Graças a Deus pelo Vince. Se não fosse ele, eu quebrava o Rod. Tô louco pra quebrar alguém, e se não fosse o Vince, ia sobrar pro Rod mesmo.
Ok, quebrei um quarto inteiro, mas não foi o
suficiente. Essa porra só pode ser um pesadelo. Aliás, às vezes tenho a nítida impressão que vou dormir e que, quando acordar, nada disso vai ter acontecido. Nunca estive tão na merda quanto agora, quando acho que vai melhorar, piora, e cara, eu não entendo! Eu não consigo entender como tudo ficou desse jeito! Entendo a parte daquela filha da puta louca ter se metido entre a gente, mas porra, não aconteceu nada! Até pra Malu, que é certinha, não era para ela ter pirado dessa maneira.
E aí veio aquele telefonema.
Puta que pariu, aquele telefonema. Foi aí que eu quebrei o quarto e por muito pouco não quebrei a cara do Rod.
-O Rod está acertando os prejuízos e vão deixar a gente continuar no hotel – Vince falou.
-Eu não quero ficar aqui! Eu vou lá.
-Você não vai.
-A porra que eu não vou.
-Você. Não. Vai!
Capaz de eu quebrar a cara do Vince também.
-Eu preciso ir lá, caralho! Eu tenho de fazer alguma coisa!
-Não há nada que você possa fazer! – Vince berrou. Vince é aquele amigo que me dá uns berros de vez em quando. E, como eu berro pra caralho, ele pelo menos berra mais alto.
-Ela quer fazer esse aborto porque tá com raiva de mim! De birra!
-E se for? De todas as pessoas do mundo, você acha que é você que ela vai escutar? Ela tá com a Rê, tá com a Kate, tá com a Singe. Se for pra ouvir conselho de alguém, ela vai ouvir delas. Ela não vai te escutar.
-Mas ela não tem esse direito, porra!
-Tem! É o corpo dela, a decisão é dela!
Que merda é essa? Viramos judeus agora, só vale a mãe e o pai não tem porra nenhuma a ver com a história? Eu sei que a Malu não vai me escutar, mas cara, eu monto guarda na porta do apartamento da Rê se fosse preciso, e quero vê-la passar por mim! A Malu não tem o direito de me tirar tudo de novo, caralho. É a segunda vez que ela faz isso, eu abro a porta, dou a deixa, ela entra, e aí me tira tudo. Da primeira vez eu não tive escolha, mas agora eu tenho que fazer alguma coisa. Puta sensação de impotência! Puta raiva de mim por me sentir assim de novo!
-Eu tenho que fazer alguma coisa – Eu repeti, com ideia fixa.
-Vai fazer o quê, cara? Pegar um avião e ir a Londres, amarrar a Malu durante nove meses e obriga-la a ter essa criança contra a vontade pra você ter a ilusão que não acabou? Acabou, porra! Ela deixou claro que acabou! E se não for birra? E se ela não quiser mesmo essa gravidez? Vocês vão foder com a cabeça de uma criança por teimosia? Trazer alguém pro mundo é uma coisa séria pra caralho.
Puta que pariu. Teve um motivo pra eu ter chamado o Vince. Na verdade, não, o motivo é que ele e o Rod me ouviram enfiando o punho na parede, mas, se não fosse isso, ainda assim eu teria chamado o Vince. É que ele é prático pra cacete. Eu penso muito pouco e ele pensa pra caramba, e eu preciso de um amigo assim agora, mesmo que me dê vontade de esmurra-lo cada vez que ele diz que, pra Malu, tá acabado. E me dá tanta raiva porque tá acabado mesmo. Não acredito que tão pouco enterrou a gente, mas puta que pariu, a culpa é minha. Eu devia conhece-la. Depois de tantos anos, eu devia saber que tão pouco seria o suficiente. Juro que só o que salvou a vida da Lita foi ela ser mulher. Só isso.
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O Lado Escuro da Lua
RomanceEsse livro é uma coletânea dos POVs de Canções da Minha Vida e Diários de Malu, à venda na Amazon.com.br. Essas visões dos personagens foram escritas pelas leitoras e, algumas, pela autora, e nasceram de uma brincadeira no grupo Realidades Paralelas...