Noto que não é a ordinária e sim a maluca de Vitória, solto seu pescoço e junto o corpo mole que agora deitou sobre o chão, sinto meu coração palpitar e tenho a impressão que ela está morta!
"Prisão de novo não!"
Balanço seus ombros com força e ela não responde, pego ela em meus braços, sinto minhas mãos doerem, mas não solto seu corpo, apoio o pé que está bom no chão e puxo ela para meu colo.
Finalmente consigo pegar seu corpo e isso é ótimo, apoio a cabeça dela em meu colo e sinto seu pulso.
Nada.
Junto minhas mãos machucadas sobre o peito dela e aperto, uma, duas, três, quatro, cinco, seis e na sétima ela acorda puxando ar de uma vez.
Sinto uma onda de alívio, não que estivesse desesperado com o fato dela estar quase morta, mas não quero ser preso novamente.
- Qual seu problema? - grito com ela.
Ela começa a chorar e tampa o rosto.
- Podia estar morta! Nunca. Mais. Se. Aproxime. De. Mim! - grito com fúria e ouço a campainha, "Aí que ótimo! Visita!"
Ajudo ela a se sentar, mas ela não para de chorar, ignoro a cadeira de rodas e pulo até a porta em um pé só, vejo um rapaz com olhar assustado segurar uma bandeja com dois pratos de uma das minhas comidas favoritas.
- Entre e coloque em cima do balcão! - ordeno e empurro a porta no canto, meu humor está instável e a presença dessa garota em meu apartamento está me fazendo perder o controle.
Ele entra apressado e deixa os pratos e sai mais apressado ainda, bato a porta e me encosto nela, olho para a garota que ainda não parou de chorar.
Reviro os olhos.
- Ainda está viva, já pode parar com o choro! - digo.
- Vo-você quase me matou! - a voz dela está trêmula.
- Não matei, agora pare de drama! - ela me encara e de repente vejo seu olhar se encher de coragem. Reviro os olhos. "Isso é irritante!"
- Seu pai tinha um caso com sua babá? - a pergunta dela faz meu sangue ferver nas veias e desejo ter matado ela enquanto podia.
Pulo em direção a ela, mas quando alcanço o sofá ela se levanta e para a minha frente, distante o suficiente para eu não conseguir alcançar.
- Foi isso que fez de você um monstro? - ela ri com escárnio.
- Por que está rindo?! - Vocifero.
- Por que isso não pode ser verdade! Você tem algo mais sombrio que tudo nesse mundo e esconde isso, pois isso! Isso... Isso faz de você um monstro! Uma aberração! Uma fera sem escrúpulos! - as palavras dela acabam me causando uma sensação estranha e definiria isso como mágoa.
- O que sabe sobre mim? Não pode simplesmente sair dizendo essas coisas! - digo indiferente.
Ela seca uma lágrima que rola pelo seu rosto e me olha com desprezo.
- Você matou sua namorada, mas isso ainda não explica ter me dito que matou seu pai e sua babá! - vocifera.
Rio, na verdade não quero ser questionado sobre a morte do infeliz do meu pai e nem sobre a morte da ordinária, acredito que foi a coisa certa a se fazer quando matei eles.
O mais importante é que não levantei suspeitas na época, ou seja, isso faz de mim uma pessoa com boas táticas e estratégias.
Vejo que ela não acredita que matei nenhum deles e não estou disposto a fazer com que ela acredite, seria algo que não faria diferença no momento, já que ela não irá embora.
- Bem... Acredite no que quiser! - digo e dou de ombros.
- Você é uma besta! Uma criatura odiosa e sem sentimentos! - ouço suas palavras que saem com tom arrogante, não resisto ao ímpeto de rir.
Começo a gargalhar descontroladamente e minutos depois paro de rir com rapidez, fecho o meu olhar e dou pulos até a cadeira de rodas, me sento e tento girar as rodas, mas a situação de minhas mãos são precárias demais.
Resolvo ser bonzinho com a garota, aliás preciso dela.
- Apenas não fique mais perto de mim, pelo menos não enquanto eu estiver dormindo ou tendo algum ataque de nervos! - digo parecendo arrependido e ofendido.
Ela me olha por infinitos segundos e vejo seu olhar se tornar sereno depois de alguns minutos.
Ela agarra o encosto e me empurra para o balcão, me levanto com dificuldade e me sento em uma das banquetas. A garota se senta ao meu lado fungando.
Sinto vontade socar ela de onde estou e pedir para que ela pare com o barulho irritante do seu nariz fungando.
- O que estava sonhando? - ela pergunta em voz baixa.
Me recordo dos momentos horríveis que passei com a ordinária e como ela me tratava e sinto gosto de bile na garganta, sei exatamente como ela se movia, como se portava, como falava e gemia. Sinto raiva e nojo da ordinária, sinto vontade matá-la novamente, de novo e de novo e de novo, sempre e sempre de várias formas diferentes.
- Nada! - digo depois de me dar conta que estava apertando com força o garfo em minha mão.
Ela começa a comer e não questiona mais o que eu sonhava, comemos em silêncio e isso me conforta, aliás preciso de momentos prolongados de paz, pelo menos enquanto meu anseio por tortura não retorna e toma meu corpo.
Quando estamos quase terminando de comer ela pergunta.
- Como caiu no banheiro? - começo a rir lembrando da reação dela quando pedi que me ajudasse e ela simplesmente não quis olhar para meu corpo.
- Escorreguei! - digo entre riso, ela permanece séria e parece assustada demais, isso me causa uma sensação de vitória e prazer.
- Você é sempre assim? - a pergunta me pega de surpresa e não consigo entender o que ela quer dizer.
- Assim? - pergunto franzindo o cenho.
- Desumano... Mais bicho do que homem. - "Nossa! Mais bicho? Dessa vez ela pegou pesado!"
- Eu disse que transformaria sua vida em um inferno, mas você quis ficar, o que posso fazer?! - digo levando meu último garfo com comida a boca.
- Mais normal, menos ruim, mais simpático, menos monstruoso e impiedoso! - ela diz cada palavra com um tom mais alto.
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Abominável - A lei da Atração
RomanceTantas pessoas no mundo e sempre caímos na labia do lobo mal... "Existe uma pequena linha tênue entre o ódio e o amor!" "Existem pessoas que diriam que sou louco, mas prefiro acreditar na teoria de que sou apenas um excêntrico rico em busca de uma n...