Capítulo 128

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Voltamos para a mesa e nosso avião é chamado. Nos despedimos de todos e seguimos para o avião. Minha mãe me acompanha até perto da sala de embarque.

- Creio que agora podemos deixar os dias seguirem sem culpa. - Assinto.

- Minha consciência me condena menos, pelo menos... - digo.

- Boa viagem  querido... - abraço ela .

- Até algum dia Mãe.  - digo. "Te amo."

Continuamos andando e Vitória nunca solta minha mão.

Embarcamos e seguimos viagem. A viagem vai bem e as três horas passam rápido o suficiente para logo estarmos embarcando novamente. E é nessa hora que sinto milhões de sentimentos e um deles me diz que agora é para valer e estou deixando todo meu passado para trás.

Para recomeçar talvez...

Senão for assim...

Foi bom enquanto durou.

É nesse momento que sinto que tirar os pés do chão, mesmo que seja para fazer uma viagem para outro país esteja me causando diversos sentimentos. Incluso o sentimento de alívio.

Talvez seja que a loucura que me segue fique menor e talvez, quem sabe, até mesmo os pesadelos poderiam ser deixados para trás . Seria maravilhoso poder simplesmente seguir em frente sem eles. Mesmo que as cicatrizes psicológicas continuem, sei que poderei suportá-las.

Depois de muito tempo dentro do avião, acordo com Vitória apertando minha mão.

- Dimitry... - reviro os olhos.

- Tem medo de altura? - pergunto.

- Turbulência!  - depois de segundos, começa uma pequena turbulência. "Talvez não tão pequena."

- Está tudo bem... - Ela fecha os olhos e estico minhas mãos para segurar seu rosto. Ela abre os olhos e parece papel de tão branca. Ela assente e continua olhando para mim. Sorrio e acaricio sua mão para ela saber que estou por perto.

Depois de um tempo o avião se estabiliza e solto a mão dela. Acaricio sua barriga.

- Está tudo bem ai? - Vitória olha para a barriga e depois para mim. Olho de volta e ela sorri.

- Espero que nosso filho seja mais corajoso que eu, espero que tenha a coragem do pai. - sorrio.

- Não fique nervosa. Ainda está cicatrizando sua ferida e é melhor não passar tanto nervoso. - Ela assente e encosta o pescoço em meu ombro.

- Quando chovia e eu ficava assustada mamãe dizia para pensar em tudo que ocorria ao redor. Que nada me machucaria, porque a chuva na verdade, era papai do céu lavando a casa, os trovões eram os móveis sendo arrastados e os raios eram as faíscas divinas que cada móvel soltava antes de ser puxado. No fim eu sempre imaginei que a chuva era para limpar a sujeira do mundo. - ela suspira e aperto o maxilar.

- Sua versão sempre foi melhor que a minha. No meu caso, eu não tinha a quem recorrer, a maioria das chuvas eu passava assustado e imaginava que poderia entrar alguém em meu quarto, mas quando era noite, minha mãe vinha até o quarto e me contava sempre a mesma história. Que todas as chuvas eram precedentes de coisas boas. Que sem tormenta jamais veremos um Arco-Íris.  - Vitória ri.

- Sua versão é mais verdadeira. - Ela se arruma na poltrona. - pelo menos a sua versão te dava esperanças para o que enfrentava todos os dias. Se fosse como a minha,  você simplesmente imaginaria que não tinha ninguém por você,  iria se revoltar pela sua sujeira nunca ser limpa e estaria pior. - jogo a cabeça para o lado.

- Talvez... - depois de muito tempo viajando finalmente o avião começa a pousar.

Assim que chegamos em solo francês fico extasiado. "Estou em casa!" Descemos do avião e sentir o doce e velho clima francês me faz sentir uma nostalgia sem tamanho.

Seguimos para sentir do aeroporto e esperamos que nossas malas desçam do avião. Depois de sair do aeroporto procuro um táxi que possa nos levar para casa. A casa que vivi durante minha infância e adolescência.

Vitória está admirada com todas as coisas que vê e parece gostar. Me sinto protegido e ao mesmo tempo tentado a praticar pecados que o mundo abomina.

Depois de algum tempo andando chegamos em frente ao portão de casa e Vitória sorri animada. Descemos as malas e somos recebidos pelos serviçais que a tanto tempo não via. Assim que entramos pelo portão sinto meu coração bater mais rápido "Estou em casa!"

Seguro a mão de Vitória e seguimos para dentro. A frente da casa é meu lugar preferido por inúmeros motivos. Primeiro o balanço, depois um arco de flores silvestres, depois a porta de madeira talhada com anjos, mas o mais importante, o emblema da família cravado em torno da maçaneta da porta.

Tudo se torna mais lindo dentro da casa. Uma sala com a maior televisão que já vi. Não que isso me importe, mas o sofá negro é tão marcante quanto o lustre da sala de jantar.

Depois o corredor que leva para meu quarto e ao final o quarto que uma vez abrigou um monstro.

- Seu quarto é lindo! - olho para Vitória que está admirando todo o quarto. Me lembro de ter feito a constelação no teto quando estava no colegial.

- Gostou? - ela assente. - É aqui que nosso bebê vai ficar. - seus olhos brilham , talvez a parte que ela tenha mais gostado foi o desenho da parede que fica a janela. Me lembro de ter desenhado essa fênix quando ouvi a história dela. Assim que estava para morrer ela arrancava suas penas e se tornava cinza, mas logo renascia delas.

Para mim o "amor" por mais dolorido que fosse era necessário para nos fazer melhores e mais fortes.

Talvez eu tivesse razão,  mas não exatamente precisava ser a dor física sendo expressada.

- Você desenhava muito bem... - Ela começa a caminhar pelo quarto e toca a luminária, depois a cama e por fim meu piano e violino. - Não sabia que tocava... - levo a mão na cabeça,  devo parecer envergonhado.

- Eu era muito novo... Eram meus passatempos para fugir um pouco do meu eu interior. - "Era para não quebrar a cara de alguém toda vez que abrisse a boca, para ser mais exato!"

- Posso te ouvir tocar? - nego com a cabeça. - Por quê?

Abominável - A lei da AtraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora