Capítulo 21

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Noto que não é a ordinária e sim a maluca de Vitória, solto seu pescoço e junto o corpo mole que agora deitou sobre o chão, sinto meu coração palpitar e tenho a impressão que ela está morta!

"Prisão de novo não!"

Balanço seus ombros com força e ela não responde, pego ela em meus braços, sinto minhas mãos doerem, mas não solto seu corpo, apoio o pé que está bom no chão e puxo ela para meu colo.

Finalmente consigo pegar seu corpo e isso é ótimo, apoio a cabeça dela em meu colo e sinto seu pulso.

Nada.

Junto minhas mãos machucadas sobre o peito dela e aperto, uma, duas, três, quatro, cinco, seis e na sétima ela acorda puxando ar de uma vez.

Sinto uma onda de alívio, não que estivesse desesperado com o fato dela estar quase morta, mas não quero ser preso novamente.

- Qual seu problema? - grito com ela.

Ela começa a chorar e tampa o rosto.

- Podia estar morta! Nunca. Mais. Se. Aproxime. De. Mim! - grito com fúria e ouço a campainha, "Aí que ótimo! Visita!"

Ajudo ela a se sentar, mas ela não para de chorar, ignoro a cadeira de rodas e pulo até a porta em um pé só, vejo um rapaz com olhar assustado segurar uma bandeja com dois pratos de uma das minhas comidas favoritas.

- Entre e coloque em cima do balcão! - ordeno e empurro a porta no canto, meu humor está instável e a presença dessa garota em meu apartamento está me fazendo perder o controle.

Ele entra apressado e deixa os pratos e sai mais apressado ainda, bato a porta e me encosto nela, olho para a garota que ainda não parou de chorar.

Reviro os olhos.

- Ainda está viva, já pode parar com o choro! - digo.

- Vo-você quase me matou! - a voz dela está trêmula.

- Não matei, agora pare de drama! - ela me encara e de repente vejo seu olhar se encher de coragem. Reviro os olhos. "Isso é irritante!"

- Seu pai tinha um caso com sua babá? - a pergunta dela faz meu sangue ferver nas veias e desejo ter matado ela enquanto podia.

Pulo em direção a ela, mas quando alcanço o sofá ela se levanta e para a minha frente, distante o suficiente para eu não conseguir alcançar.

- Foi isso que fez de você um monstro? - ela ri com escárnio.

- Por que está rindo?! - Vocifero.

- Por que isso não pode ser verdade! Você tem algo mais sombrio que tudo nesse mundo e esconde isso, pois isso! Isso... Isso faz de você um monstro! Uma aberração! Uma fera sem escrúpulos! - as palavras dela acabam me causando uma sensação estranha e definiria isso como mágoa.

- O que sabe sobre mim? Não pode simplesmente sair dizendo essas coisas! - digo indiferente.

Ela seca uma lágrima que rola pelo seu rosto e me olha com desprezo.

- Você matou sua namorada, mas isso ainda não explica ter me dito que matou seu pai e sua babá! - vocifera.

Rio, na verdade não quero ser questionado sobre a morte do infeliz do meu pai e nem sobre a morte da ordinária, acredito que foi a coisa certa a se fazer quando matei eles.

O mais importante é que não levantei suspeitas na época, ou seja, isso faz de mim uma pessoa com boas táticas e estratégias.

Vejo que ela não acredita que matei nenhum deles e não estou disposto a fazer com que ela acredite, seria algo que não faria diferença no momento, já que ela não irá embora.

- Bem... Acredite no que quiser! - digo e dou de ombros.

- Você é uma besta! Uma criatura odiosa e sem sentimentos! - ouço suas palavras que saem com tom arrogante, não resisto ao ímpeto de rir.

Começo a gargalhar descontroladamente e minutos depois paro de rir com rapidez, fecho o meu olhar e dou pulos até a cadeira de rodas, me sento e tento girar as rodas, mas a situação de minhas mãos são precárias demais.

Resolvo ser bonzinho com a garota, aliás preciso dela.

- Apenas não fique mais perto de mim, pelo menos não enquanto eu estiver dormindo ou tendo algum ataque de nervos! - digo parecendo arrependido e ofendido.

Ela me olha por infinitos segundos e vejo seu olhar se tornar sereno depois de alguns minutos.

Ela agarra o encosto e me empurra para o balcão, me levanto com dificuldade e me sento em uma das banquetas. A garota se senta ao meu lado fungando.

Sinto vontade socar ela de onde estou e pedir para que ela pare com o barulho irritante do seu nariz fungando.

- O que estava sonhando? - ela pergunta em voz baixa.

Me recordo dos momentos horríveis que passei com a ordinária e como ela me tratava e sinto gosto de bile na garganta, sei exatamente como ela se movia, como se portava, como falava e gemia. Sinto raiva e nojo da ordinária, sinto vontade matá-la novamente, de novo e de novo e de novo, sempre e sempre de várias formas diferentes.

- Nada! - digo depois de me dar conta que estava apertando com força o garfo em minha mão.

Ela começa a comer e não questiona mais o que eu sonhava, comemos em silêncio e isso me conforta, aliás preciso de momentos prolongados de paz, pelo menos enquanto meu anseio por tortura não retorna e toma meu corpo.

Quando estamos quase terminando de comer ela pergunta.

- Como caiu no banheiro? - começo a rir lembrando da reação dela quando pedi que me ajudasse e ela simplesmente não quis olhar para meu corpo.

- Escorreguei! - digo entre riso, ela permanece séria e parece assustada demais, isso me causa uma sensação de vitória e prazer.

- Você é sempre assim? - a pergunta me pega de surpresa e não consigo entender o que ela quer dizer.

- Assim? - pergunto franzindo o cenho.

- Desumano... Mais bicho do que homem. - "Nossa! Mais bicho? Dessa vez ela pegou pesado!"

- Eu disse que transformaria sua vida em um inferno, mas você quis ficar, o que posso fazer?! - digo levando meu último garfo com comida a boca.

- Mais normal, menos ruim, mais simpático, menos monstruoso e impiedoso! - ela diz cada palavra com um tom mais alto.

Abominável - A lei da AtraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora