(2015) Tommy: Amor Sublime Amor

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Moro em um apartamento bem legal. Tudo bem que tenho dezoito anos, trabalho desde os dezesseis, mas é claro que meu salário não paga isso, vamos combinar. Mamãe vive dizendo que a gente tem de dar duro pra conquistar as coisas, aí você faz o seguinte:

-Tá.

-... – Mamãe em silêncio.

-... – Você em silêncio.

-Para, Tommy!

-Não disse nada, mãe.

-Você está me olhando.

-Mas tô na sua frente, vou olhar pra quem?

-PARA COM ESSA CARA DE PIEDADE QUE EU NÃO AGUENTO! FALA O QUE VOCÊ QUER QUE EU DOU, DROGA!

Foi assim que terminei aqui. A tia Rê tem um apartamento bem maneiro em Swiss Cottage que ela ia vender, depois decidiu alugar, em seguida ficou na dúvida... Ah, sei lá. Tia Rê é uma pessoa complicada. Pra resumir a história, a mamãe combinou com ela de alugar para mim e para a Angie, mas a Angie teve um daqueles Faniquitos Angélicos dela porque ela diz que eu sou espaçoso demais. Problema dela. Tá se apertando no alojamento da faculdade e eu tenho um apê só pra mim, e tomara que ela levante toda manhã pisando em camisinha usada e encontrando calcinha suja das outras na gaveta dela pra ver quem é espaçoso.

A Baby ia se mudar pro quarto que ficou vago, e a gente já tinha todo o esquema de festas e putarias armado, mas o tio Mick não concordou em pagar a parte dela do aluguel. Ela divide um estúdio com duas vacas e paga o aluguel com a beleza dela, sério. Baby não faz porra nenhuma da vida. E o tio Mick é inglês, olhar pra ele com cara de piedade não funciona. Daí, como a Baby não poderia pagar sozinha e eu não ia ter como explicar pra mamãe que ia sustenta-la, pois dona Malu acha que ela ainda tem emprego, ela ficou por lá. Mas não sai daqui. E, quando não está aqui, ela telefona. Beleza. Amo aquela loura de paixão. Mas porra, não quando finalmente consegui atrair um boy delicioso pro meu covil, rolando toda espécie de baixaria no sofá, e o telefone toca. Era uma da manhã. Só ela me liga a uma hora da manhã.

Ia ignorar. A ocasião merecia que o telefonema fosse ignorado. Mas fui cretino o suficiente de olhar a tela e tinha uma mensagem de texto: "ksdhgwtedb". Puta merda, a filha da puta já tava tão travada que nem conseguia mais digitar.

-Não acredito que você vai lá – O boy falou.

-Minha mãe precisa de mim – respondi, pra apressar.

E onde aquela loura havia se metido? Só me toquei da questão quando entrei no taxi (mamãe não me deu um carro nem com toda cara de piedade do mundo, pois carros são "máquinas da morte") e não sabia o que dizer pro motorista. Aí lembrei que a Baby tinha dito que ia à festa da Tree House e mandei tocar pra lá.

Cheguei e tive de arrancar a língua de um carinha da garganta dela. Cara, como a Baby faz merda. Ela fica ruim, tem um momento de lucidez, me liga, aí eu vou atrás e ela me chama de escroto pra baixo por acabar com a diversão dela. Arrastei a idiota pro meu apê, a enfiei embaixo do chuveiro enquanto ela chorava que ama o Victor, e dali a pouco ela estava roncando no sofá onde eu devia estar dando pro boy naquele exato momento.

Desde que a gente começou a sair, a rotina de manhã é sempre a mesma. Eu faço um café e coloco na cara dela, e ela acorda me xingando porque sempre enfia a mão na caneca.

-E o juízo, loura? Vem quando? – Perguntei, quando ela pegou a caneca.

-Preciso de um banho. Vem!

-Porra, para de me fazer te olhar tomar banho! Não vou te comer, Baby, desiste!

-Eu te amo, Tommy, eu te quero, Tommy – Ela saiu cantarolando a caminho do banheiro, enquanto tirava a roupa e jogava beijos com as mãos. Cara, que mulher louca. Amo aquela vadia.

-E eu quero o seu truque pra não ter ressaca.

-Estou explodindo por dentro. Sou um vulcão, Tommy! Vem me fazer dormir, Tommy!

-Dormir?

-Não é isso que vulcões fazem?

-Sei lá.

Baby se enfiou no chuveiro e eu, claro, fui. Ela gosta de conversar enquanto toma banho, e não sei se faz isso com as vacas que dividem o estúdio com ela, mas comigo ela faz desde sempre. Baby, claro, foi a primeira mulher que eu vi pelada. Foi meu primeiro beijo também, no jardim da casa do tio Mick, quando eu tinha nove anos. Não foi um grande beijo, diga-se de passagem.

-Vem cá, quando você vai deixar de ser empata-foda? – Perguntei, encostando no balcão da pia.

-Ah, eu empatei? – Ela perguntou e parecia culpada. Tem uma galera que acha a Baby egoísta pra cacete. A Angie faz parte dela. Mas ela tem um coração sensacional, só é preciso desenterra-lo.

-Não importa, vai. O que aconteceu?

-E eu sei lá o que aconteceu? Me diga você.

-Você me mandou um SOS, te arranquei da Tree House e você chegou uivando que ama o meu irmão. Sério, Baby, para. Ele está de mudança marcada.

-Cara, mas eu não entendo! – Ela revirou os olhos e fez bico. Às vezes viajo nas expressões da Baby. Cada cara que ela faz dá um quadro. Um rosto expressivo pra caralho e sem um ângulo ruim. Dizem que a mãe dela era linda assim, mas duvido que já tenha havido alguém no mundo com tanta expressão, talvez só a mamãe.

-Eu que não entendo! Segue adiante, vá em frente.

-Fala sério, você gosta da Julia?

-Ah, ela é maneira.

-Não perguntei isso, perguntei se você gosta dela.

-Não tenho muito assunto com ela. Mas também não tenho muito assunto com o Victor.

-Bizarro, né? Tipo, vocês estão na mesma área, artes e tal, e você nem tem assunto com ela. Isso é sinal que tem alguma coisa muito errada com ela.

-Eu não tenho que ter assunto com ela, quem tem é o meu irmão.

-Eu daria uma cunhada muito mais legal.

-Credo, ter que te aguentar nos almoços de família.

-Eu sou família, bicha escrota!

-Sabia que o planeta está com problemas de água, vaca estúpida? – Perguntei, vendo que ela praticamente só conversava com o chuveiro ligado.

-Pão duro.

-Perdulária.

-Que porra de palavra é essa?

-Compra um dicionário, loura burra.

Baby fechou o chuveiro, pegou a minha toalha e começou a se secar.

-E se a gente impedisse essa mudança?

-Como? O barato ainda não passou, Baby?

-A gente podia forjar um assalto e sumir com todo o dinheiro.

-Não! Eles precisam alimentar o meu sobrinho!

-Contratar uma puta pra se fazer passar por amante do Victor e eles se separarem.

-Aí ele viaja sem a Julia.

-Ou embebedar o seu irmão e eu viro a puta.

-Porra, o barato ainda não passou.

-Ele não viaja sem eu roubar um beijo dele, Tommy, escreve o que estou dizendo.

Vou escrever nada. Conheço a Baby. Aposto que ela rouba um beijo do Victor antes de ele viajar.

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Este POV faz parte da Semana do Tommy, que acontece até dia 09/01 no grupo Realidades Paralelas da Mari


O Lado Escuro da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora