(1998/1986) Quando Tom conhece a Malu

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Por @MariMonteiro1


Não sei quem inventou esse negócio de se falar os próprios votos. Tipo, entendo a ideia e tal. É mais legal que ficar repetindo o que o padre fala na sua orelha. Isso se você souber escrever. Tenho um milhão de coisas que diria para ela, que gostaria que ela soubesse, que talvez até já saiba, mas sei lá, seria maneiro lembrar no dia do nosso casamento. Só que tudo se resume a "Eu prometo te fazer feliz", porque no fundo isso é tudo o que quero. Mas não posso chegar na frente dos convidados e dizer uma única frase tosca.

O Vince deu essa ideia de eu falar do dia que a gente se conheceu. Caralho, se eu falar do dia que conheci a Malu, certeza que ela desiste do casamento e ainda perco o amigo.

A gente tinha ido tocar no Revenge, clube que era mais ou menos como nossa segunda casa nos anos 80. Nessa época eu saía direto com a Anna, mas ela estava tocando em outro lugar com a banda dela, acho que no After Dark. A banda dela estava indo bem, aliás, e os Angels ainda estavam lutando.  Mas, naquela noite, o clube estava lotado, principalmente por causa dos Nighthawks, um bando de cuzão com um som um pouco acima do medíocre que ia ser assistido por um agente. Não, não sei por que eles faziam sucesso. Sei que a gente odiava os caras e, por um certo tempo, eles estavam sempre à nossa frente. Bom, mas agora estamos aqui, e ninguém mais escuta falar deles, então acho que a gente riu por último.

Mick também tinha começado a sair com a Singe, uma puta menina linda, baterista também. Não tinha (e continua não tendo) um só parafuso na cabeça, mas cacete, que garota bonita. Ela foi nos assistir no Revenge e levou um pessoal da escola, inclusive duas brasileiras. Uma delas, claro, era a Malu.

Ela não me chamou a atenção. Nenhuma. Kate, a outra brasileira, sim. Kate era gata, engraçada, inteligente. Sabe aquela pessoa com quem você pode se trancar em um quarto por uma semana e não vai faltar assunto? Se bem que não era bater papo que eu tinha vontade de fazer com ela por uma semana trancados no quarto. Só que Vince foi mais rápido que eu. Com isso, fiquei tentado a ligar pra Anna e ver se a gente se encontrava depois, mas fiquei curioso com a outra menina. O pessoal teve a ideia de comer alguma coisa, e fui atrás para ver o que rolava.

Como está registrado nos anais da minha história, não rolou. Aliás, se dissessem pra mim naquela noite que, depois de amanhã, eu e Malu estaremos nos casando, e mais, que sofri como um filho da puta por causa dela durante anos, eu teria mandado se foder. Porque, naquela lanchonete, ela não abria a boca, a não ser quando perguntávamos a ela alguma coisa diretamente, e ela respondia com duas palavras e olhando pro prato. Era uma menina bonita, não linda, mas eu teria investido nela, muito mais por ser estrangeira do que por me despertar interesse, se ela não colocasse essa muralha na frente de todo mundo. Quando soube que tocava guitarra, e Singe jurou que tocava bem pra caralho, juro que pensei que ela só tocasse em igreja.

É, o mundo dá voltas.


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No grupo do Face Realidades Paralelas da Mari, está rolando a Semana do Tom, de 1 a 7 de junho. Este POV é resultado disso. Apareça por lá ;)


O Lado Escuro da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora