Ela disse:
Tudo pronto e arrumado. Comidas, bebidas, luz ambiente, música suave, isso sem falar nas duas horas que passei escolhendo o que vestir: nada muito formal, mas nada muito à vontade, nada que me fizesse parecer uma pobre coitada, nada que passasse a impressão que não precisava de nada, embora eu não precisasse mesmo.
Ah, droga, nem sabia o motivo de tanto escarcéu! Que coisa ridícula! Tudo bem que a notícia era grandiosa e apavorante em iguais proporções, mas parecia que eu estava pronta e armada para a sedução. Percebi isso logo que o Eddie tocou o interfone, apertei o botão e saí correndo acendendo luzes, colocando comidas de volta na geladeira, devolvendo as bebidas ao bar e desligando o aparelho de som. Não dava tempo para uma nova avaliação de vestuário, mas tentei pelo menos trocar os sapatos de salto por sandálias.
Ok, bem melhor. O que faltava mesmo? Ah, sim, abrir a porta.
Na verdade, eu não entendia o motivo de tanto nervosismo. Em primeiro lugar, ter aquele bebê havia sido uma decisão minha, não importava o que o Eddie resolvesse fazer a respeito ou que papel desejasse desempenhar. É lógico que, se ele ficasse presente, facilitaria a minha vida sob todos os aspectos. Mas, se não, por qualquer motivo egoísta ou machista que ele pudesse ter, eu e o bebê ficaríamos bem também. Mas não seria agradável. E o problema de ter de dividir uma bomba dessas proporções com alguém como o Eddie é que eu realmente não sabia o que esperar. Ele é um amor de pessoa, mas, o que de fato se passa naquela cabeça, isso ninguém sabe dizer. Bom, de qualquer forma, eu estava prestes a descobrir.
Abri a porta e Eddie tinha trazido uma caixa de Godiva. Não era presente para a amante, era a gentileza inerente dele. Ele faz o estilo que nunca chega aos lugares com as mãos abanando e, sempre que vai à Singe ou à Malu, enche os bolsos de balas pras crianças. Eu agradeci, ainda que tivesse de passar os chocolates adiante por causa da dieta, falei para ele sentar, conversa vai, conversa vem, conversa vai de novo, conversa vem de novo... Isso porque eu o havia chamado hoje dizendo que queria falar sério. Ele, claro, estava presente durante o estouro da camisinha e era de se imaginar que tivesse uma ideia do assunto, mas não deu a menor pista e deixou que eu esgotasse todos os temas do meu repertório. Não que fosse difícil conversar com o Eddie, veja bem. Ele tem o papo mais fácil do universo.
Mas eu tinha um propósito, e era melhor fazer como nas minhas reuniões e ir direto ao ponto:
-Eddie, eu estou grávida. E, eliminando os outros candidatos, que são inexistentes, o bebê é seu.
Silêncio. O Eddie estava em silêncio. Isso nunca havia acontecido em todos os anos em que eu o conheço, e são muitos. Então talvez ele estivesse pensando em motivos egoístas e machistas, no final das contas, e achei melhor facilitar a sua vida e a minha.
-Eu já tomei a minha decisão e vou mantê-la independentemente da sua. Mas, como você é o pai, achei que...
Ele me interrompeu:
-E qual é a sua decisão?
Caramba, que situação cinquenta por cento. Minha resposta tinha chances iguais de ter final feliz ou provocar uma enorme decepção, e sim, estou falando de mim mesma. Mas já estava ali, com uma linha entre a gente e só me restava ver se ele a cruzaria para o meu lado.
-Eu vou ter o bebê.
Ele disse:
Acho que, quando a gente chega em frente a um penhasco de dimensões colossais, todas as conexões entre os neurônios se desfazem e a gente se torna a pessoa mais estúpida do mundo. Nunca associei a Rê ter me chamado ao seu apartamento ao fato da camisinha ter estourado. Na hora ela ficou bem descontrolada, me colocou pra fora, depois eu liguei pra ela e ela disse que estava tudo bem. Como se ela tivesse condições de saber que estava tudo bem em tão pouco tempo. Eu não era o pior aluno em biologia da classe, ainda que não fosse o melhor, mas de alguma forma acreditei. E então ela me chama no seu apartamento e diz que está grávida.
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O Lado Escuro da Lua
RomanceEsse livro é uma coletânea dos POVs de Canções da Minha Vida e Diários de Malu, à venda na Amazon.com.br. Essas visões dos personagens foram escritas pelas leitoras e, algumas, pela autora, e nasceram de uma brincadeira no grupo Realidades Paralelas...