Capítulo 63

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Acordo com o despertador tocando às oito, porém ignoro seu toque e abraço o travesseiro, sei que Vitória acordou, pois ela acaba desligando o mesmo, acabo dormindo novamente.

***

- Dimitry, levanta! - ouço a voz insistente de Vitória e sinto vontade costurar sua boca.

- Não, ainda é cedo! - ela me balança e acaba encostando nos pontos da sutura, gemo com a dor e acabo abrindo os olhos - Para, Para, Para!

- Ai meu Deus! Desculpa, encostei d de novo não é?

- Uhum! - Assinto com a cabeça e apoio às mãos no colchão para me levantar.

- Já são oito e quarenta e sete se não levantar as crianças vão chegar e você tem que me levar na padaria para comprar pão, lembra? - "Por que ela simplesmente não vai sozinha!"

- Vai sozinha... - digo em voz baixa.

- Não! - respiro fundo para não piorar meu humor, me levanto e caminho me espreguiçando em direção ao banheiro que fica no quarto, felizmente dois quartos são suíte, creio que estes ficarão com os serviçais da casa.

Me olho no espelho e foco os olhos na sutura, aperto a boca em uma linha fina "Preciso manter esse local limpo sempre para não inflamar."

Volto ao quarto e pego minha escova de dentes, aproveito para tomar um banho depressa, pois sei que as crianças com o Conselho tutelar e toda a trupe devem estar chegando, saio do banheiro enrolado na toalha e confiro o relógio, já são nove e quinze. Tiro a toalha e me abaixo procurando uma cueca na mala, Vitória deve estar admirando o amplo quintal.

Levo um susto quando a porta se abre, mas começo a rir em seguida, Vitória dá um grito ao me ver nu e tampa os olhos.

- Veste alguma coisa Dimitry! - ela vira para a porta e sai fechando apressada - Já chegaram! - gargalho e continuo procurando algo para vestir, pego uma bermuda preta e uma camisa azul de mangas compridas. Visto a cueca e depois a bermuda - Já posso olhar? - balanço a cabeça.

- Pode! - ela se vira enquanto arrumo as mangas e visto a camisa.

- Estão na sala esperando você descer para recebê-los... - ela junta as mãos - Não sabia que tinham crianças tão pequenas... - vejo o olhar dela se tornar sofrido e a pena que ela sente me embrulha o estômago. Ao imaginar que passei por isso e se ela souber irá me olhar assim... Não posso permitir esse tipo de olhar.

- Elas merecem mais que seus olhos de acusação! - digo com ríspidez e ela assente.

- Não farei isso mais, já abracei todas, mas tem um menininho tão pequeno que me chamou atenção, creio que ele tem uns sete anos... - ela engole seco e murmura algo que não entendo.

- Vamos! Temos que ir na padaria ainda! - saímos do quarto e desço as escadas que possui iluminação permanente por debaixo.

Ao chegar na sala e ver as crianças meu coração se acalma, parece que todas as coisas ruins vão embora. Tem três garotos e sete meninas, duas já são de maior, uma com vinte e um que está com o livro que dei de presente, a outra parece ter dezoito, as mais novas parecem ter no máximo quinze, mas iremos conversar mais tarde. Os meninos são muito pequenos, um deles parece ter dez e os outros dois parecem ter menos ainda. Aperto o maxilar sabendo o que o imbecil poderá ter feito a elas.

- Bom dia! - digo e elas não me respondem, a moça de vinte e um anos se aproxima e me abraça forte, reviro os olhos, cerro os dentes com a dor na sutura. - Sem abraços lembra! - digo sorrindo e acabo retribuindo o abraço - É bom ver vocês novamente.

- Nem acredito que estamos em uma casa tão linda! - ela parece admirada e começa a me apresentar as crianças, começa pela menina de dezoito anos - Essa é Ana tem dezessete anos- "Quase acertei a idade, merda!" Depois vai para a menina loirinha - Essa é Melissa, tem quatorze anos - a próxima é negra e tem os cabelos encaracolados mais lindos que já vi, dou um sorriso bem grande para ela e ela abaixa a cabeça envergonhada - Essa é Tereza, tem doze anos - a próxima tem a pele clara e os cabelos negros todo cacheado - Essa é Gabriela, tem treze anos - a última tem os olhos verdes e se parece muito com a garota que dei o livro - Essa é Carolina, tem nove anos - ela aponta para o menino maior - Alan, tem dez anos - ela aponta para o do meio - Arthur tem oito anos - e por fim aponta para o menor que parece ter uns seis anos, ele tem os cabelos pretos e olhos castanho tão claro que quase chega ao tom esverdeado - esse é Raone, ele tem sete anos... - Assinto. Dou um abraço em cada um, mas realmente o abraço que mais me comove é o do menor, que parece desesperado com tudo.

- Bem, espero que se sintam em casa, é aqui que vão morar! - sorrio e olho para Vitória que está boquiaberta, levanto uma sobrancelha - Que foi? - ela dá de ombros.

- Nunca te vi assim... - faço uma carranca para ela e volto a olhar para eles, pego o controle em cima da mesinha de vidro no centro da sala e ligo a TV.

- Sentem-se! - eles me olham por um momento - Mas... - levanto a mão - Tirem os sapatos, sei que estão limpos, mas é educado fazer isso! - elas assente e tiram o sapato apressadamente, se jogam nos sofás da sala, "Espaço não será problema!"

Olho para Vitória.

- Tem algum espaço que eu possa usar como escritório? - ela assente e começa a caminhar em direção ao corredor que deve dar na cozinha, creio que preciso conhecer a casa - Podem me acompanhar? - peço ao cara do concelho, médicos e policiais.

Antes de chegar na cozinha, ainda no corredor, tem uma porta dupla de correr que Vitória abre animada.

- Isso que chamo de escritório! - ela diz sorrindo para mim.

- A casa realmente está maravilhosa! - olho para o rapaz do concelho tutelar que disse essas palavras e dou um sorriso confiante.

A sala é composta de dez poltronas pretas colocadas em círculo, a frente uma mesa ampla e atrás uma cadeira de escritório, caminho e me sento na mesma, no centro do círculo um tapete branco felpudo e em volta mas nas paredes existe estantes acopladas, muitas estantes.

Muitos livros. Desde estórias infantis a livros picantes "Terá que ser controlado todo livro que sai daqui e quem pega! Não quero as pequenas e nem os meninos lendo literatura adulta!"

Os dois policiais se sentam e me fixo os olhos no policial que Vitória estava conversando. "Droga! Ele veio!"

Abominável - A lei da AtraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora