Sou grandinha, não é como se ainda pudesse ficar de castigo.
Sou maior de idade, não é como se tivesse de dar satisfação, né?
Sou dona do meu nariz, sou adulta, sou...
Ai, caralho!
O dinheiro e as joias da minha mãe foram divididos entre mim, Josh e Dave. Eu só vou poder encostar na minha parte quando fizer vinte e um anos e, apesar de continuar pedindo uma máquina de aceleração do tempo pro Papai Noel todo natal, isso só vai acontecer ano que vem. Não faço ideia do que o Dave fez com a parte dele e, pra falar a verdade, estou pouco me fodendo. O Josh comprou um apartamento bem legalzinho e que deve ter custado os olhos da cara em Chelsea, mesmo com os protestos do papai. O papai acha que o Josh gasta demais. Cara, nós três gastamos, e o papai reclama tanto que entra por um ouvido e sai pelo outro. Isso tudo para dizer que matei umas duas aulas e fui até o apartamento do Josh, e não adiantou nada, pois ele não estava. Fiquei sentada na portaria, esperando-o chegar.
Cara, que merda.
Não queria que o Josh ficasse chateado comigo. Nem entendia por que ele ficaria, aliás, já que ele era um cretino filho da puta que não valia um centavo. Mas a Alex disse que ele estava puto, e aquilo estava me matando.
Pior, e se ele contasse pro papai?
O papai me mataria e, se não, eu mesma me jogaria no rio com uma pedra amarrada no pescoço. Cara, que saco! Que bando de homem dramático! Foi só um beijinho, e muito do besta! Teve nem língua!
Passei uma meia hora sentada e de repente vi um carro super legal encostando. Não entendo nada de carros, só se eles custam pouco ou muito dinheiro. Aquele custava muito. A porta do motorista abriu e, dela, saiu meu querido irmãozinho.
-Tá podendo, hein, Josh? – Dei um assobio e falei.
Ele olhou ao redor, me viu e trancou a cara.
-Não tô falando com você.
-Me leva pra dar uma volta – Ignorei.
-Porra, Anna, você é surda?
Uia. Josh só me chamava pelo nome quando eu estava metida em encrenca. Todos, aliás, faziam isso. Menos o Dave. Quando via o Dave, mais ou menos uma vez a cada milhão de anos, ele sempre me chamava de Anna porque nossa relação já era uma encrenca por si só.
Josh passou por mim e usou sua chave para abrir a portaria. Fui atrás dele, que ficava me ignorando como se eu fosse, sei lá, a sua sombra. Ou um tijolo na parede. Ou... Bom, ele estava me ignorando. Foi assim enquanto subíamos as escadas, quando ele abriu a porta do apartamento, e acho que, se não tivesse me enfiado rápido, ele a teria fechado na minha cara.
-Fala comigo – Pedi.
Ele sentou em silêncio no sofá, colocou os pés sobre a mesinha de centro e ligou a TV.
-Fala comigo, Josh!
Nada.
Sentei no colo dele, de frente para ele, e fiz minha cara de chimpanzé.
-Caralho, sua retardada – Ele deu uma gargalhada.
-Fala comigo – Pedi, com cara de chimpanzé.
-Baby, você é muito idiota.
-Eu sei.
-Você tem noção do que você fez? Eu devia te matar!
-Cara, foi só um beijo! Nem beijo, foi praticamente um selinho! – Sério, qual era o motivo de tanto escândalo? – Tudo bem ficar puto se você fosse a Julia, mas você não é a Julia! Você é o Josh, e aliás você não estava comendo aquela mulher casada?
-Olha a situação, Baby! Raciocina! O Victor é um dos meus melhores amigos, eu fui padrinho do casamento deles, aí recebo um telefonema dele dizendo que a minha irmãzinha lhe deu um beijo na frente da mulher! Você bebeu?
-Você pode comer uma mulher casada, eu não posso dar um selinho num cara casado? Nem foi selinho, vai. Foi mais um beijo na bochecha que deu errado.
-Você tem é que ficar longe do Victor. Beije, dê pra quem quiser. Pro Victor, não!
-Por que não?
-Porque não. Meu amigo? Padrinho de casamento? Além de burra você está mesmo surda?
Que injustiça. Minha vida inteira é uma enorme injustiça. Nunca tive chance de brigar pelo Victor porque era a irmãzinha pirralha dos amigos dele. Agora não sou mais pirralha, mas não posso lutar porque ele arrumou uma mulher antes disso? Dei um beijinho de nada, mal encostei, e virou um escândalo! Nem foi como se tivesse valido a pena. Pra ter valido, tinha de ter sido um beijo de verdade. E agora todo mundo me condenava como se eu tivesse corrompido o Victor, o forçado a praticar adultério.
-Eu gosto do Victor, Josh – Falei, o que me deixou puta, porque ele devia estar careca de saber disso.
-Gosta nada, você cismou que gosta só porque não pode – Ele falou e eu fiquei muito magoada.
-Não é verdade! Você que diz que eu não gosto só para não ter problemas com seu melhor amigo incrível porque foi padrinho do casamento dele. E não sei se não posso. Casamento não é pra sempre.
-A gente não pode ter tudo o que quer, lesada.
-Muito engraçado! É você que diz que a gente pode ter tudo o que quer, sim, é só ter a manha.
-Ok – Ele falou, derrotado. – Mas a manha não é agarrar o cara na frente da mulher dele!
-E qual é? – Perguntei, interessada.
-Nem vem. O Victor não é pro seu bico e esse assunto acabou.
Quem decidia isso? O Josh? Ele era Deus? Era dono do Victor? Ah, que droga.
-Ele comentou com alguém? Além de você? – Perguntei.
-Não, por quê? – Josh me olhou de lado, desconfiado.
-Porque não queria que o papai soubesse.
Josh deu um sorriso e me puxou em um abraço. Amo meu irmão.
-Não comentou com ninguém e não vou contar pro papai. Mas se comporte, Baby.
Fiz que sim com a cabeça, pelo menos pra acabar com a guerra. Impressionante, eu estou sempre me metendo em confusão ou aliviada por ter acabado de sair de uma.
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O Lado Escuro da Lua
RomanceEsse livro é uma coletânea dos POVs de Canções da Minha Vida e Diários de Malu, à venda na Amazon.com.br. Essas visões dos personagens foram escritas pelas leitoras e, algumas, pela autora, e nasceram de uma brincadeira no grupo Realidades Paralelas...