Capítulo 47

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Seguimos em silêncio pelo caminho e estou me sentindo raptada por eles, devo estar com o rosto vermelho e devo estar com marcas significativas de que chorei como um bebê.

Ainda não consegui processar o fato de estar no banco da frente e não Karoline e todo seu poder, tenho a impressão que estou indo para um lugar estranho com dois malucos estranhos apesar de Karoline ser uma pessoa bastante equilibrada e bondosa.

Olho para as ruas e nos aproximamos do centro cada vez mais e cada vez mais me sinto incomodada e dentro de instantes o carro estaciona e Karoline desce, quando vou abrir a porta Karoline fecha a dela e impede que eu abra a minha.

Olho para ela com confusão e me viro para Dimitry que aciona as travas do carro e continua olhando para frente, para o horizonte.

Volto a olhar para Karoline e devo parecer desesperada, pois ela lança um olhar piedoso e sai em seguida em direção ao restaurante.

- Dimitry abra essa porta e deixe-me descer, vou retornar para casa! Pegarei um táxi! - ele aperta o maxilar e aperta as mãos enfaixadas no volante suspirando.

- Precisamos conversar, certo? - cruzo os braços e me sinto envergonhada, aliás ele me viu chorar.

- Não precisamos não! Esqueça a cena patética que viu Ok! - digo e tento abrir a porta em gesto de querer sair.

- Nunca deixe minhas palavras ferirem você! Nenhuma lágrima que derramar será recompensada com sorrisos e consolo como hoje, aprenda a ser menos infantil Vitória! Cresça! - as palavras dele me machucam ainda mais e a humilhação cresce junto com o desapontamento.

- Por que simplesmente não deixa de ser esse estúpido!? Trate as pessoas com mais dignidade! - Vocifero, ele me olha e é como se quisesse que eu ficasse ciente de todos os seus medos e pesadelos.

Sinto uma onda de êxtase cruzar meu corpo e sei que ele quer que eu saiba que ele não é a pessoa certa para eu me interessar.

- Não vou mentir... Não senti pena ou remorso pelo que disse a você no hotel ou em qualquer lugar, pelo contrário, senti prazer em te fazer mal, senti um delicioso prazer em te fazer mal. - a voz dele é inacreditavelmente sedutora - ... Mas não quero que deixe toda as palavras ruins te tocar, porque você não é de tudo... - ele engole seco - ... ruim! Na verdade é até atraente, apesar que sua presença é um pouco perturbadora!

- Por quê? - ele sorri e destrava o cinto de segurança, se aproxima de mim como um gato e me prensa contra o banco, sinto meu coração acelerar e sinto as sensações piorarem quando ele usa uma das mãos para subir pela minha coxa e seu sorriso se torna perverso.

Olho em volta desesperada com medo de que alguém nos veja, mas ele não para e sua mão acaricia o tecido da minha calcinha de forma provocativa e encaro ele com confusão e desejo, minha respiração esta irregular, mas ele para com as caricias e se senta em seu banco, destrava as portas e sai do carro, estou imóvel e sem reação.

Todo meu corpo está quente "O quê acabou de acontecer aqui?" ele caminha pela frente do carro e abre minha porta, seu olhar está contido, mas posso ver que existe desejo em seu olhar e me sinto mais estranha ainda, ele se apoia em uma das muletas e me encara por um longo tempo apertando o maxilar e por um momento quase posso ver sentimento cruzando seu olhar.

Mas me lembro que seu coração é sombrio e tento não deixar que ele perceba que sinto algo mais que puro e cru desejo.

Ele segura a porta do carro e diz em alto e bom som antes de segurar minha mão e me tirar do carro de forma elegante e leve.

- Eu te desejo Vitória! - minha boca quase vai na china de tanta surpresa e acho que me molhei "Se é que é possível que isso aconteça a essa altura do campeonato!" ele enlaça seus dedos quentes nos meus dedos frios, nervosos, trêmulos e moles como gelatina depois do que ouvi.

Caminho com ele e nos sentamos juntos de Karoline, que me olha com cara de quem acabou de ganhar uma batalha e sinceramente não estou entendendo o por quê de estar sendo tratada como uma bola de futebol que acabou de ser lançada para o gol, pelo jogador Dimitry, e estar recebendo aplausos da plateia, que no caso seria Karoline.

Diante dessa situação sem pé nem cabeça, estou me sentindo perdida, completamente perdida.

- O que pediu mon amour? - a pergunta soa com carinho e estou me sentindo um pouco usada, mas ao mesmo tempo sinto que Karoline quer que eu e Dimitry fiquemos juntos então não a vejo como uma ameaça.

- Comida francesa mon cher! Creio que queira saborear algo mais excêntrico! - A voz dela é extremamente sedutora e transparece o mais alto nível de formalidade e cordialidade, resolvo participar da conversa e arrancar ou pelo menos tentar arrancar informações que sejam úteis para descobrir do que exatamente Dimitry sofre.

- Então sua mãe e você fizeram um acordo certo!? Voltará para a França? - pergunto tentando soar menos desinteressada.

- Sim! - A resposta dele é automática e carrega tanta profundidade que creio que tudo que ele sente se resume em voltar para lá.

- Não gosta daqui? - pergunto e encaro meus dedos.

- É uma pergunta interessante! Na verdade não gosto muito, pois tenho uma herança que devo zelar quando retornar, porém algumas pessoas daqui ainda me prendem em um certo grau! - Imagino que a pessoa seja eu ou alguém mais que ainda não notei que esteja na vida dele, mas não irei alimentar falsas expectativas em relação a Dimitry.

- Essa pessoa tem a inicial "V"? - Karoline cantarola, devo estar vermelha como tomate e vejo Dimitry vacilar o olhar e meu coração é dilacerado, pois percebo que a pessoa de quem ele falará não sou eu.

- Talvez seja ou talvez não, não acredito que Vitória entre em minhas prioridades, apesar de estar entrando nas dela.

Abominável - A lei da AtraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora