capitulo 1-Pandemônio.

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Acordei naquela manhã com meu despertador tocando e minha avó dizendo pra tomar café que "estava na hora" e com isso ela se referia a levantar para ir para escola. Depois de enrolar um bom tempo na cama (como sempre), me levantei e logo que abri a porta do meu quarto, o cheiro do café inundou minhas narinas. Adorava aquilo. Era uma hora em que todos ficavam juntos pra tomar café.

Havia pelo menos uns dois meses que as aulas tinham começado e aquele seria mais outro dia normal da minha rotina (ou quase). Pelo menos era o que eu achava. Fui me trocar e me olhei no espelho uma ultima vez. A luz que entrava pela janela bateu no meu colar de prata e refletiu no espelho, me deixando quase cega. Pisquei algumas vezes.

Minha avó me chamou novamente e vi que meus cabelos castanhos estavam embaraçados devido a noite mal dormida. Eu me lembro de suar frio e rolar pela cama em busca de uma posição confortável na qual dormir e  foi tudo devido um sonho estranho que tive. Eu me lembro de estar sendo perseguida, mas não podia ver os rostos dos perseguidores.

Infelizmente a escola não considerava noites mal dormidas como um motivo relevante para faltar e minha avó concordava (injustiça). Devido a minha preguiça, fiz um redemoinho e prendi meu cabelo em um ninho no alto da cabeça como sempre (tive que me preocupar com pássaros durante o trajeto até a escola). Mesmo nos dias em que dormia bem, sempre fazia o mesmo penteado (porque eu sempre estava com preguiça).

Eu me despedi e coloquei meus fones de ouvido. Minha mãe sempre dizia que eu deveria parar de andar com esse "troço" no ouvido ou algo acabaria acontecendo. (provavelmente a crise aconteceu enquanto eu estava com os "troços" no ouvido). Estava frio e minha respiração formava uma fumaça. Eu era a única adolescente naquela rua vazia e com a neblina tudo ficava mais sombrio. Estavam todos dentro de suas casas quentinhas enquanto eu estava do lado de fora morrendo frio. Eu me aconcheguei mais em meu casaco.

Mas apesar disso, tudo estava normal até ali. Desci a rua da minha casa com passos vagarosos (minha vontade de chegar na escola era muito grande) (como sempre) e ouvi um grito agonizante. Parei tentando decifrar de onde vinha, mas não precisei. Ela veio em minha direção quando virei a esquina da rua. Levei um susto, meu coração parou e um gelo percorreu minha espinha (em outras palavras, quase mijei nas calças). Ela estava sangrando (rezei para que ela não estivesse "naqueles dias") e agarrou meus braços, me marcando com sangue.

-Socorro, socorro. – (ela praticamente cuspiu em mim) ela estava apavorada o que me fazia ficar também. Ela se engasgou quando ia falar alguma coisa e de repente, parou.

-Senhora? –eu disse e ela passou por mim, caminhando, mas parecia sem rumo. Os olhos dela mudaram, parecia cinza e as veias ficaram saltadas.

A cada passo ela parecia ter espasmos e o sangue escorria pelas mãos e pelo pescoço, pingando no chão e deixando um rastro pela rua.

Não entendi absolutamente nada (como sempre) e observei por algum tempo enquanto ela se afastava até que desaparecesse de vista. Recoloquei meus fones (troços de acordo com minha mãe) ainda sem entender (novidade) e tentei fingir que nada tinha acontecido, mas o sangue permanecia no meu casaco. Dei alguns passos á diante e olhei por entre o beco que formava entre as duas casas, onde a mulher tinha saído.

Andei em direção ao beco cautelosamente, a grama não ajudava e acabei fazendo barulho, mas mesmo assim, continuei. Eu me escorei na parede e segui rente até chegar ao fim dela. Respirei fundo.

Minha mãe sempre me dizia que eu era curiosa demais e que "a curiosidade matou o gato" (lógicas da minha mãe). Cheguei á conclusão que eu era uma gata (amor próprio é tudo), mas a curiosidade era maior que eu. (afinal de contas, dá onde minha mãe havia tirado aquilo?). Eu deveria ouvir-la.

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