Capítulo 30

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- Como me achou? - ele pergunta.

- Digamos que eu estava andando e te vi aqui! - digo animada e ele revira os olhos.

- E por que está ... - ele faz cara de nojo - ...assim!?

- Porque não me troquei e nem tomei banho ainda esperto! - digo me esparramando na cadeira.

- Será que pode se retirar da minha mesa. - ele ordena, franzo o cenho e volto a sorrir.

- Paga algo para eu comer, por favor - junto as mãos - estou faminta! - digo, ele bufa e aperta o maxilar.

- Pede logo! Seja rápida, não quero ser visto com você! - ele diz.

Agarro o cardápio e opto por ravioli de queijo ao molho branco, chamo o garçom.

- Traga este prato! - indico com o dedo o que quero e ele assente se distanciando.

Dimitry parece bravo.

- Podia sorrir verdadeiramente de vez em quando! - digo chamando a atenção dele para mim.

- Sua presença é algo que me impede de sorrir! - ele diz levantando uma sombrancelha.

- Pegou as muletas, que bom. - digo fitando as muletas do lado da cadeira dele.

- Perfeito, pois assim você não será mais necessária...

- Sério? - digo parecendo ofendida.

- Por que simplesmente não faz seu trabalho ridículo em cima de outra pessoa!? - ele exclama.

- Porque você é um paciente curioso! - digo.

- Seu argumento é falho!

- Não precisa ser preciso, apenas aceitável para mim! - digo, ele ri com desdém.

- Que excelente pessoa que seu pai colocou no mundo! - ele diz com desprezo.

Sinto uma coisa ruim dentro do meu peito e suas palavras acabam machucando.

- Por que está dizendo isso? - pergunto sem deixar transparecer minha mágoa.

- Por que você é apenas uma garota mimada, infantil, sem graça e dependente! Você não é ninguém Vitória! É apenas uma filhinha de papai que nunca saiu de casa e não conhece às dificuldades do mundo. - engulo seco e sinto meus olhos ficando marejados, as palavras dele saem em tom áspero e me pergunto o por quê ele está dizendo essas coisas.

- Por que está dizendo isso? - pergunto novamente mais chateada ainda.

- Porque é a realidade, você correu para seu pai essa manhã como uma criança birrenta e medrosa! - começo a soluçar e não quero que as coisas que ele diz sejam verdade, mas são.

Limpo uma lágrima furtiva e me levanto da mesa.

- Obrigada pelo almoço! - digo virando as costas com a mochila.

Ainda estou com fome e agora me sinto pior do que tudo, estou suja, suada, com fome e calor.

Caminho pela calçada pesando as palavras de Dimitry e sinto um nó na garganta, ele definitivamente rouba toda a alegria que o rodeia.

Ele suga toda a positividade e o ânimo das pessoas a volta dele e tem roubado a minha desde o primeiro instante que me viu. Tem tirado meu sorriso, meu ânimo, minha alegria, minha paciência, meu bom humor.

Caminho durante alguns minutos e não chego a lugar nenhum, pois na verdade não tenho aonde chegar. Não tenho uma parada, um refúgio, um local para chorar ou para sorrir.

Passo a tarde toda caminhando e já estou farta e cansada, cansada de mim, cansada do meu jeito, cansada de viver assim, cansada de tentar acertar, cansada de tudo.

Anoitece e a fome é gigantesca, papai me liga e não atendo, mamãe me liga e não atendo, amigos? Não tenho. Pessoas de confiança? Não tenho.

Talvez meu jeito afaste pessoas também, decido não pensar nisso e engulo seco, me lembro de um ex namorado que tenho e ainda possuo seu número, decido ligar para ele.

Após alguns minutos ele atende.

- Alô?

- Marcos?

- Sim, quem é?

- Sou eu, Vitória! Será que poderia me fazer um favor? - pergunto como quem não quer nada.

- Claro Totó!  - "Odeio esse apelido!"

- Estou perto daquele restaurante chinês importante da cidade, poderia me pegar aqui e me dar um teto e comida só por hoje? - pergunto.

- Claro Totó! - "Vou matar ele!"

- Obrigada, te espero! - digo e desligo antes que ele me chame de totó novamente e eu atire o celular no chão.

Após quase uma hora estou sentada no meio fio e recebendo ligações de papai e mamãe constantemente. Realmente preciso sair de casa.

Finalmente Marcos chega.

- Oi Vitória, quer uma carona? - ele pergunta como se me visse pela primeira vez.

- Óbvio né! - digo entrando no carro, Marcos é um babaca a maioria do tempo, mas é estonteantemente lindo, ele acelera e acabo ficando um pouco sem ar - Vai com calma, OK!

- Claro que irei! - ele diz indo com mais calma - Então por que está me ligando? E se oferecendo para passar a noite lá em casa?

- Porque briguei com meu pai e com outra pessoa que não vem ao caso! - digo.

- Entendo... Quer dizer que ainda mora com seus pais?

- Moro! - digo rapidamente - mas quero me mudar.

- Está na hora não é Vitória? Você não é mais a adolescente que está terminando o segundo grau. - as palavras dele me atingem como um tapa.

- Nossa, podia ser menos direto! - digo cutucando a costela dele, ele se esgueira e ri, rio junto, mas logo fico séria e suspiro. - Tem razão! Eu sei... - consigo ouvir as palavras de Dimitry e isso me dói.

- E como anda a vida?

- Estou terminado meu TCC, decidi fazer faculdade e não ser uma inútil o restante da vida! - digo engulindo seco.

- Fez o que gosta? Sempre dizia que queria ser paisagista! - mais uma vez engulo seco e o fiapo de bom humor que eu tinha, acaba.

- Não! Fiz psicologia... Acabei gostando do curso! - minto, na verdade fiz a faculdade para desafiar meu pai.

- Por que será que não acredito em você!? - ele diz rindo.

- Talvez porque me conheça melhor do que eu mesma - respondo mexendo em meus dedos.

Ele estaciona depois de alguns minutos.

- Chegamos! - ele diz animado - Olha eu... - ele coça a cabeça e me encara - eu me casei, então você vai ver minha esposa e meu filho ali dentro, eles são muito receptivos, então não se sinta acanhada. - "Oi?" Levo um susto e fico congelada olhando para ele, ele balança meus ombros e me apresso a falar.

- Claro! Eu... Bem... Meus parabéns! - digo sorrindo nervosamente.

Abominável - A lei da AtraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora