(2009) Malu: É Roda da Fortuna porque anda em círculos

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Uma vez vi um filme com o Tim Robbins em que ele morria na guerra (do Vietnã?), mas não sabia, achava que voltava para casa e tinha essas alucinações bizarras, até se dar conta que estava mesmo morto e o Macaulay Culkin aparecer todo fofo (ele ainda era fofo) em uma escada pro paraíso.

Acho que é isso que está acontecendo comigo. Estou morta, não me importo, e estou louca pro Macaulay Culkin vir me buscar.

Cara, eu andava numa maré sensacional, todo tipo de coisa boa, linda e fabulosa acontecendo na minha vida, e foram anos fabulosos! Sou uma anta em não perceber que algo da magnitude de um meteoro em chamas cairia na minha cabeça. Porque cai. Demora, mas cai.

Meu bebê estava de volta, e é tão raro isso acontecer que fizemos um churrasco, um frio do cão, mas fizemos um churrasco porque bom... fazemos sempre, ainda mais quando bebês retornam. Nunca entendi direito essa ideia descabida do Victor de estudar cinema do outro lado do mundo, mas pensei, ok, sou a Nova Malu, sou um ser incrível e independente, nem um pouco carente e posso aceitar que o meu bebê já sabe cozinhar (mal), talvez lavar suas meias e cuecas, lembrar de pagar suas próprias contas e quem sabe fazer o dever de casa, ainda que da faculdade, sem ser pressionado para isso.

Beleza.

Aí meu bebê arruma uma namorada, coisa que ele faz desde a mais tenra infância, e tudo bem que ela tem um ar meio hippie, mas passou pelo meu teste de sinais óbvios de uso de drogas e come legumes. Quem sabe ela até o fizesse comer legumes também?

Tranquilo.

Aí Victor diz que vem passar o natal e o aniversário e que trará a namorada. Não vi a necessidade, mas a Nova Malu é um ser desapegado, e fui tão superior à história toda que perguntei o que poderia dar de presente a ela.

Chegaram, passamos um fantástico natal com toda a família reunida, veio o aniversário, o churrasco, e Victor falou que ele e a namorada queriam conversar comigo e com Tom no escritório.

Ai, meu Deus, o meu bebê a pediu em casamento! Um bebê! Se casando! Como, senhor, como?!

Não era casamento.

Victor, aquela doce alma inocente que já esteve no meu ventre e me custou oito horas de trabalho de parto, repito, sem anestesia, deu um sorriso feliz e disse:

-A Julia está grávida!

-Quem é Julia? - Perguntei, em total negação.

A namorada deu uma risada achando que fosse piada, e, como Victor e Tom, que me conhecem, ficaram mudos, eu comecei a me dar contar que talvez eles estivessem falando sério.

-Mas não é possível! Victor, você está fazendo vinte anos! HOJE!

Bebês de vinte anos não ficam grávidos. Bebê nenhum fica grávido. Pra um bebê ficar grávido, isso significa que ele faz sexo, o que obviamente não era o caso.

-Mamãe, você ficou grávida com dezenove.

-Ah, que maravilha! Vamos todos seguir o meu exemplo! Vamos ficar grávidos com dezenove anos, virar imigrantes ilegais, ter uma overdose...

-Chega, Malu - Tom resolveu intervir. - Vamos pensar nas coisas práticas.

-Que coisas práticas? - O que havia de prático em um bebê grávido, meu Deus do céu? Eu ia surtar. Estava sentindo o surto se aproximando. Minha temperatura corporal estava nas alturas!

-Já está tudo acertado - Victor, meu filho que acabou de colocar o dedinho do pé fora da adolescência, falou, super calmo, tranquilo e até um pouco zen. - A gente vai se casar. Eu vou arrumar um emprego que pague mais, mas aí vou ter de trabalhar mais horas, fazer menos matérias, essas coisas.

O Lado Escuro da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora