Capítulo 01

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O telefone toca e calmamente caminho em sua direção e creio que não deveria atender, pois no visor aparece o número de minha mãe.

- Alô? - digo a contragosto.

- Dimitry? - Ouvir a voz dela me deixa extremamente desconfortável.

- Sim - digo secamente.

- Como está querido? - resisto a vontade enorme de desligar o telefone e respiro fundo.

- Bem! - lanço a palavra com toda a hostilidade que costumo trata-la durante todos esses anos.

- Ó... Bem... Espero que esteja tudo correndo bem em sua nova moradia!

- Só isso? OK! Tenha um bom dia! - desligo e deposito o celular no tampo de vidro da mesa circular a minha frente.

Me mudei para Dourados a cerca de um mês e tenho tentado me adaptar a esse lugar ainda. Creio que minhas condutas serão mais cautelosas agora que estou em liberdade.

Minha maior conquista foi fazer o maldito psiquiatra acreditar em minha melhora repentina, aparentemente está tudo correndo como deveria, mas algo ainda me incomoda, pois não tive a oportunidade de sentir o prazer em causar dor a alguém, não tenho tido o prazer de ver o fio de sangue vermelho e brilhante atravessar uma parte de um corpo humano.

O que eu tenho eles definem como sadismo e frieza, quase uma sociopatia.

Como defino? Perversão e diversão.

Decido descer para o térreo e caminhar um pouco, acredito que os dias confinado neste desprezível quarto de hotel estejam me fazendo ficar sedento por um pouco de adrenalina.

Coloco uma calça moletom e uma camiseta regata com gola em V.

Desço pelo elevador contando os minutos e quando a porta se abre ando lentamente em direção a porta rotatória que leva para a calçada.

Sinto olhares direcionados a mim e instintivamente encaro de volta soltando sempre um sorriso de canto de boca.

Chego a calçada e coloco os fones de ouvido, começo a correr e sentir a adrenalina pulsando em mim "Daria tudo para que essa adrenalina fosse para outros fins". Corro em velocidade razoável e observo cada lugar, cada prédio, cada carro e cada rosto.

Analiso minuciosamente cada expressão facial feminina e sinto uma dor que praticamente dilacera meu coração, pois alguns olhares estão extremamente sem brilho e carregam um vazio impactante.

Alcanço uma praça repleta de pessoas e acredito que esteja assim somente por conta do sábado ensolarado e clima agradável que estamos. O sol praticamente já se esconde atrás das casas e prédios que rodeiam a praça e a noite que geralmente me faz se sentir melhor começa a se aproximar.

Sento em um banco e admiro a paisagem que me rodeia, tirando o fato de ver inúmeras crianças extremamente alegres brincando em um escorregador ao meu lado, a praça é aconchegante.

Retiro os fones e escuto os gritos ensurdecedores das pequenas criaturas que correm pela praça e no fundo do meu coração desejo que uma delas pise no calcanhar da outra e ambas caiam rolando pela calçada. Está cena seria formidável.

Vejo olhares de mães preocupadas com suas crias e imagino que talvez eu não tenha recebido esse olhar quando criança, ou se recebi não notei, mas não me esqueço do olhar de desprezo e desejo no rosto do infeliz do meu pai.

Graças aquele maldito dia, hoje tenho que me preocupar em passar uma boa imagem, e sinceramente não tem sido das melhores, não depois de dez anos de prisão e dois anos de hospital psiquiátrico, porém estou retornando às atividades administrativas da companhia de hotéis.

Observo atentamente uma criança encantadora que me chama a atenção, seus cabelos encaracolados e sua pele negra se destacam entre as outras crianças e sinto uma estranheza, e ao mesmo tempo, uma compatibilidade com as ações da pequena.

Ela está abaixada próxima a grama e observa atentamente as outras crianças correndo e brincando, seu olhar está indecifrável, mas sei que alguns pensamentos estão cruzando a sua cabecinha.

Encaro por tempo indeterminado a pequena criatura, vejo a mãe dela se aproximando, ela chama pela garotinha e sorri, logo o olhar da pequena se ilumina e ela se levanta pegando a mão da mãe, sai saltitando.

Vejo as duas cruzarem a rua e desaparecerem em uma esquina. Olho em volta e como se acordasse para a realidade, escuto os gritos ensurdecedores das criaturas novamente.

Bufo.

Levanto e acoplo os fones ao ouvido, caminho sem pressa de volta para o hotel. Ainda hoje terei que participar de uma conferência, pois somente assim reúno todos os representantes da minha companhia.

Novamente analiso cada olhar e cada gesto emitido pelas mulheres que atravessam. Algumas pessoas diriam que sou maluco ou psicopata, mas não faz diferença, aliás pessoas com pensamentos pequenos e sem senso para a observação não tem a manha de ganhar uma boa conversa.

Chego ao hotel tempo depois e caminho em direção ao elevador, noto que as pessoas estão distraídas em seus mundos pequenos e estupidamente sem graça e imagino que o meu será assim quando eu der meu máximo para a companhia e tentar esquecer meus instintos.

Vejo pessoas ao telefone, as expressões deduram uma realidade fadada a rotina pesada e desgastante. Outras expressões carregam dores de um final provável de uma relação ou a morte ainda recente de um ente querido.

Entro no elevador com mais sete pessoas e observo o sinal de luz subir em cada número estampado no painel do elevador, finalmente chego ao quinto andar e me retiro juntamente com mais uma pessoa.

Abro a porta do meu apartamento e entro trancando novamente, olho para cada móvel e cada detalhe do apartamento.

Uma mesa de vidro redonda no canto do balcão que divide a cozinha da sala. Na sala, um sofá branco de canto e uma mesinha de centro feita de madeira rústica, uma prateleira de madeira com meus livros e cd's. Na cozinha, uma geladeira e armário de vidro contendo tudo o que preciso para não ser incomodado pelo serviço de quarto, um Cooktop e uma pia de mármore também na cor branca.

Caminho em direção ao sofá e me sento, retiro a camiseta e me espreguiço por alguns minutos antes de me levantar e seguir para meu quarto. O dinheiro pode lhe comprar um apartamento com visão para o melhor da cidade e uma suíte, mas jamais comprará a paz interior.

Dispo-me e entro no chuveiro, deixo a água escorrer por cada célula do meu corpo e lavar cada parte da minha parte física, pois mesmo me esforçando a parte mental não está sendo lavada e somente tem um foco.

Satisfazer meus anseios e desejos.

Estou relendo e corrigindo alguns erros graves...
Infelizmente não sou a melhor em língua portuguesa, então ...
Mas vou, pelo menos, amenizar os erros mais graves ^^

Abominável - A lei da AtraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora