Capítulo 53

264 40 1
                                    

- Eu... Eu... Bem... Como está querido? - Ela pergunta e caminha a passos curtos e pesados em direção a minha cama.

- Te pareço bem? - Pergunto.

- Não! - Ela exclama em voz baixa.

- Pronto, respondida mamãe !

- Eu li os jornais e não quero que passe por isso novamente! - Ela parece se esforçar para não chorar.

- Faz diferença?

- Sei que fez aquilo para salvar aquelas crianças, então não quero que eles te vejam como um assassino meu filho, sei que no fundo você é uma boa pessoa e...

- Chega! Pare de querer justificar minhas ações, você não sabe porque fiz aquilo e se sabe está se fazendo de cega! - Seu semblante parece cansado, e às vezes me pergunto o motivo de ter tido essa pessoa fraca e sem forças como minha mãe.

- Consegui reverter sua situação diante os franceses e vim lhe dizer que pode retornar para a frança quando bem entender... - Seu olhar clareia - eles te absolveram.

Estou um pouco chocado com a notícia e acabo ficando sem reação por alguns segundos, "Finalmente vou voltar para casa!" Conforme a ficha cai, um sorriso cresce.

- Excelente! Talvez eu tenha que enfrentar um julgamento antes, mas terei paciência! - Ela parece se alegrar ao me ver feliz e me pergunto se é genuína essa face perturbadora. - Peça para Karoline vir aqui! - Digo com uma mágoa crescendo dentro de mim ao olhar para essa mulher. Ela assente e sai em silêncio.

Fico alguns minutos olhando para o quarto e me recordo de um momento feliz que tive.

É manhã de domingo na frança e as folhas caem e contrastam com o tapete verde formado pela grama recém aparada, estou no ensino médio e como de costume faço uma caminhada pelo parque.

Observo atentamente tudo a minha volta, nada me escapa e sinto uma vontade enorme de ter asas, lembro de uma música " Joyce Jonathan - Je ne sais pas " e enquanto repasso ela em minha mente me encosto em uma das árvores. Aguardo. Não demora muito e como se ela pudesse ler meus pensamentos começa a cantar a musica. Me assusto. E ela ri.

- Sempre te pego despercebido!

- Está linda como sempre... - Seguro seu rosto e deixo repousar um beijo casto em sua têmpora.

- Tão cavalheiro! Poderia ficar horas recebendo seus elogios Dimitry! - "Estranhamente ela me faz bem, mas às vezes me deixo levar pelos meus instintos sombrios e quero machucar ela! Se eu pudesse simplesmente ama-lá de forma natural!"

- Bem... Talvez tenhamos algumas horas e se quiser te elogio durante esse tempo! - Sorrio e ela gargalha.

- Te amo Dimitry! - "Amor... Sentimento mais humano..."

- Como está se sentindo mon amour? - Encaro Karoline e espremo os olhos.

- Fiz algo que deva me arrepender? - Ela cruza os braços e caminha para o lado da cama, logo em seguida já está acomodada na beirada da cama.

- Dimitry... Digamos que você teve um ataque paranóico por causa do seu passado e creio que ninguém grita que não quer que seja odiado ou não quer ser vítima de olhares atoa... Olhares com repulsa não são lançados para pessoas que são vítimas, então não creio que você entenda sua posição! - Acabo de ser repreendido em uma tentativa de abrir minha cabeça para uma coisa que não consigo.

Não consigo aceitar a versão da história que não sobra sentimento de repulsa, aliás creio que está impregnado em meu corpo as marcas físicas e psicológicas do ato nojento e grotesco daquelas pessoas desprezíveis.

Então não creio que vou conseguir me sentir isento de culpa e repulsa de mim mesmo.

- Não creio que minhas mãos estejam limpas Karoline, não creio que meu corpo esteja livre das coisas que fiz e...

- Pare! - seu grito é tão estridente que me pega de surpresa, seus olhos marejam - Pare de se colocar como culpado... - Ela seca uma lágrima furtiva e realmente estou perplexo e irado com essa fraqueza que emana dela - Você é a maior vítima disso tudo! Esse seu jeito torto, quebrado e deformado é culpa deles, não sua! Eles! Eles Dimitr... - ela se engasga com as palavras e me forço a tentar falar, mas não consigo, pois é a primeira vez que vejo uma reação assim.

Aperto o maxilar e fecho os olhos por alguns segundos "Por que não consigo reagir?"

- Não comece! - minhas palavras saem abafadas e não consigo fazer nada para mudar minhas reações, acabo me levantando da cama às pressas e indo em direção a janela, mas algo está errado, pois minhas forças se perdem e tudo escurece a minha volta, me apoio na parede para não cair e logo tem mãos a minha volta.

Sou carregado para a cama e minutos depois já não estou mais em pé e sim deitado.

Passo o restante do dia descansando de algo que esta me afetando fisicamente, mas curiosamente não entendo de onde vem o cansaço, pois não me movi durante o dia todo.

Já é noite quando vejo o olhar preocupado de Vitória adentrar o quarto.

- Como está se sentindo? - Ela se senta ao meu lado e segura minha mão, o ato me deixa um pouco confuso e tenho a impressão que há algo errado, os olhos dela expressam sofrimento.

- Como devo me sentir? Creio que já está na hora de saber qual o segredo de vocês.

Ela me encara e deixa escapar um soluço abafado seguido de um choro cortante, engulo seco.

- Vitória! - exclamo.

- Saiu o resultado dos exames e ... - Ela engole seco - e aparentemente você está com um tumor no cérebro! - Pisco algumas vezes e realmente estou perplexo " É esse o preço pelas minhas maldades?" Não deixo o medo me tomar.

- É operável? - pergunto com o coração palpitando. Ela assente e então sorrio na tentativa estranha de acalma-lá.

- É arriscado e você pode morrer no processo, o médico disse que talvez algumas quimioterapias ajudem, não sei como contar para sua mãe! Não sei... - ela soluça - desculpe...

Suspiro.

- Quanto tempo de vida? - pergunto aceitando de certa forma o fim.

- Ele disse que viverá bastante se as quimioterapias funcionarem e prefere deixar a operação para último caso, pois não quer arriscar perder um paciente tão novo com tantas esperanças de sobrevivência. - sua voz chorosa me assusta, mas não entro em pânico como a maioria que se sufoca na própria doença. Acredito que sou capaz de vencer.

- Está tudo bem, faremos como o médico disse! Não conte a minha mãe, contarei quando achar necessário, quero que chame a polícia aqui e diga que Dimitry Richards quer confessar um crime. - ela me encara sem palavras.

- Não farei isso!

Abominável - A lei da AtraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora