Se você ainda não chegou a 1998 nos Diários, este POV contém spoilers
-Vá embora até você aprender a valorizar quem tem em casa!
-Vou embora até você aprender a valorizar mais alguém além de você mesma!
-Você me humilhou na frente dos seus amigos!
-Porra, você foi grossa com uma amiga minha na casa dela!
-Mas você é meu marido! Que tal me defender uma vez na vida?
-Você não precisa de defesa quando você só ataca!
-Seria ataque se fosse outra pessoa? Se fosse qualquer outra pessoa além daquela Malu?
Eddie ficou em silêncio. Ah, Deus, chegamos a um daqueles momentos folhetinescos cafonas até dizer chega. A esposa suburbana confronta o marido sobre outra mulher. E eu achando que o nosso casamento nunca passaria por esses momentos de novela de quinta categoria. Aliás, me sinto terrivelmente enganada. Ao invés do "felizes para sempre", o que Eddie havia me prometido quando colocou a aliança no meu dedo foi exatamente que passaríamos longe daquela espécie de drama.
E aí a Malu voltou, virou a vida de todo mundo do avesso, e lá estávamos nós, no meio de uma briga dramática e idiota.
A parte que eu sinceramente não consigo entender e me deixa mais perplexa em toda essa história é como o Eddie pode ser tão estúpido. Um homem lindo, bem-sucedido, seguro, inteligentíssimo agindo dessa forma não tem outra explicação além de uma estupidez cavalar.
-Ela está feliz com outro, Eddie! Ela acabou de ter dois filhos do seu melhor amigo, e você me trata daquela forma por causa dela? – Eu continuei gritando, presa no melodrama e incapaz de escapar dele. – Você não me respeita e não se respeita!
E era isso que nós havíamos combinado. Respeito. Não teríamos fidelidade, mas teríamos respeito. E eu não me importo com quantas ele vai para a cama, ele só tem sido infiel a mim depois que a Malu voltou. Não estou falando de corpo, e sim de espírito, e é isso que sou incapaz de perdoar. Não quero saber de casamentos românticos que mais parecem prisões, frutos de uma mentalidade pequena vendida para nós por romances baratos de jornaleiro. Se estamos casados, não preciso e nem faço questão de ser a única. Mas jamais vou ser estepe. E, hoje, foi isso que eu me dei conta que sou, que eu sou estepe. Eu, Naomi, substituindo uma dona de casa na cama do meu marido, e jamais no coração. Era só o que me faltava!
Pior que esses pensamentos, só a humilhação sem limites de confessá-los, enquanto eu via o Eddie cada vez mais bravo. Sei disso porque ele estava mudo, seu semblante mudou, sua respiração estava mais pesada e havia aquela ruguinha característica aparecendo entre as sobrancelhas.
-É ela, não é? Nós somos uma farsa! Esse casamento aberto só existe por causa dela e porque você é covarde demais para fazer alguma coisa a respeito.
Eddie chegou em mim em duas passadas. Eu cruzei a linha, sei disso, e não me importo. Provavelmente, fiz de propósito. Ele pegou a minha mão e me arrastou para o quarto, e agora eu sabia o que aconteceria. Mais que isso, sabia a motivação e, por mais torpe que fosse, não ligava a mínima. Se o respeito era um dos pilares do nosso casamento e estava fissurado, o tesão não falhava nunca.
Ele me empurrou na cama, fazendo com que eu caísse de costas, de forma rude, mas sem a intenção de me machucar. Sem tirar os olhos de mim, ele ficou em pé aos pés da cama, tirou a camiseta e abriu o jeans, mas não tirou a calça, e notei pelo movimento das suas pernas que ele tirava os sapatos pisando nos calcanhares. Seus olhos estavam completamente negros, hipnotizantes, e eu não conseguia desviar deles. Nem queria. Eu estava imóvel, paralisada e ofegante. Gosto muito da forma que ele se transforma, e o mínimo que sinto nessas horas é fascínio, mesmo com toda a nossa briga. Ele fez um sinal com o dedo e apontou pra mim para que eu não me mexesse, e eu não faria isso também. Ele se virou e caminhou com as costas tatuadas para o armário. Sabia bem o que ia pegar. Ele ia calar a minha boca. Sempre que eu cruzo a linha, ele cala a minha boca. E, quando Eddie voltou, havia a mordaça com bola em uma das mãos e um chicote em outra.
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O Lado Escuro da Lua
RomanceEsse livro é uma coletânea dos POVs de Canções da Minha Vida e Diários de Malu, à venda na Amazon.com.br. Essas visões dos personagens foram escritas pelas leitoras e, algumas, pela autora, e nasceram de uma brincadeira no grupo Realidades Paralelas...