Logo cai a noite e me sinto tão pequena. Meu coração dói e sinto um frio constante na barriga. Saio do banho e me olho no espelho, limpo uma parte para poder ver meu rosto e sinto uma vontade grande de chorar, mas não quero que ele me veja chorando mais, prometi ser forte e devo isso a ele. Olho para minha barriga que ainda não tem nenhum sinal de que tenha um neném.
- Amanhã seu pai nos dará o dia mais feliz de todos por isso devemos aproveitar como se fosse o último dia de nossas vidas. - digo e suspiro. Fecho os olhos e respiro fundo. Abro os olhos e saio do banheiro. Caminho para o quarto e antes de entrar abrindo a porta, ouço Dimitry ao telefone.
- Que voulez-vous dire? Vous n'avez pas le temps pour demain? Quelle heure? ... vous pouvez programmer oui! À quelle heure est l'hôpital? Eh bien, je serai là. Merci. - entro assim que ele desliga e me sento ao seu lado na cama. Ele segura minha mão.
- Marcou? - ele assente.
- Mas não tinha horário para depois de amanhã, só amanhã... Achei estranho, mas ela confirmou com o doutor Gordon. - "Amanhã?mas..."
- Quer dizer que amanhã mesmo já fará a cirurgia? - ele assente. Engulo seco e sinto meu coração acelerar. - Ok! Entendi. - ele me dá um beijo na testa e me seguro para não desabar novamente.
- Vai ficar tudo bem. - assinto.
- Vai... - engulo seco novamente e quase não suporto a vontade de chorar - Que horas?
- As quatro horas da tarde. - assinto. - Internação as duas horas da tarde. Não posso comer muito, por sorte já não consigo mesmo! - ele ri e creio que foi a piada mais sem graça que ouvi.
- Não fala assim... - digo com um fio de voz. Ele suspira.
- Confia em mim. Vai ficar tudo bem. - assinto. Ele se coloca de pé. - Pronta para dormir? Amanhã será um dia cansativo. - assinto. Ele se senta em frente ao piano e olho para ele confusa.
- Não toque... Deixa eu adormecer perto de você... - ele nega. "Não faça isso comigo!"
- Eu disse que tocaria. - ele é inflexível. - Deite-se. - Me deito e me cubro. Olho para ele e ele dá as costas para mim, tenho a imagem perfeita de seus braços e costas, posso ver seus cabelos raleados pelas radioterapias. Ele começa a tocar uma melodia melancólica que não reconheço, mas faz meu coração despedaçar. Meus olhos se enchem de lágrimas e vê-lo tão perto e tão distante me mata aos poucos. Amanhã será um dia horrível para mim, pois ele vai estar em uma cama de hospital passando por uma cirurgia que pode tirar a vida dele. E é ao som dessa melodia triste que começo a chorar em silêncio para que ele não ouça.
É aqui neste país longe de todo o resto que poderia me ajudar a atravessar esse momento de dor que sinto o que ele sentiu durante todos esses anos. Solidão. Medo. Tristeza. Desespero. Indiferença...
É neste país que irei enfrentar o momento mais difícil da minha vida e estarei sozinha. Sem nenhum amparo.
Me dói saber que não posso voltar para o Brasil e fingir que não cheguei aqui, porque sou a única coisa que ele pode contar agora. E não desistirei dele mesmo que eu termine sozinha.
Sei que de alguma forma tenho parte dele comigo. No meu ventre.
E é com esse sentimento de desespero e medo que adormeço.
***
Acordo com Dimitry me abraçando por trás, pouca luz passa pela cortina, mas já sei que é dia. Fecho meus olhos e suspiro. Me lembro que ontem dormi sem ele e hoje acordei com ele. E isso me faz pensar que é assim que ele se sentirá quando sair da cirurgia. "Que vai dar certo!" Entrará sem mim e acordará comigo ao seu lado.
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Abominável - A lei da Atração
RomanceTantas pessoas no mundo e sempre caímos na labia do lobo mal... "Existe uma pequena linha tênue entre o ódio e o amor!" "Existem pessoas que diriam que sou louco, mas prefiro acreditar na teoria de que sou apenas um excêntrico rico em busca de uma n...