Por @TdeFreitas
Desde que eu ouvi sua voz no telefone eu não consigo dormir.
Eu preciso vê-la, ela vai embora hoje. Talvez já tenha ido. Essa pode ser a minha última chance de rever a única mulher que eu amei.
Ando de um lado pro outro pensando no que eu devo fazer. Será que eu devo ir lá? Será que ela quer me ver?
Ai caralho, como pode depois desses anos todos eu sentir a mesma coisa e com a mesma intensidade? Eu devo estar ficando maluco, só pode!
Será que a Malu é a mesma? Será que ela está feliz? PORRA! Eu preciso saber!
Pego as chaves do carro e saio pela porta, entro no carro e me dirijo ao meu passado... passado esse que não consigo esquecer.
Chego na casa da Rê em tempo recorde, aliás nem sei como não bati o carro. Estaciono em frente ao prédio, e tantas lembranças vêm a minha mente, boas, não tão boas e algumas ruins.
Subo os degraus e entro, chego à porta da Rê e paro. Dou meia volta e paro novamente. É claro que ela está feliz, idiota, ela está casada e tem um filho. Então não tem nada demais eu ir lá e dizer um "oi Malu". É isso o que vou fazer. Me encaminho de novo à porta, respiro fundo e bato. Sam abre sorridente e surpreso ao mesmo tempo, se afasta e me deixa entrar.
-E aí, Tom, beleza? - me diz ainda sorrindo.
-Beleza, Sam, a Malu ainda está aí? - digo, com as mãos no bolso da calça e encolhendo os ombros.
-No quarto dela, quer que eu chame?
-Não precisa, eu sei o caminho. - Saio passando por ele e vou direto ao quarto da Malu.
Chego lá e a porta está entreaberta e perco o fôlego. Malu está mexendo em sua mala, entro e me encaminho em sua direção, e de repente ela se vira e grita ao me ver.
-Legal ver que eu continuo causando esse tipo de reação. - digo, sorrindo.
E num impulso a abraço. Sinto seu cheiro, e é como voltar pra casa. Foda-se! - Que bom que eu consegui te pegar em Londres. - A abraço mais apertado. Porra! Essa é a minha Malu, é onde ela pertence e deveria estar. Ela murmura um quase inaudível "É" e eu a solto, e nesse momento a olho por inteiro. Caralho! Ela continua a mesma, só que mais bonita, mais mulher. SIM! É a mesma Malu de oito anos atrás, mas mais madura. Porra como isso é possível? Me sento no sofá e ela me encara com desejo no olhar.
-Então, o que foi que te deu? - Pergunto curioso. - Esses anos todos desaparecida, e de repente resolve fazer uma visita relâmpago?
No fundo, espero que ela diga que está aqui por causa de mim. E é aí que ela me conta que foi forçada a voltar ao Brasil pela primeira vez em 10 anos, o que pra mim não foi surpresa nenhuma, até porque a última vez que a Malu viu sua mãe as coisas ficaram tensas entre elas. E em como ela estava tomando banho de banheira e repensando e refazendo seus passos Rio-Londres-Paris-Rio, e que saiu do banho feito uma uva-passa, (sorrio pra mim mesmo em pensar como a Malu pode ser tão detalhista e dramática), e disse que a mãe da Kate jogou tarô pra ela anos atrás, e que falou da morte que não era morte e a Roda da Fortuna. Nesse ponto confesso que me surpreendi com tanta revelação, não fazia ideia de como ela se sentia esses anos todos. E pra completar ela disse que morria de saudades de uma casa que ela não tinha ideia de onde ficava, e por isso resolveu verificar se por acaso ela não seria aqui em Londres. Na hora juro que me enchi de esperanças, mas então eu me lembrei que ela estava casada e tinha um filho. Confesso que eu não sei bem o que vou fazer se a Malu resolver se mudar pra cá, acho que vai ser meu fim vê-la com o marido, mas se ela está feliz, então é tudo o que importa pra mim. Aí resolvi perguntar o que estava na minha cabeça.
- E é? - Pergunto ansioso.
- Não sei. É bom e triste estar aqui. Eu nunca me sinto tão bem-vinda em lugar algum, e ao mesmo tempo fico sempre pensando que a minha vida poderia ter sido muito diferente. - ela diz, e eu penso que se eu tivesse pedido a ela que ficasse, estaríamos juntos. Porra! Por que eu deixei que ela fosse embora?
-É, tem aquela história que uma mariposa batendo as asas aqui pode causar um maremoto no Japão, ou algo parecido. - digo. - Talvez, se não tivesse acontecido nada daquilo, teria acontecido outra coisa uns anos depois e agora você estaria tirando vermes de crianças na África.
-Eca! - ela diz sem pensar, mas conclui rapidamente. - Não pelas crianças, pelos vermes. - eu sorrio, porque é assim que eu me lembrava dela. Ah... meu Grilo Falante.
-De qualquer forma, o que importa é que tudo terminou bem...Não foi?
-Claro. - ela me responde sem tirar os olhos de minha boca. - Estou há sete anos sem nenhuma recaída, consegui a família que eu queria...
-E está feliz? - Porra por que isso dói? Por que saber que ela conseguiu o que queria com outro me machuca tanto? Porque você ainda a ama. Ela fica muito tempo em silêncio, como se estivesse pensando o que deveria responder.
-Eu acho que essa é a única pergunta que é mais fácil responder aos dezoito anos do que aos trinta. - ela diz e nesse momento a Renata resolve nos interromper. E fica surpresa ao me ver ali.
-Oi, Rê. - me levanto e beijo o seu rosto. - A gente estava colocando o assunto em dia, só para o caso da Malu passar mais alguns anos sem dar as caras.
-Ela volta pro ritual - Renata responde apressadamente. - Não dá pra colocar nada em dia em cinco minutos, e eu tenho certeza que a Malu tem muita coisa para contar. - ela diz.
Então vejo que não temos mais tempo pra conversar e digo a Malu que conversaríamos com mais calma, desejei boa viagem e saí. Saio da casa da Renata e sinto que ficou muita coisa a dizer, pelo menos eu tenho. E no fundo sei bem o que eu quero falar a ela. Tenho que dizer tudo aquilo que não foi dito há oito anos, tenho que pedir a ela que volte e que fique comigo, porque é aqui que é sua casa e de onde ela nunca deveria ter saído.
Entro no carro e penso em como fazer que meu Grilo Falante volte pra Londres e pra mim...e caralho como eu quero que ela volte pra mim. Só de pensar nisso já fico doido. E ela vai voltar.
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O Lado Escuro da Lua
RomanceEsse livro é uma coletânea dos POVs de Canções da Minha Vida e Diários de Malu, à venda na Amazon.com.br. Essas visões dos personagens foram escritas pelas leitoras e, algumas, pela autora, e nasceram de uma brincadeira no grupo Realidades Paralelas...