Capítulo 129

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- Faz tempo que não toco... - Ela maneia a cabeça e coloca as mãos na cintura.

- Por favor... - sorrio sem graça. Caminho para perto dela e dos instrumentos, alcanço o violino e me sento na cama. Suspiro.

- Não ri... - Ela se senta ao meu lado. Começo a tocar uma melodia que tenho certeza que ela conhece. Seus olhos brilham e sei que ela está admirada ao ver esse lado prodígio.

- Quebra-nozes... - Assinto e continuo, mudo de repente para Cisne negro e ela abre a boca em um O. Paro de tocar depois de um tempo. - Agora o piano! - nego.

- Quero tocar ele antes de você dormir hoje... - digo envergonhado. Ela me cutuca.

- Por que não age dessa forma perto de papai? - reviro os olhos.

- Porque seria uma forma de demostrar fraqueza... Me nego a prestar esse papel. - Ela assente.

- Sou sua fraqueza certo? - Ela leva as mãos na cintura-  Acredito que sou sua Fortaleza! - gargalho e puxo ela para meu colo.

- Você pode ser o que quiser. - ela sorri.

- Espero que eu seja algum tipo de salvação, inclusive para seu câncer .  - seus olhos marejam e aperto ela nos braços.

- Vai ficar tudo bem... - Ela soluça em meu pescoço e me aperta.

- Prometa-me! - aperto o maxilar "Não posso Vitória! "

- Contanto que você fique bem eu estarei bem... - digo e ela afrouxa um pouco, porém o choro não cessa e sei que minhas palavras acabaram de decretar que eu posso não voltar vivo.

- Como quer que eu confie em você... - A voz dela é falha.

- Não precisa... - depois de um tempo parado no tempo, me dou conta que Vitória adormeceu em meus braços.  Coloco ela deitada na cama e puxo o imenso edredom para cima dela.

Caminho para fora do quarto e fecho a porta. "Hora de praticar minha língua natal! "

Vou para a cozinha e sorrio para a cozinheira que foi contratada pouco antes de irmos para o Brasil e deixar pessoas para cuidar da casa. "Particuler hotel!"

Aliás tenho que ir até a garagem para matar a saudade da minha coleção de carros e motos.

- Bom dia! - digo e a francesa me dá seu melhor sorriso.

- Bom dia. - ouvir meu idioma é tão reconfortante.  - O que vão querer para o almoço?

-  O que quiser cozinhar, surpreenda seu patrão!  - solto um riso travesso e ela cora.

- Sim senhor. - saio em direção a sala e saio para o quintal,  caminho pelo caminho de pedras que vai para a lateral da casa, chego até um portão branco automático e aperto o botão do lado, a porta começa a levantar dando espaço para um mundo completamente mágico aos meus olhos.

Aqui eu realmente me sinto em paz, pois me recordo de momentos bons, além dos carros tem a caixa de ferramentas que usava para construir bugigangas de madeira, além de uma estante repleta de minhas esculturas.

Todas elas escondem um tipo de sentimento diferente e esse sentimento não é de impotência ou de maldade, mas sim de uma parte que eu queria sufocar e na verdade funcionava, ouço alguém limpar a garganta.

- Oi... - digo e me viro. "Era bom demais para ser verdade!" Materializado na minha frente vejo meu pai. Meu coração acelera e minhas mãos gelam. Ele sorri e está do mesmo jeito que a anos atrás. Engulo seco.

- Algum dia sua mente me criaria não é? - sinto minhas forças ficando escassas.

- Por que estou te vendo? - já sei a resposta, mas mesmo assim insisto em tentar em dizer a mim mesmo.

- Vim dizer adeus. - respiro fundo e dou passos para trás.

- Por que estou morrendo? Quer dizer adeus porque estou com câncer e posso morrer? - ele gargalhada. Sinto um frio na espinha.

- Vim dizer adeus por que você está crescendo. - fecho as mãos em punho.

- Adeus... - sinto meu corpo todo tremer. - Pai.

Desmaio.

***

- Dimitry? Acorda! - abro os olhos e vejo Vitória abaixada e me balançando. Me sento no chão e apoio as mãos no chão.

- Há quanto tempo estou aqui? - seu semblante preocupado se alivia.

- Algum tempo... Talvez umas horas...  Vamos almoçar? - assinto. Me levanto com a ajuda dela. Assim que estamos voltando para a casa ela incrementa - Depois quero que me mostre direito o que tem na garagem... - assinto e suspiro.

- São coisas que eu fazia e meus bebês. - ela me olha.

- Passou mal? - olho para ela e volto a olhar para frente. Entramos na casa.

- Vi meu pai. - ela aperta minha mão e paro olhando para ela.- ele veio dizer adeus.

- Você deixou ele ir? - olho para ela e ela parece muito feliz. Franzo o cenho.

- Se eu pudesse teria mandado ele ir embora a muito tempo. Por causa dele muita coisa me aconteceu.

- Aos poucos seus fantasmas vão embora... - ela diz baixinho. Continuamos e seguimos para a sala de jantar. "Aos poucos..."

Comemos e depois levo ela para a garagem. Vitória entra e já vai passando a mão em cada escultura. Sorrio.

- Sabe o que já notei em ti? - ela olha para mim de soslaio e volta a fuçar.

- O que senhor Richards? - ela diz com irônia. Me senti no capô de um dos meus bebês.

- Você vê com as mãos! - ela olha para trás e espreme os olhos segurando a risada. Rio e pisco para ela. Ela volta a atenção para as esculturas.

- Engraçadinho! - ela termina de olhar as esculturas e se senta ao meu lado. Ela respira fundo e fecha os olhos.

- Não pode adiar sua cirurgia? - olho para o horizonte.

- Posso. - ela segura minha mão.

- Por favor! Adie por mais uma semana ... - sorrio e volto a olhar para ela, meus olhos cruzam com os dela e encaro.

- Adiantarei para depois de amanhã. - ela parece perplexa e nega com a cabeça, seus olhos marejam e ela me abraça, fico parado sem retribuir e olho para frente. Fecho os olhos e ouço ela chorar.

- Por quê? - ela questiona com a voz abafada.

- Quero saber logo o que pode acontecer comigo...

- Não! Não estou curiosa. - retribuo o abraço e dou um beijo no topo de sua cabeça.

- Eu preciso fazer isso Vitória... Agora não tem como fugir e quanto mais tempo demorar menos chances de sucesso. - afasto ela, mas ela continua olhando para o chão. - Olha para mim! - ela nega - Olha para mim por favor... - ela levanta a cabeça - Você precisa ser forte, eu preciso que você seja forte por mim. Não te peço nada além de força. Paciência. Esperança. Tudo o que puder .... - ela mordeu o lábio e levanta a mão para tocar meu rosto, deixo, e esfrego meu rosto contra sua mão.

- Eu serei paciente, terei esperanças, pedirei aos céus por você... Serei forte . - ela diz e levo a mão ao seu rosto secando suas lágrimas. Puxo ela depois e abraço apertado.

Abominável - A lei da AtraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora