Capítulo 110

185 30 1
                                    

Estou descendo as malas novamente. Não imaginei que fosse voltar para a casa de Dimitry tão cedo, mas estou aliviada.

Aliviada por poder cuidar dele.

Antes de chegar ao fim das escadas vejo meu pai sentado tranquilamente na sala. "Força!" Acabo fazendo barulho e papai olha para as escadas. Respiro fundo e continuo descendo.

- Onde pensa que vai? - pergunta irritado.

- Estou saindo de casa, o senhor mesmo pedi...

- Para onde!?

- Não acho que seja necessário o senh...

- É  com ele!?  É, não é!  - Termino de descer as escadas e estou cansada. Não de descer, e sim de discutir com ele.

- Pai eu não entendo... O senhor pediu para eu sair de casa porque não quer que eu vá para a Europa,  Dimitry...

- Não diga o nome desse homem! Não na minha casa. - Meu coração acelera.

- Por que não aceita logo a Reali...

- Chega! Você não vai! Não permito que saia daqui!

- Mas pai... O senhor mesmo pediu...

- Não! - sua voz é  estridente e é a primeira vez que ele grita dessa forma. Não suporto. Lágrimas se formam nos meus olhos "Desculpa pai..." Começo a puxar minha mala para fora, sinto sua mão agarrar meu braço e apertar com força.

- Me larga! Faça o que quiser! Me desconsidere como filha! Não ligo! - puxo meu braço e abro a porta da sala.

- Se por acaso se atrever sair por essa porta nunca mais retorne! - deixo as lágrimas cair.

- Adeus pai! - saio e puxo minha mala para fora de casa. Depois que estou fora coloco no maleiro do carro. Entro no carro e irrompo em uma crise de soluços e lágrimas. Ligo o carro e  vejo papai correr para fora de casa. Acelero e sinto um peso no coração. As lágrimas embaçam minhas vistas e é  tão complicado enxergar tudo na minha frente, creio que o mais complicado é  poder aceitar as palavras dele. É tão deprimente saber que eu nem mesmo pude me explicar.

Se pelo menos Dimitry tivesse mostrado o lado mais sano dele para papai antes das coisas tomarem esse rumo, antes de eu abrir mão da minha família... E o pior é  que a reação de mamãe quando souber será deprimente e isso me deixa cada vez mais preocupada.

Se eu pudesse de alguma forma consertar as coisas... Dizer o quanto sinto muito.

O caminho para a casa de Dimitry se torna cansativo e desgastante e acabo parando o carro em um parque perto do prédio, desço do carro e caminho lentamente para um banco na beirada da Praça. Me sento.

De alguma forma estranha sinto a presença de Dimitry aqui e isso me deixa mais desesperada.

Ele não esta aqui em realidade.

Alcanço meu celular na bolsa e ligo para Joshua.

- Alô?

- Oi... Está ocupado? - seco  as lágrimas e limpo a garganta para disfarçar a voz rouca e melancólica.

- Oi minha flor! Estou trabalhando agora, algum problema?

- Não... - olho em volta no parque e vejo crianças balançando em um pequeno balanço. - Gostaria de lhe ver para conversar,  achei que estaria livre já que são cinco e meia... Desculpe. - tiro o celular do ouvido.

- Ei! - volto o telefone rapidamente. - Onde você está?

- Não precisa... Está tudo bem... Estou em um parque perto do hotel de Dimitry.

- Ok, chego aí em instantes, até mais. - tiro o celular do ouvido e suspiro. Olho novamente em volta e sinto-me voltar no tempo.

- Mais forte papai! - grito e sinto mãos firmes me empurrando. Vôo alto como um pássaro. Começo a rir e decido tentar algo. Talvez se eu pular do balanço enquanto papai me empurra forte eu possa realmente voar como um pássaro.

Papai me empurra novamente e uso seu impulso para saltar do balanço. As próximas cenas passam lentamente diante dos meus olhinhos e quando me dou conta estou no chão. O golpe foi tão forte que estou gritando de dor e agonizando no chão.

- Querida! Não faça isso com seu pai! Por que pulou do balanço? - choro descontroladamente e me agarro em seu pescoço tentando parar a dor incessante.

- Dói!  - digo aos prantos enquanto ele me levanta em seus braços e caminha.

- O que você tem na cabeça!?  Não faça isso para não se machucar! Chegando em casa farei curativos de bichinhos para parar a dor.

- Queria voar... - Ele abre a porta do carro e me senta no banco dos passageiros.

- Não é algo que aconteça facilmente... Você não nasceu para voar... - Seco as lágrimas e me entristeço mais.

- Suas asas ainda estão crescendo - olho para ele e ele sorri - Enquanto elas não estão grandes você poderá sempre se apoiar no papai! - começo a chorar novamente e abraço ele.

- Ei! Vitória! Vitória!  - olho para o lado e vejo Joshua me encarando, abraço ele e choro novamente. - Está tudo bem? - nego em seu pescoço e me afasto respirando fundo.

- Eu me lembrei de algo... Me lembrei que papai sempre me levava em um parque e que eu, ocasionalmente, tentava saltar do balanço na esperança de voar. Me lembrei da primeira vez que fiz isso e papai me repreendeu dizendo que eu não poderia voar, porque ainda não tinha asas grandes, creio que para ele jamais terei asas grandes... - Joshua acaricia meu rosto e olha para o parque.

- Nenhum pai está preparado para ver seu filho partir. É difícil ver que crescemos e que podemos viver por conta própria. - Ele junta as mãos no colo - O que aconteceu? - suspiro.

- Eu e papai brigamos, mas dessa vez foi pior do que as outras vezes... Sinto como se agora fosse algo que não tivesse volta. Estou indo para a Europa estudar...

- Mas isso é bom.

- Não exatamente, irei com Dimitry. - Joshua ri.

- Se eu fosse seu pai te amarrava no pé da cama para não viajar com um desequilibrado.

- Não fale assim dele! Ele pode não ser o mais certo, porém está dando o seu melhor para se livrar das marcas do passado. - digo.

- Já que você diz... Gostaria de estar no lugar dele neste momento, mas não posso infelizmente. - Coloco minha mão sobre as dele.

- Obrigada por vir ao meu encontro sempre que necessito. - digo.

- Imagina... Pode sempre contar comigo, quanto ao seu pai... Vai ficar tudo bem! Logo vocês se resolvem. - Ele se levanta - Eu tenho que fazer hora extra hoje, então vou indo. - Me coloco de pé e assinto.

- Obrigada! - Ele leva a mão em meus cabelos e bagunça.

- Não chore mais! Você é forte! - Assinto e abraço ele com força.

- Muito obrigada...

Abominável - A lei da AtraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora