Hoje completo um mês no mais absoluto inferno. E olha que antes das chamas de satanás subirem e começarem a lamber a minha bunda, também não estava muito legal. Mas, como dizem os pessimistas de plantão, nada está tão ruim que não possa piorar. O pior é que é verdade.
Podem dizer que é exagero. Aliás, sou mesmo conhecida por ser exagerada. Mas fiquei tão de saco cheio de comprar lenço de papel que cansei e passei a usar papel higiênico. Bom, a mamãe tem essa mania, às vezes um pouco irritante, de dizer que toda desgraça tem um ganho. Vamos dizer que eu tive um ganho, sim: Ganhei o certificado de pior amiga de todo o universo conhecido.
Foi tudo em uma curva ascendente de horror e, como eu disse, as coisas também não estavam boas antes. Se estivessem, eu não teria chegado ao meu limite. E esse foi quando resolvi parar de ser adulta e acionar os adultos de verdade, pegar a Renata pelos cabelos e jogá-la no olho do furacão, onde eu e Tommy já estávamos esquentando cadeira há um tempão. Fiquei bem aliviada, pensando que agora tudo tomaria jeito, até a Malu chegar no meio da tarde, chapada (duh, óbvio), sem emprego, e eu me vir obrigada a dizer que a Renata estava vindo buscá-la. Sou covarde, sim, cacete! O plano era que eu e Renata falássemos com ela juntas, mas acabei pegando um raio de uma gripe e ficando em casa, Malu chegou mais cedo, aquele ar permanentemente aéreo dela me deu no saco e falei. Pela milésima vez, diga-se de passagem. Só que agora eu joguei o nome da Renata e daquele Rick na roda, a coisa ficou feia, e ela veio me passar na cara que eu estava tentando roubar o namorado dela.
Não que ela não dissesse isso pelo menos uma vez por semana. E não que eu não estivesse tendo o máximo de paciência além da cota que qualquer ser humano tem direito. Cara, torcia por aqueles dois. Torcia pra caralho! E sou várias coisas, algumas delas nem me orgulho, mas furar olho de amiga, isso eu não furo. Tenho certeza que Tommy não comentou nada com ela sobre o beijo e, mesmo que tivesse comentado, não foi minha culpa! Nunca olhei pra ele quando ele tava solteiro, jamais olharia agora. Então que porra era aquela? Existe um limite pra procurar dramas pra própria vida, né não?
Então o elástico arrebentou e eu virei bicho. E fui horrível. Fui absolutamente horrorosa. E o verdadeiro inferno começou.
No início, nem me dei conta. A Rê chegou do trabalho pra pegar a Malu, eu disse que a gente teve uma briga feia e ela havia saído, e não ficamos muito preocupadas. Não que ela fosse fazer alguma coisa que prestasse, mas não seria muito diferente de todas as outras noites, e a Renata se despediu me pedindo para ligar pra ela quando a Malu voltasse.
Desnecessário dizer que a Malu não voltou. E aí eu comecei a surtar seriamente. Porque tudo bem, ela andava rainha em fazer merda, mas nunca tinha sumido por tanto tempo. Minha mãe longe, os rapazes longe, e eu não sou de ser dependente, mas de repente me sentia tão absolutamente desamparada! Renata trabalha o dia inteiro, mas pedi a ajuda da Singe, e saímos por todos os lugares em que ela poderia estar. Mas a Singe é aquela coisa, né? Em momentos de crise, ela começa a chorar e correr no mesmo lugar como galinha sem cabeça e mais dá nos nervos que ajuda. Nada.
Comecei a lembrar da Gigi. Pânico! E olha que, comparada com a fase atual da Malu, a Gigi era até boazinha.
Quando os rapazes voltaram a Londres, eu já havia acabado com meu estoque de lenços de papel e considerava passar pro papel higiênico.
Vince e Tommy vieram pra cá depois de passar em casa para deixar as coisas, e devem ter achado assustador me pegar descabelada, aos prantos, enlouquecida pela casa e ligando para toda a lista telefônica. Olhei pro Tommy e não sabia o que dizer. Só o que eu tinha de ter feito era ter-lhe devolvido a namorada sem que ela tivesse fritado todos os neurônios, e agora a Malu estava solta pela cidade, sem casa, sem nem a merda de uma mala, sem dinheiro, fazendo sabe-se lá o quê.
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O Lado Escuro da Lua
RomantizmEsse livro é uma coletânea dos POVs de Canções da Minha Vida e Diários de Malu, à venda na Amazon.com.br. Essas visões dos personagens foram escritas pelas leitoras e, algumas, pela autora, e nasceram de uma brincadeira no grupo Realidades Paralelas...