Capítulo 87-A morte e o nascimento

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Gerald me guiou até a sala onde Selene se encontrava, com passos hesitantes e o coração disparado, entrei na mesma e a cena que encontrei quebrou meu coração em milhões de pedaços.
Dylan se encontrava aos pés da cama de Selene, estava coberto por sangue. Sangue dela. Sua amada.
Ele estava sentado, com os olhos que parecia não ter alma. Com o corpo sem forças, parecia que a vida tinha o deixado também.
Hiro olhou para a cena e depois em minha direção, pude ver seus olhos encherem de lágrimas e soube que ele sentia a dor de Dylan. Ele se colocou em seu lugar e só de imaginar a possibilidade daquilo acontecer com nós dois, o quebrava.

Assim que me aproximei de Dylan, Hiro se afastou e com passos leves e cuidadosos me sentei ao lado do meu irmão de pais diferentes.

-Dylan...- peguei sua mão.

-Ela se foi... Ela se foi.-disse Dylan com a voz embargada.

-Dylan...-honestamente, não sabia o que dizer, então apenas o abracei.- Vem, vamos te tirar daqui, você precisa de um banho. (Ele não era o único).

Dylan usou as últimas forças que tinha e saímos dali. O sangue ainda estava pingando da maca de Selene.

Ele tomou um banho e eu fiz o mesmo, depois tive que tomar um coquetel de remédios para as possíveis infecções que eu poderia ter, enquanto Dylan tomava soro na veia. Ele parecia entorpecido, pois sabia o que havia acontecido, porém não havia digerido a notícia ainda.
Pelo o que Gerald me contou, Selene havia tido três paradas cardíacas, parecia ter um parasita dentro dela, sugando todos os nutrientes, todo o sangue, tudo o que podia tirar dela. Julgaram ser a nova variante da tempestade, mas não era. Um dos bebês estavam matando ela.
Acreditamos que ela contraiu a doença na tempestade, mas ela não apresentava nada. A doença consumiu um dos bebês e ele se alimentou dela, o que causou as paradas cardíacas e Dylan morreu por dentro.
Acredito que seja mais fácil quando não conhece os rostos, mas Dylan conhecia o muito bem o rosto de Selene e ela não vai sair de seus pensamentos e lembranças tão rápido.
Eles não tiveram muito tempo, Selene estava morrendo, tendo outra parada. A doutora Amanda teve que fazer o que podia com o que tinha. Eles tinha anestesia e retiraram os dois bebês prematuros dentro da bolsa, mas Selene não resistiu.
Não sabíamos como essa variante reage ao clima, a alimentação e qualquer outro fator. Iria evoluir? Não sabíamos de mais nada.

Depois de um tempo, fui ver como Dylan estava. Finalmente ele estava dormindo um pouco, mas acho que colocaram algo no soro para que ele dormisse e então me sentei na cadeira ao lado da maca em que ele estava e acabei por dormir também.
Acordei pela manhã quando senti o cheiro do café da manhã e o beijo de Hiro em minha testa.
Comi um pouco enquanto ele contava que estavam preparando o corpo para o funeral e depois queimariam o mesmo por segurança. Disse ainda que Felicia apareceu naquela noite, quando Dylan e eu já dormíamos. Ela cuidou dos pequenos bebês que foram retirados do corpo de Selene ainda dentro da bolsa e colocados em um pote improvisado pela própria Felicia para mantê-los vivos. Hiro comentou que ela injetava algo no cordão umbilical, que julgava ser vitamina e mais coisas que bebês precisam. Na minha opinião eram bizarros, já Hiro chamava de milagre. Bebês de pote, devo admitir que estava impressionada de que não estavam mortos ainda, mas eu sabia que não iriam muito longe, era impossível. Tudo o que eu pensava era em Dylan, sabia que ele não suportaria mais uma morte.
Hiro ficou bravo quando comentei essas coisas, disse que aquilo era cruel e ficou incrédulo de como poderia dizer aquelas coisas.
Pedi desculpas e coloquei a culpa nos últimos acontecimentos, camuflando a mentira. Não havia como aqueles bebês sobreviverem. Eu sabia disso. Hiro sabia disso. Dylan sabia disso e por isso não quer ver as crianças, sabe que a dor vai ser pior se ver os rostinhos deles.

Quando chegou a hora do velório que improvisaram em uma das salas, Dylan desmaiou, mas esperaram ele acordar para se despedir e queimarem o corpo. Deixamos ele sozinho com ela. Era o último adeus dele.
Depois disso apenas vimos ele andando de volta para a sala em que tomou soro e fez um sinal para que não o seguíssemos.

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