Capítulo 42

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Acordo antes que se inicie mais um pesadelo e olho em volta, sinto uma sensação estranha e é como se tivesse sido protegido durante a noite toda, mas a proteção desapareceu e os sonhos ruins voltaram.

Olho em volta e estranhamente ainda sinto uma presença perto de mim. Franzo o cenho.

Me levanto e decido ir ver como a garota está dormindo, pego minhas muletas e caminho para o quarto, abro a porta com cuidado e observo a menina, ela dorme como um anjo e seu semblante está pacífico.

Entro e procuro uma camiseta em meu guarda-roupa, escolho uma branca com o desenho de uma caveira, simplesmente tenho um carinho especial por essa regata, inacreditavelmente ela consegue me deixar mais bonito.

Visto e saio do quarto em silêncio, aliás não quero acordar ela ainda, fecho a porta do quarto e vou direto para o interfone.

- Bom dia!

- Bom dia, gostaria de pedir para que trouxesse o café da manhã no apartamento  22 daqui uma hora...

- Sim senhor!

- Traga para três pessoas, por favor! - digo.

- Sim senhor, o café será levado daqui uma hora, até mais e muito obrigado! - o rapaz desliga e solto o botão do interfone.

Estou me sentindo estranhamente mais tranquilo essa manhã e isso é tão raro que começo a cogitar o que pode ser.

Talvez eu esteja mais tranquilo por conta da chegada de Karoline.

Resolvo ligar para Lys, mas como ainda é muito cedo, decido esperar para quando estiver na empresa.

Caminho lentamente a estante de livros e pego o livro idiota mais uma vez. Começo a folhear as páginas e continuo a leitura de onde parei, me sento no sofá e em menos de meia hora termino.

"Final muito clichê! Ruim para caramba!"

Me pergunto o por quê que os personagens sempre terminam juntos e casados, isso me irrita e sei que a vida real não é assim, então por que terminar sempre assim.

Simplesmente não gostei do livro e decido doar ele, talvez alguma garota goste dele. Decido entregar ele para a menina que trouxe comigo e que está em meu quarto, aliás ler é um bom hábito independente do que seja.

Sei que não adianta ligar para Karoline e que ela ainda está a caminho e estou entediado com a espera de alguém acordando.

Decido acordar a garota e caminho para o quarto deixando o livro sobre o sofá. Chegando ao quarto me sento na beirada da cama e cutuco a menina, não demora muito e ela abre os olhos.

- Bom dia! - meu bom dia sai como uma faca cortando o ar, pois realmente estou com o humor mais sombrio, apesar da noite bem dormida.

- Bom dia! - ela exclama e se senta na cama.

- Dormiu bem? - pergunto por obrigação e a pergunta sai estranha.

- Sim! - ela olha para os dedos e parece envergonhada - o senhor não precisa me pagar... - sua voz sai como uma miado.

- Vou pagar sim, aliás é seu ganha pão apesar de tudo! - digo indiferente.

Ela sai da cama e se coloca de pé.

- Obrigada! - ela parece muito grata e alegre, e pela a primeira vez a alegria de alguém não me irrita, na verdade saber que ela foi abusada quando pequena me deixa vulnerável e ver ela sorrindo me deixa com uma alegria estranha. Limpo a garganta

- Por nada! - digo.

Me levanto e nos retiramos do quarto, levo ela para o balcão e nos sentamos nas banquetas.

- Quero ajudar aquelas crianças! - digo e vejo ela me encarando boquiaberta "Pois é, sou bem direto!"

- A-a-ajudar? - ela gagueja.

- Sim! - digo com cordialmente - quero criar um espaço destinado para aquelas crianças saírem da vida que levam, terão oportunidades e serão bem tratadas! - digo indiferente.

- Nossa! Isso... Isso seria ótimo! - ela exclama e sorri animada "OK! Retiro o que disse! Alegria me enoja!"

- Ótimo, me leve para conhecer o lugar em que vivem, assim que tomarmos café iremos até o lugar em que elas estão! - digo e ela assente.

Me levanto e caminho até a sala com o auxílio das muletas, ela me segue com o olhar, mas não se levanta das banquetas, pego o livro e volto a me sentar na banqueta.

Estou de frente para ela, decidi mudar minha posição e tenho me sentado aqui a alguns dias, pois não me sinto confortável sentado do lado de Vitória e acabei inventando uma desculpa para me sentar de frente para ela.

No fim das contas prefiro assim, pois consigo olhar para ela com mais precisão. Deixo o livro em cima do balcão.

- Gosta de ler? - pergunto.

- Sim, mas não tenho muito o que ler e nem muito estudo, já que desde pequena vivo no mundo. - vejo sinceridade em suas palavras e sei que ela realmente está falando a verdade.

- Ótimo! - digo - Este livro é bem - faço aspas com as mãos - Fofo! - digo com desdém - Creio que vai gostar... - empurro para o lado dela e vejo seus olhos brilhando.

- Não posso aceitar moço! - ela diz admirando o livro. Reviro os olhos.

- Pega ele logo, senão vou queimar! - digo e ela pega ele apertando contra o peito e fechando os olhos, seu olhar está alegre demais e me sinto um pouco mais leve.

"OK! Talvez sorrisos não sejam tão ruins assim!"

Ela abre os olhos e eles estão marejados, se levanta e caminha em minha direção, me dá um abraço desengonçado e fico sem reação sendo abraçado.

- Obrigada! Deus lhe pague! - ela diz e me solta secando uma lágrima.

- Sem abraços! - digo com frieza e ela parece se lembrar de que não gosto e se senta na banqueta novamente.

- Aquela moça que estava no sofá é sua mulher? - ela pergunta curiosa, franzo o cenho "Não! O que te leva a pensar isso?!"

- Não! - digo rapidamente - ela é apenas minha cuidadora! - ela espreme os olhos e torce o nariz, e isso me irrita, bufo - O que é? - pergunto irritado.

- Ela parece gostar muito de você e você também sente algo por ela, talvez devessem conversar sobre isso... - reviro os olhos.

- A única coisa que quero dela é distância! - digo com desdém.

Abominável - A lei da AtraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora