Capítulo 105

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Acordo com o despertador tocando. "Não me lembro de ter colocado qualquer despertador!" Abro os olhos e vejo minha mãe desligar o despertador apressada.

- Muito incômodo... - Ela se aproxima da cama.

- Que bom que acordou. Como se sente? - sorrio fracamente.

- Bem. - "Mal!"

- Quer que eu peça para trazer o café da manhã? - Seguro sua mão.

- Vá trabalhar... - Ela toca meu rosto e seus olhos se enchem de lágrimas.

- O trabalho pode esperar. - Ela sorri e seca uma lágrima furtiva.

- Anda logo, não quero lhe ver aqui mais... - digo firmemente tentado parecer convincente.

- Mas você não parece bem. - Solto a mão dela e tento me levantar, faço um esforço descomunal e consigo sem parecer tão acabado.

- Viu! Sairei daqui logo, não se preocupe. Cuide do que é  importante para nós dois... - digo lentamente. Ela assente e pega a bolsa.

- Vou pedir para que a enfermeira lhe traga o café da manhã. - Assinto. Ela se retira e suspiro aliviado por estar só. Estar somente eu e o silêncio gritante. Meu eterno companheiro.

É  complicado chegar com os próprios pés no hospital e não conseguir sair dele da mesma forma. "Só quero que tudo isso acabe logo."

Olho para frente e miro a parede desbotada do hospital. Aperto a boca em uma linha fina e olho para minhas mãos. "Está definhando... Finalmente ela está conseguindo lhe matar."

Depois de alguns instantes ouço toques a porta e ela se abre. A enfermeira coloca em cima da mesa do lado da cama uma bandeja com frutas e um iorgute.

- Só isso? - pergunto e encaro ela.

- O doutor disse que precisa se alimentar de coisas saudáveis, mas leves. - Ela se aproxima e coloca o aparelho de medir pressão em meu braço.

- Creio que posso ir para casa... - digo tentando parecer bem.

- Não pode. Não até que esteja melhor. - reviro os olhos.

- Estou bem. - ela nega.

- Se estivesse bem já estaria em pé. - Me lembro que semana passada levantei e sai do hospital sem que eles percebessem. "Plano B".

Seguro sua nuca e aproximo nossos rostos.

- Pareço doente? - ela cora. Me aproximo de seu ouvido e sussurro. - Um doente não tem apetite sexual. - Ela se afasta rapidamente e limpa a garganta.

- Vou ver o que posso fazer... - sorrio e ela deixa o quarto. Pego o copo de iorgute e tomo lentamente. Respiro fundo. Me levanto correndo e entro no banheiro cambaleando.

Vomito tudo.

Sinto tudo rodar e me apoio na borda do vaso. Agradeço a boa estrutura do hospital, não sei o que seria de mim sem um banheiro no quarto. Me levanto apoiado nas paredes .

Volto lentamente para a cama, mas falho antes de subir. "Quer adiantar sua morte!? Fraco! Levanta!" Suspiro. Uso todas as forças possíveis e tento subir na cama. A porta se abre e doutor Gordon entra apressado.

- Por que saiu da cama? - Ele me ajuda a voltar e checa meus olhos.

- Está mal meu rapaz. Muito mal. - fecho os olhos e vejo Vitória sorrindo. De certa forma me dá  forças. Abro os olhos.

- Estou bem. - O doutor nega com a cabeça.

- Não está. Faremos outra bateria de exames, creio que as radioterapias não estão fazendo efeito. - ele sorri. - Coma algo e recarregue as baterias, ainda tem seção hoje a tarde. - Assinto.

A enfermeira sai do banheiro puxando a descarga e me encara séria.

- Como ainda pretende sair daqui? Está Fraco! - a palavra fraco me atinge com força e abaixo a cabeça. "Droga!"

Alcanço uma fruta e mordo um pedaço. A enfermeira deixa o quarto. "Preciso de um banho." Ligo para Lys.

- Compa...

- Sou eu. Pedi para Ney passar aqui e pegar a chave do meu apartamento, quero que ele me traga cuecas. Muitas. E peça para colocar todos os meus moletons juntos, além de uma toalha.

- Hospital?

- Sim. - "Infelizmente sim."

- Certo. Já ele está aí. - desligo e devolvo o celular na mesa. Continuo comendo minha fruta.

Depois de um longo tempo Ney busca a chave de casa. E depois do que me parece uma eternidade ele retorna com o que pedi.

- Desculpe senhor. Passei na frente da casa de senhoritaTompsom.  - ergo uma sobrancelha.

- Está tudo bem? - pergunto.

- Sim senhor. - Assinto.

- Não precisa se preocupar, estou ligado diretamente com os seguranças que estão vigiando a casa dela. - ele assente.

- Ouvi rumores sobre sua preocupação e não pude deixar de me preocupar. - Assinto.

- Entendo. - Ele se vira para sair.

- Melhore logo, todos querem lhe ver bem... - faço sinal com a cabeça.

- Pretendo melhorar. De uma forma ou de outra estarei bem. - "Seja vida ou seja morte!"

Ele sai e fico sozinho novamente no quarto. "Se eu pudesse saber o que está acontecendo enquanto estou aqui." Se eu pudesse entender o que essa pessoa quer de mim.

Meu medo em relação a Vitória  pode não fazer nenhum sentido, mas ainda assim prefiro que ela esteja sendo vigiada.

Talvez a pessoa que eu deveria me preocupar tenha outro nome. Talvez eu mesmo.

Fico o restante da manhã assistindo TV e trocando de canais. "Odeio televisão!" Nada agrada. Nada de bom. Nada. Nada.

Por fim assisto a um documentário sobre cobras em um canal qualquer.

Com a chegada do almoço tento me fortalecer, mas não tenho apetite suficiente para me alimentar bem. Acabo comendo pouco  novamente. Tem sido dessa forma desde o maldito dia que contei tudo a Vitória.

As munhequeiras que estou usando começaram a coçar. Retiro elas e vejo as marcas da mutilação. "Sou um lixo mesmo." Depois de tudo me tornei mais dependente da dor, mesmo Vitória odiando a dor, não consegui ser como ela. Me livrar dos fantasmas. Ser tão forte quanto ela.

Esfrego o local das munhequeiras e sigo para o banheiro. Tomo um banho demorado e volto vestindo a calça moletom e acabo colocando a parte de cima também para ir para a seção.

Por baixo da blusa coloco as munhequeiras, não quero ter que tirar a blusa e ainda por cima receber julgamentos. Sigo para a seção de radioterapia.

Falta pouco. Falta pouco. Logo poderei saber se vou dessa para melhor ou me curo de vez.

Só  espero que acabe logo. 

( O bilhete vai demorar aparecer
Ela vai descobrir muiiito depois) ^-&
Obg mores pelo carinho
Assim que estiver completo solto tudo de uma vez
Está quase ^-^

Abominável - A lei da AtraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora