O show havia sido insano. Um público foda. Estádio abarrotado de gente. Uma adrenalina do caralho. Meu corpo ainda não tinha relaxado o suficiente para impedir os pequenos espasmos e meus ouvidos ainda vibravam à batida da música, que parecia cada vez mais alta e estridente. Até me dar conta de que na verdade era a porra do telefone.
Eu não sei se era meu estado de semi consciência ou se era a Rê quem não dizia coisa com coisa. Mas o fato é que desliguei sem entender a metade do que ela havia dito. Sabia que era algo com o bebê. Mas não conseguia definir se era um problema grave que ela tentou amenizar, ou se estava surtando sobre uma bobagem qualquer.
Me enfiei embaixo do chuveiro gelado e me forcei a lembrar de tudo o que ela disse. Eu não estava bêbado, caralho. Eu só havia sido pego de surpresa, sei lá. Enquanto a água escorria e trazia lucidez, as palavras na voz chorosa começaram a se fechar num quebra-cabeça gigante na minha mente e a fazer algum sentido.
...Um exame tinha apontado um problema, o risco era alto. Ela não queria ter ligado, mas seria uma filha da puta se não me avisasse. Só que não queria falar sobre isso agora. Que me procura quando estiver mais calma. Pra eu não insistir...
Mas como eu não ligo de volta? Como eu fico aqui sem saber o que de fato está acontecendo? Ok, que ela pode estar precisando de um tempo pra digerir sei lá que porra é essa. Mas... e eu fico como?
Saí daquela ducha pensando na única pessoa que nessas horas me vem à mente. A quem eu recorro mesmo sem que ela saiba o motivo da minha fuga até ela. Quem me abriga, seja de que maneira for, sempre que me vejo meio perdido. Ela certamente estaria a par de tudo e me ajudaria a pensar.
O tom grave da sua voz denunciou que a acordei, embora mentisse descaradamente sobre isso. Me desculpei e expliquei sobre o telefonema e, apesar de sonolenta, minha princesa conseguiu me esclarecer o problema.
- Caralho, que marretada! – Foi só que consegui dizer depois de algum tempo, porque era exatamente essa a sensação.
Cara, isso é ser pai? É sentir seu peito estrangular quando você se vê impotente diante da sua função mais básica: Proteger sua cria? Eu não podia começar falhando. Eu não tinha esse direito, depois de todas as merdas que fiz na minha vida. Desta vez eu tinha de acertar e eu iria conseguir. Nada nunca veio fácil pra mim e por que viria agora? Se esse é mais um desafio do meu destino, que venha!
A mãe dele vai se acalmar, vai me procurar. E quando isso acontecer, esse bebê já vai ter um rosto. E seja lá o tipo de dificuldades que ele venha a ter nessa vida, eu estarei lá. A porra desse dinheiro todo, que até então me soava até meio sem sentido, finalmente vai me ser útil. E eu vou ser um puta pai pra essa criança!
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Lado Escuro da Lua
Любовные романыEsse livro é uma coletânea dos POVs de Canções da Minha Vida e Diários de Malu, à venda na Amazon.com.br. Essas visões dos personagens foram escritas pelas leitoras e, algumas, pela autora, e nasceram de uma brincadeira no grupo Realidades Paralelas...