Capítulo 116

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Esses dias que estou no hospital tenho tido uma rotina bem monótona e desejo poder sair com Dimitry para os lugares, porém não posso e ele não parece ser do tipo que se confina em um quarto com uma televisão.  A enfermeira tem me ajudado com os banhos, mesmo que eu diga que não precisa, porém hoje ela ainda não apareceu e mesmo eu dizendo que não preciso de ajuda, gostaria que ela estivesse aqui.

Ouço toques a porta e imagino que seja a enfermeira.

- Entre. - digo. Dimitry levanta a cabeça apenas o suficiente para ver quem entrará. Ele se encontra afundado em trabalho desde o fim da tarde. A mãe de Dimitry adentra o quarto e fico feliz em vê-la mesmo que eu esperasse por outra pessoa.

- Olá! Como está querida? - ela caminha até mim e me dá um abraço folgado, receosa de que possa me machucar.

- Bem, melhor impossível. - digo. Vendo ela me lembro que não disse a minha mãe que estou no hospital, disse apenas que estou bem e que estou me dando bem com Dimitry. Creio que amanhã ligarei para ela e direi como estou realmente para que ela venha me ver.

Dimitry fica tenso assim que sua mãe entra no quarto e sei que terei outro trabalho difícil para fazer ele aceitar a mãe novamente. Senhora Richards caminha até o filho e deposita um beijo em sua cabeça. Dimitry mal se move e continua o que está fazendo.

- Conte-me o que houve? - ela pronuncia ao se virar para mim. Suspiro e olho para Dimitry que levanta a cabeça no mesmo instante e se levanta caminhando até a cama. Ele se senta ao meu lado e se aproxima do meu ouvido.

- Você não precisa fazer isso. - sua voz sai tão fria quanto um iceberg. Assinto e ele se ajeita na cama. Senhora Richards se senta no sofá e aguarda alguma palavra. Respiro fundo.

- Dimitry não matou a ex namorada. - digo. Os olhos de senhora Richards se arregalam. - Ela aparentemente seguiu seus passos até aqui e se infiltrou na casa dele quando ele menos esperava. Não sei se ela queria algum tipo de vingança, mas apenas me pareceu raiva por ele estar com outra pessoa em sua vida, não sei quantas pessoas ela viu passar pela vida dele e saírem, mas ela não  parece ter percebido sinais de que eu sairia facilmente, ela alugou meu apartamento e pediu para que eu ajudasse ela a se aproximar dele. - respiro fundo lembrando de minha inocência ao querer ajudar - No começo concordei, mas não deveria. Depois voltei atrás e disse a ela que tentaria mais um pouco, ela não gostou e pelo jeito descobriu que eu estaria na casa dele ou teria ela ido procurar por ele... Bem... Diante disso ela tentou me matar, ganhei algumas facadas e morreria com a garganta cortada se Dimitry não houvesse chegado. - digo e sorrio fracamente. - Prefiro não dizer o que ela me proferiu. - digo por fim deixando a mãe de Dimitry atordoada. Ela parece chocada e sem sangue pelo rosto.

- Eles condenaram meu filho por algo que ele não fez? - Sua voz está embargada e ela realmente está em transe. Aperto o braço de Dimitry para que ele faça algo. Ele me olha e arquea uma sobrancelha e em seguida revira os olhos.

- Não foi em vão que fui preso. Tem coisas sobre mim que a senhora não compreende ainda. - a voz dele é  enfática.

- Não diga isso! - ela parece acabada. - Por que você é  assim? Acha que não percebo que algo o transformou. Há tempos aguardo meu filho e só agora posso vê-lo novamente. Me diga Dimitry?! O quê esconde? - seguro a mão de Dimitry e ele me encara balançando levemente a cabeça, como se não quisesse que eu o fizesse contar. Puxo ele para mim e o abraço forte. Quem diria que um homem tão grande seria tão frágil e desprotegido. Tendo medo de se expor e acabar desabando na frente das pessoas que construiu sua muralha. Acaricio seus cabelos e digo baixinho em seu ouvido.

- Ela precisa saber, tente se livrar desse fardo. Ela merece carregá-lo junto com você,  pare de protegê-la de sua dor. Chega de fingir ser forte para ela. Mostre a ela a criança que sofreu em silêncio por medo! Mostre para ela que você a ama e que não queria que ela se culpasse. Chega de querer controlar o mundo a sua volta. Eu cheguei para derrubar suas paredes, mas essa você terá que destruir sozinho, eu apenas posso olhar você fazendo esse trabalho. - ele me aperta e coloca a cabeça escondida em meu pescoço. Sinto algo quente molhando-me e sei que ele não tem forças para fazer isso sozinho e sinto que eu tinha razão. Dimitry não odeia a incapacidade de sua mãe, na verdade ele não foi capaz de dizer a ela por medo de que ela ficasse em suas condições.

A enfermeira entra alegre e seu sorriso some como uma brisa passageira assim que ela sente o peso que está no ambiente.

- Bom lhe ajudar com seu banho... Volto de... - Dimitry interrompe ainda escondendo-se.

- Eu ajudo ela depois. A partir de hoje até sua saída do hospital. - sua voz abafada é pesada.

- Ok. - a enfermeira dá meia volta e antes que ela saia complemento.

- Obrigada. - sorrio e assim que ela nos deixa, fito a mãe de Dimitry que parece aflita ao ver o filho com tanto pesar.

- Meu filho... - Sorrio para ela tentando de alguma forma pedir paciência e ela assente. Seguro o rosto de Dimitry com as mãos e obrigo ele a olhar para mim.

- Eu te ajudo. - digo com meus olhos marejados. A cena é tão amarga e penosa. Seus olhos estão banhados em lágrimas e sua expressão é uma mistura de dor e angústia, ele parece reviver desde o princípio toda a dor e o sofrimento que carrega. Parece não ter forças para abrir a boca e me olha pedindo socorro. A única coisa que posso fazer diante de tudo é acalmá-lo e incentivá-lo.

Dimitry fecha os olhos e se desvencilhar de minhas mãos. Se endireita e olha para a mãe.

Abominável - A lei da AtraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora