Capítulo 22

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- Faz diferença? - pergunto.

- Não, na verdade! Quer saber esquece... - ela termina de comer e recolhe os pratos, vejo ela seguir para a pia e lavar eles, acabo ficando um pouco sem graça, já que a casa é minha e não dessa intrusa.

Depois que ela lava tudo, observo seus movimentos e algo nela me chama a atenção, não é nada como imaginava, pois ela é visivelmente mais simpática que a ordinária, mais bonita, mais esbelta e esguia, seus cabelos são mais compridos e escuros e sua pele é delicada como seda.

Sinto que não estou exatamente convivendo com uma maníaca ou psicótica e que na verdade o louco da história sou eu.

Me irrito com a garota pelo fato dela expressar tanta curiosidade sobre minha vida, aliás sabendo mais ou menos não irá mudar quem eu sou, isso é algo impossível.

Ela caminha até o interfone e pedi para que alguém suba e recolha os pratos, só então reparo em seu pescoço e vejo que tem a marca dos meus dedos.

Engulo seco e é a primeira vez que deixar uma marca dessas me incomoda tanto, é como se tivesse machucado a única coisa que está se importando comigo no momento, mas então me recordo do TCC e na verdade me dou conta que sou a cobaia, ou o ratinho de laboratório da garota.

Pulo para a cadeira de rodas e tento em vão empurrar, mas minhas mãos precárias e inúteis não servem para nada.

Fico refletindo sobre minha inutilidade até perceber que estou sendo empurrado para o lado do sofá, quando me aproximo do sofá e ela para, decido me deitar.

Ela segue para o balcão e começa a fuçar algo no aparelho, ainda vejo tensão em seu corpo e me dou conta que tentei mesmo matar a garota, sem que eu perceba estou rindo com a sensação.

Ela me olha assustada e faz uma tromba enorme que iria facilmente do Oiapoque ao Chuí, recolhe os pratos e leva até a porta, fica parada durante alguns minutos e depois de ouvir a campainha, abre a porta e entrega os pratos sorrindo.

O sorriso dela me incomoda demais e acabo questionando tanta alegria.

- Por que sorri o tempo todo? - pergunto com frieza.

- Porque pelo menos tenho o bom senso de ser educada, diferente de você! - ela lança.

- Está me chamando de mal educado? - ela ri com ironia.

- Não mesmo! Você está longe da falta de educação, na verdade já ultrapassou essa linha, deve estar na fase de envelhecimento precoce e chatice extrema! - olho para ela com confusão "Sério? Uma mulher como ela fala desse modo!"

- E você parece uma criança mimada e insuportável! - digo com o mesmo tom de ironia.

- Melhor assim e com pessoas que me amam, do que um homem tão jovem e com espírito de porco! - "Fala sério!"

Me sento e olho para ela, preciso ocupar minha cabeça e nada melhor do que ler, mas para que um Livro esteja em minhas mãos preciso que ela pegue.

- Poderia me fazer um favor?! - ela cruza os braços e revira os olhos.

- Diga! - parece zangada.

- Alcança aquele livro ali. - aponto para um livro cujo título é Faruk "Uma merda! Mas a garota é interessante, pois possui uma linhagem sanguínea bastante sanguinária!"

Ela caminha e segura o livro nas mãos como se analisasse as letras.

- Não sabia que curtia romance! - ela diz.

- Não curto! Esse livro é clichê e cheio de defeitos, mas a história por trás dos personagens é instigante e curiosa - digo estendendo o braço para que ela me entregue o livro logo.

- Posso ler? - a pergunta dela soa um pouco idiota, já que ela está temporariamente ocupando meu espaço.

- Contanto que não leia e se torne uma idiota apaixonada pelo personagem, então faça o que quiser! - digo a contragosto, ela me entrega o livro e se senta ao meu lado, a proximidade me deixa um pouco atormentado.

Quase consigo sentir o calor do seu corpo passar para o meu e isso me causa um mal estar, pois me lembro que não poderei torturar a garota sendo que ela permanecerá nesta casa depois que eu fizer isso.

Volto a ler a maldita história e desejo que ela se levante, mas invés disso está me observando ler, olho de soslaio para ela e aperto o maxilar.

- Vai ficar aí? - pergunto com desprezo.

- Onde mais ficaria? - ela pergunta sorrindo "Vou acabar costurando a boca dela, para ela não voltar a sorrir!"

- Sei lá! Apenas... Apenas desapareça - digo sinalizando com a mão para ela sumir, ela me olha séria e volta a rir segundos depois.

- Não gosta da minha companhia? - reviro os olhos e me aproximo do seu rosto, "Vamos brincar neném!" Quando estou perto o bastante, encaro ela nos olhos e faço o que toda garota entende como me beije.

Olho para seus lábios.

- Não! - digo olhando ela de cima em baixo e virando o rosto como se estivesse enojado.

Ela para de sorrir e se levanta.

- Vou para meu - ela faz aspas com os dedos - quarto! Caso precise é só chamar! - reviro os olhos e aceno com a cabeça para que ela saia.

Ela engole seco e solta um grunhido, vejo o tédio que ela esta e na verdade não me importo, pois não obriguei ela a fazer esse serviço.

Quando ela já está fora de minha visão me concentro na leitura do livro, leio com calma e paciência, até sentir sono.

Ouço meu celular tocar e alcanço ele na mesinha de centro, olho para o visor e vejo que é minha mãe, deixo tocar até cair e sinto um alívio com o fim do toque.

Não passam alguns minutos e ele volta a tocar, decido atender.

- O que quer? - pergunto com rispidez.

- É assim que se dirige a sua mãe? - ela diz.

- Estou vivo, só isso! Boa tarde para você também! - digo e já vou tirando o telefone da orelha, mas ela pede para que eu escute - Seja rápida! - complemento.

- Está gostando da garota? - "Serviço dela é desnecessário!"

- Não! - digo.

- Mas ela está te ajudando?

- Não te interessa! - digo.

- E como está o pé? - ela pergunta.

- Quebrado! - digo com preguiça.

- Eu sei! Queria saber se está um pouco melhor... - "Chega de ladainha!"

- A menina é desnecessária e se ela não sair daqui eu vou ser obrigado a fazer dela meu novo brinquedinho, meu pé está quebrado e qualquer informação além dessa para você é demais, ainda estou vivo e isso é o que importa! Boa tarde, passar bem! - desligo o celular e me recosto no encosto do sofá.

"O carma!"

Chato ele neh, poiseh também acho kkkkkkk

Abominável - A lei da AtraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora