- Faz tempo que não toco... - Ela maneia a cabeça e coloca as mãos na cintura.
- Por favor... - sorrio sem graça. Caminho para perto dela e dos instrumentos, alcanço o violino e me sento na cama. Suspiro.
- Não ri... - Ela se senta ao meu lado. Começo a tocar uma melodia que tenho certeza que ela conhece. Seus olhos brilham e sei que ela está admirada ao ver esse lado prodígio.
- Quebra-nozes... - Assinto e continuo, mudo de repente para Cisne negro e ela abre a boca em um O. Paro de tocar depois de um tempo. - Agora o piano! - nego.
- Quero tocar ele antes de você dormir hoje... - digo envergonhado. Ela me cutuca.
- Por que não age dessa forma perto de papai? - reviro os olhos.
- Porque seria uma forma de demostrar fraqueza... Me nego a prestar esse papel. - Ela assente.
- Sou sua fraqueza certo? - Ela leva as mãos na cintura- Acredito que sou sua Fortaleza! - gargalho e puxo ela para meu colo.
- Você pode ser o que quiser. - ela sorri.
- Espero que eu seja algum tipo de salvação, inclusive para seu câncer . - seus olhos marejam e aperto ela nos braços.
- Vai ficar tudo bem... - Ela soluça em meu pescoço e me aperta.
- Prometa-me! - aperto o maxilar "Não posso Vitória! "
- Contanto que você fique bem eu estarei bem... - digo e ela afrouxa um pouco, porém o choro não cessa e sei que minhas palavras acabaram de decretar que eu posso não voltar vivo.
- Como quer que eu confie em você... - A voz dela é falha.
- Não precisa... - depois de um tempo parado no tempo, me dou conta que Vitória adormeceu em meus braços. Coloco ela deitada na cama e puxo o imenso edredom para cima dela.
Caminho para fora do quarto e fecho a porta. "Hora de praticar minha língua natal! "
Vou para a cozinha e sorrio para a cozinheira que foi contratada pouco antes de irmos para o Brasil e deixar pessoas para cuidar da casa. "Particuler hotel!"
Aliás tenho que ir até a garagem para matar a saudade da minha coleção de carros e motos.
- Bom dia! - digo e a francesa me dá seu melhor sorriso.
- Bom dia. - ouvir meu idioma é tão reconfortante. - O que vão querer para o almoço?
- O que quiser cozinhar, surpreenda seu patrão! - solto um riso travesso e ela cora.
- Sim senhor. - saio em direção a sala e saio para o quintal, caminho pelo caminho de pedras que vai para a lateral da casa, chego até um portão branco automático e aperto o botão do lado, a porta começa a levantar dando espaço para um mundo completamente mágico aos meus olhos.
Aqui eu realmente me sinto em paz, pois me recordo de momentos bons, além dos carros tem a caixa de ferramentas que usava para construir bugigangas de madeira, além de uma estante repleta de minhas esculturas.
Todas elas escondem um tipo de sentimento diferente e esse sentimento não é de impotência ou de maldade, mas sim de uma parte que eu queria sufocar e na verdade funcionava, ouço alguém limpar a garganta.
- Oi... - digo e me viro. "Era bom demais para ser verdade!" Materializado na minha frente vejo meu pai. Meu coração acelera e minhas mãos gelam. Ele sorri e está do mesmo jeito que a anos atrás. Engulo seco.
- Algum dia sua mente me criaria não é? - sinto minhas forças ficando escassas.
- Por que estou te vendo? - já sei a resposta, mas mesmo assim insisto em tentar em dizer a mim mesmo.
- Vim dizer adeus. - respiro fundo e dou passos para trás.
- Por que estou morrendo? Quer dizer adeus porque estou com câncer e posso morrer? - ele gargalhada. Sinto um frio na espinha.
- Vim dizer adeus por que você está crescendo. - fecho as mãos em punho.
- Adeus... - sinto meu corpo todo tremer. - Pai.
Desmaio.
***
- Dimitry? Acorda! - abro os olhos e vejo Vitória abaixada e me balançando. Me sento no chão e apoio as mãos no chão.
- Há quanto tempo estou aqui? - seu semblante preocupado se alivia.
- Algum tempo... Talvez umas horas... Vamos almoçar? - assinto. Me levanto com a ajuda dela. Assim que estamos voltando para a casa ela incrementa - Depois quero que me mostre direito o que tem na garagem... - assinto e suspiro.
- São coisas que eu fazia e meus bebês. - ela me olha.
- Passou mal? - olho para ela e volto a olhar para frente. Entramos na casa.
- Vi meu pai. - ela aperta minha mão e paro olhando para ela.- ele veio dizer adeus.
- Você deixou ele ir? - olho para ela e ela parece muito feliz. Franzo o cenho.
- Se eu pudesse teria mandado ele ir embora a muito tempo. Por causa dele muita coisa me aconteceu.
- Aos poucos seus fantasmas vão embora... - ela diz baixinho. Continuamos e seguimos para a sala de jantar. "Aos poucos..."
Comemos e depois levo ela para a garagem. Vitória entra e já vai passando a mão em cada escultura. Sorrio.
- Sabe o que já notei em ti? - ela olha para mim de soslaio e volta a fuçar.
- O que senhor Richards? - ela diz com irônia. Me senti no capô de um dos meus bebês.
- Você vê com as mãos! - ela olha para trás e espreme os olhos segurando a risada. Rio e pisco para ela. Ela volta a atenção para as esculturas.
- Engraçadinho! - ela termina de olhar as esculturas e se senta ao meu lado. Ela respira fundo e fecha os olhos.
- Não pode adiar sua cirurgia? - olho para o horizonte.
- Posso. - ela segura minha mão.
- Por favor! Adie por mais uma semana ... - sorrio e volto a olhar para ela, meus olhos cruzam com os dela e encaro.
- Adiantarei para depois de amanhã. - ela parece perplexa e nega com a cabeça, seus olhos marejam e ela me abraça, fico parado sem retribuir e olho para frente. Fecho os olhos e ouço ela chorar.
- Por quê? - ela questiona com a voz abafada.
- Quero saber logo o que pode acontecer comigo...
- Não! Não estou curiosa. - retribuo o abraço e dou um beijo no topo de sua cabeça.
- Eu preciso fazer isso Vitória... Agora não tem como fugir e quanto mais tempo demorar menos chances de sucesso. - afasto ela, mas ela continua olhando para o chão. - Olha para mim! - ela nega - Olha para mim por favor... - ela levanta a cabeça - Você precisa ser forte, eu preciso que você seja forte por mim. Não te peço nada além de força. Paciência. Esperança. Tudo o que puder .... - ela mordeu o lábio e levanta a mão para tocar meu rosto, deixo, e esfrego meu rosto contra sua mão.
- Eu serei paciente, terei esperanças, pedirei aos céus por você... Serei forte . - ela diz e levo a mão ao seu rosto secando suas lágrimas. Puxo ela depois e abraço apertado.
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Abominável - A lei da Atração
RomanceTantas pessoas no mundo e sempre caímos na labia do lobo mal... "Existe uma pequena linha tênue entre o ódio e o amor!" "Existem pessoas que diriam que sou louco, mas prefiro acreditar na teoria de que sou apenas um excêntrico rico em busca de uma n...