(2016) Tom: A Maldição das Marias de Lourdes

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Eu e Vince estávamos tendo uma discussão imbecil por causa do retardado do Chris. Acontece o seguinte: essa história que o cliente tem sempre razão basicamente nos transforma a todos em putas. Tem puta que dá a buceta, tem puta que paga boquete, Puta Tom e Puta Vince têm de enfiar umas galinhas (isso mesmo, o bicho) no estúdio porque o Chris quer usar em uma das faixas (vão vendo a merda que meu pano de prato está ajudando a forjar) e, como o crack fritou todos os neurônios do filho da puta, ele não quer trazer o áudio gravado pra ser incluído porque não vai dar veracidade suficiente. Vince tentava me convencer que o máximo que as galinhas fariam seria cagar no chão e isso a gente limpava, e eu estava respondendo que ele não limpava nem a própria bunda, muito menos merda de galinha, quando entra uma morena alta, puta corpaço, umas pernas longas e lindas em um shortinho e metade dos vagabundos que estava lá se virou para olhar. E aí eu me toquei as pernas de quem eles estavam olhando:

-Vocês estão loucos? Dá pra parar de olhar a porra da minha filha, seu bando de pedófilos?

Imediatamente todo mundo levou um susto e voltou ao que estava fazendo. Até a Angie se assustou.

Em Cem Anos de Solidão, tem essa personagem que possui uma beleza sobrenatural e não faz a menor ideia, mesmo quando os homens caem do telhado, quebram o pescoço e morrem tentando vê-la tomar banho. A Angie nunca matou ninguém, e se o filho da puta não quebrar o pescoço tentando vê-la pelada, quem o mata sou eu. Mas a Angie é linda, e não é porque é minha filha. É linda mesmo. E totalmente sem noção. A menina é mais largada pra se vestir que eu. Porra, mais largada que o Mick. Só que isso inclui uns shorts que ela deve ter comprado quando tinha dez anos e continua usando com dezoito.

-Pai, que vergonha! – Angie se aproximou, a cabeça baixa pra esconder o rosto com os cabelos.

-Vergonha é o que você tá vestindo. Isso é roupa de banho, não é pra sair na rua.

Ainda peguei uns dois ou três marmanjos olhando a Angie e a fiz entrar na cozinha. Como ela é filha da mãe dela, na mesma hora ela começou a juntar a louça suja dentro da pia e lavar.

-Tem gente pra fazer isso – Eu falei.

-E essa gente obviamente não está fazendo – ela respondeu.

-E é por isso que você veio aqui? Pra se candidatar a um emprego de faxineira? Acho maneiro e tal, mas eu e sua mãe gastamos uma grana com a sua educação, seria legal se você fizesse algo que exigisse um diploma, sei lá.

Angie sorriu e soltou a bomba:

-Papai, você gostaria de conhecer o meu namorado?

-Ele existe? Merda, eu e Victor tínhamos apostado com a sua mãe que ele era imaginário. – Cara, a Angie falava que estava namorando desde o início do ano. Nunca ninguém soube quem seria o filho da puta, até que o Victor veio com essa história que ela devia estar querendo competir com a Lily. Lily tem quatorze anos e é bem mais esperta que ela.

-Pai, claro que não é! Eu já te falei dele. Aquele cara, o Ben. De boa família, faz direito, super respeitador...

-Respeitador como?

-Ah, papai, você sabe.

-Não sei, não. Respeitador como?

-Brocha.

-Ah, ok.

-Então, vai ter o churrasco de aniversário do Luca, né? Eu pensei em leva-lo. Você vai trata-lo bem?

-Eu trato todo mundo bem. Sou educado pra caralho.

-Mas, assim, se você puder falar menos palavrão, só dessa vez.

-Porra, além de brocha ele é uma velha de oitenta anos?

-Papai!

-Tá bom, tá bom.

-E ele usa sunga.

-PUTA QUE PARIU HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA.

Daí você pensa que o Luca sendo o aniversariante e tal, o churrasco seria dele. Ok, acho que o moleque se divertiu, tinha outras crianças, mas o que todo mundo tava esperando mesmo era pra ver o namorado da Angie. Lá pelas tantas, me entra ela com esse cara de calça social, camisa polo, sapato de couro, caralho, e o cabelo tão bem partido do lado que então eu tive certeza, aquele ali era brocha mesmo. Pelo menos não cegou todo mundo com a sunga. A galera toda na piscina, o moleque sentado do lado de fora tomando um coquetel, só faltou levantar a porra do dedinho pra segurar o copo.

-O que você achou? – Malu falou do meu lado, enquanto eu vi o tal do Ben comendo um cachorro quente com um GUARDANAPO ABERTO NO COLO.

-Bizarro.

-Não, Tom! – Ai, porra, não era pra dar a minha opinião? – Tudo errado, ele é todo errado.

-Ele é todo certo! Aquele ali ainda deve ser virgem! Malu, não arruma suas paranoias com todos os namorados de todos os nossos filhos porque é gente a dar com o pau.

-Tom, a Angie é uma Maria de Lourdes e o Ben é um Mario de Lourdos!

-Pensei que ser Maria de Lourdes tivesse virado uma coisa boa.

-Esse é o tipo ruim. A Angie nunca vai ser uma Verdadeira Maria de Lourdes se sair com um Mario de Lourdos!

-É Verdadeira Maria de Lourdes? Pensei que fosse Verdadeira Malu.

-Argh, Tom, você me entendeu!

Entendi porra nenhuma. Malu veio com uma história há uns anos de ser a Verdadeira Malu e agora queria empurrar isso pra Angie, foi tudo o que eu entendi. Só que a mãe da Malu era louca. Eu e a Malu não somos normais, mas pelo menos nunca proibimos a Angie de viajar com os amigos, coisa que ela nunca fez, mas porque não quis, nem viramos os psicopatas do cinto quando ela veio falar desse Ben pra gente. É engraçado pra caralho porque, do lado de fora, a Angie é totalmente uma Lewknor. Pegue ela e as minhas sobrinhas, e você diria até que são irmãs. Por dentro, ela é totalmente a Malu, e as duas vivem procurando defeito uma na outra.

No dia seguinte, a Angie ligou:

-O que você achou?

-Do que?

-Do Ben, papai!

Odeio essa pergunta, nunca sei qual a resposta certa. Você pensa que elas querem saber o que você acha mesmo, você diz, e daqui a pouco tem uma mulher berrando na sua orelha que você tá achando tudo errado.

-Ah, não reparei.

-Óbvio que reparou. Ele não é legal?

-É... é maneiro e tal. – Troquei umas duas palavras com cara, na segunda descobri que ele vota Tori e não dei mais conversa. E não é como se eles fossem se casar. – Vocês não vão se casar, vão?

-Claro que não! Pai, eu tenho dezoito anos!

-Mas o que vocês fazem?

-Como assim?

-Ah, sei lá, tipo, ele vai aí na faculdade te ver, te leva pra sair, aí vocês fazem o que?

-A gente vê filmes. Ou vai jantar. Ou lê.

-Porra, o cara vai te ver pra ler? Ficam os dois mudos lendo, caralho?!

-É divertido! Ele me conta do livro dele, eu conto do meu. Às vezes a gente lê o mesmo livro junto.

Dezoito anos pra arrumar um namorado, e a Angie arruma é um Clube do Livro? Tudo errado, esse Ben é todo errado. Puta Mario de Lourdos da porra! Odeio esse cara. 

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Esse POV faz parte da Semana do Tom, que acontece até dia 23/01 no grupo Realidades Paralelas da Mari

O Lado Escuro da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora