempre quis imaginar que nossa família era perfeita e que só havia amor... Eu te amo tanto meu filho que nunca quis aceitar que alguém poderia machucar meu menino, eu fiquei cega quando ignorei suas marcas e seu comportamento... Mas fiquei mais cega ainda quando te via dormindo no berço e seu rosto angelical parecia ter paz, uma paz que eu só via quando você dormia... E foi essa paz que eu sentia ao te ver que fez com que meus medos fossem sempre maiores... Eu nunca fui presente e me culpo por isso... Mesmo agora que você está com câncer, a única pessoa que sei que pode ficar do seu lado sem que você se sinta mal é ela... Ela te ama e te viu como ninguém viu... Como eu não vi... Me perdoe se não fui a mãe dos seus sonhos, mas tento me redimir todos os dias... Não peço para me amar, mas eu suplico que perdoe minha cegueira. Nunca teria deixado você se quebrar dessa forma se eu soubesse... Eu me quebraria em seu lugar... - engulo seco e abraço ela.

- Eu sinto muito por ter matado o papai... - Não resisto e começo a chorar. - Sinto muito por ter te dado tanto desgosto, ter feito você sofrer e não ter conseguido te proteger de todas as coisas que passei... Me perdoe por não ser o homem que papai deixou de ser... Você merecia mais do que alicerçar uma casa inteira quando aquele idiota mimado só destruía... Desculpe sempre te sobrecarregar... Eu imaginei que se aguentasse tudo sozinho, você seria mais feliz...

- Não diga isso... Eu errei com você, mesmo que diga que tem culpa, eu sempre direi que não, eu poderia suportar tudo... Tudo e além... Porque um amor de mãe é infinito e eu te protegeria... Como sempre fiz, mesmo você tentando me afastar. - aperto ela. - Nunca pense que é forte, sua força é confiar em mim a partir de hoje... Não viva mais com a culpa de tirar a vida daquele monstro. Eu posso carregar ela por você querido... Eu consigo suportar o seu fardo... Seja feliz e me deixe cuidar do meu menino novamente... - Assinto.

Abominável - A lei da AtraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora