Vitória fica estática por alguns minutos e parece estar pesando minhas palavras, creio que ela não esteja tão alegre agora que me conhece melhor e entrei em sua vida.
- Como chega a essas conclusões? - ela pergunta.
- Analise de comportamento é meu ponto forte! - digo e mordo mais um pedaço da minha fatia de pizza, ela me encara com uma mistura de sentimentos e pega mais uma fatia de pizza na bandeja, o resto do jantar é em silêncio e isso é realmente mais agradável, pois ouvir a voz da garota nem sempre é a melhor coisa do mundo e prefiro quando ela está calada e comportada, segurando sua imensa língua dentro da boca.
Depois que terminamos de comer, Vitória se levanta e faço o mesmo recolhendo os pratos e colocando na pia, e ela começa a lavar.
Não gosto da presença dela aqui, mas tenho que admitir que nem sempre é ruim. Sigo para o interfone.
- Boa noite, em que posso ajudar?
- Peça para subirem no quinto andar, apartamento 22 e recolherem a bandeja por gentileza!
- Sim senhor, já estamos mandando! - retiro o dedo do interfone e sigo com as muletas para perto do balcão, apoio meus braços sobre o tampo de mármore e observo os movimentos de Vitória, pois ela parece bem distraída e até movimenta a boca, como se falasse consigo mesma.
Depois de alguns minutos ela termina de secar a pia e se vira levando um susto, reviro os olhos, mas no fundo senti uma satisfação imensa em ver seu rosto amedrontado.
- Não sou nenhum fantasma, aliás sou dono da casa e é extremamente desconfortável e rude da sua parte esquecer que estou dentro desse apartamento. - meu tom é extremamente seco e ela cora.
- Não me esqueci, aliás você faz questão de lembrar o tempo todo, só achei que estivesse sozinha... - a voz dela é quase um miado e quando abro a boca para responder a campainha toca, fecho a boca novamente e quando vou alcançar a bandeja ela começa.
- Faço isso, aliás você vai demorar muito! - Ela me olha e por alguns minutos e recolhe a bandeja se dirigindo para porta.
Decido que é melhor ir dormir, pois amanhã é sábado e prometi a mim mesmo que distrairia a cabeça enquanto Karoline não chega de Paris. Caminho para meu quarto e vejo Vitória encostar a porta, estou quase atravessando a sala por completo.
- Boa noite Dimitry, espero que tenha uma noite de sono tranquila! - seu tom de voz é desafiador e resolvo provocar também.
- Caso eu não tenha uma noite tranquila, sei onde aliviar minha raiva! - digo e me viro para encarar ela, sua boca forma um imenso "Ó".
- Depois eu que não tenho educação! - ela vocifera e sai batendo os pés contra o chão.
-Não se assuste se amanhecer no céu ou talvez inferno ou ainda visualizando seu corpo frio e pesado sobre a cama.
Chego a conclusão que ela desejou que tivesse sonhos bons e não se referia a meus pesadelos, aliás o quê ela sabe sobre eles?
Não irei me desculpar, apenas volto a caminhar para meu quarto e quando chego nele, me jogo sobre a cama, fico alguns instantes assim e em seguida me levanto e vou escovar os dentes, após fazer minha higienização bucal retorno para o quarto e apago a luz do abajur.
Durmo depressa.
Estou na sala de jantar com mamãe e papai e ver os rostos deles me enoja, não sou mais uma criança inocente como deveria, na verdade meu comportamento mudou muito e desejo que papai morra e leve todo o mal que ele carrega, olho para mamãe e lembro de vovó me dizendo que ela já foi esquizofrênica, definitivamente nasci no lar errado e quero que o mundo me engula com sua ira e seu poder e só assim voltarei a sorrir, pois irei acordar no interior quentinho do planeta e serei embalado pelos anjos bonzinhos.
Papai está sorrindo e trata mamãe muito bem, mas sei que tudo é encenação, pois por vezes ele e a babá monstruosa ficam fazendo coisas horrorosas no quarto e posso ouvir os gritos dela, lembro de uma cena horrível que presenciei...
Não estou mais na sala de jantar e sim no meu quarto.
- Fique aqui pirralho, eu e seu pai vamos brincar de mamãe e papai agora! - a bruxa ri e papai também está rindo, ele me olha com desprezo e os dois saem do meu quarto.
Fico brincando com meus brinquedinhos e me sinto indefeso, mas é o único lugar que é seguro quando a bruxa está com papai.
Faço uma estradinha com meus brinquedinhos e arrasto meu carrinho para lá e para cá, sou um bombeiro e meu dever é salvar a vida de gatinhos que estão presos em árvores, mas algo está me deixando incomodado, pois ouço um barulho estranho, parece a bruxa e ela está gritando, sinto meu coraçãozinho saltar e saio correndo do quarto.
Vou em direção ao grito e vejo papai e ela no quarto e eles estão fazendo o quê? A bruxa me encara e sorri com perversidade, me assusto e ela fala ofegando.
- Seu odioso filhinho também quer brincar papai! - a voz dela me causa arrepios e saio correndo da porta do quarto, ela estava nua, ela e papai.
Começo a chorar e corro para a sala, mas papai agarra meu bracinho e me puxa, grito desesperado.
- Cale a boca moleque! - ele me ergue, me bate e me arrasta para dentro do quarto que eles estão.
- Socorro! - grito chorando e ninguém me ajuda.
Não estou mais no quarto e sim na mesa de jantar com papai e mamãe.
- Ele é um monstro mamãe! Ele me machuca! - grito, mas eles não me escutam, estou gritando e eles continuam sorrindo e ignorando minhas palavras, eles não podem me ouvir.
***
2 dias depois...
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Abominável - A lei da Atração
RomanceTantas pessoas no mundo e sempre caímos na labia do lobo mal... "Existe uma pequena linha tênue entre o ódio e o amor!" "Existem pessoas que diriam que sou louco, mas prefiro acreditar na teoria de que sou apenas um excêntrico rico em busca de uma n...