(1997) Kate e Vince: Ele Disse, Ela Disse

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Dedicado a SuellenRufino

Ela disse:

Para resumir os últimos dois dias da minha vida, foi sexo, sexo, sexo, ressaca brutal, realojamento dos meus filhos, sexo, sexo, aclimatação dos meus filhos, sexo, mais sexo. Ah, esqueci de uma coisa: depois teve sexo.

E trabalhei um pouco.

Então, pra quebrar a rotina, alguém me ligou, passamos um bom tempo seguindo a vibração do celular entre os lençóis (mais sexo), até que finalmente ele o achou, olhou o visor e perguntou:

-Esse Mark é o Snyder?

-Não, esse é o Mark meu namorado – respondi, com aquela sensação de "puta que pariu" me queimando o estômago. Não é que, nos últimos dias, eu tivesse evitado o Mark. Eu o havia empurrado completamente para o terreno da não-existência, onde habitam todas as pessoas que eu não conheço. Atendi, e o Mark estava puto. Ele tinha todas as razões para estar furioso comigo, mas o que me confundiu foi o fato de ele não saber que eu estava pelada na cama com o meu ex naquele exato momento, e que o meu ex era tão pouco meu ex que eu já havia trazido os nossos filhos de volta e feito todo o processo de adaptação. Ou seja, ex porra nenhuma, eu que era bígama.

Mas Mark estava puto porque, no território da não-existência, eu estava há três dias furando com ele e deixando de atender os seus telefonemas. Não foi pessoal. Esqueci mesmo, e tinha colocado o celular para vibrar porque ele toca que é uma desgraça, e não dá pra retomar a minha vida se eu tiver que interrompê-la a cada cinco minutos. Disse para ele que passaria no seu apartamento mais tarde. Não para fazer mais sexo, claro. Apesar do que dizem por aí, sou uma criatura monogâmica, mas para terminar com ele. Só que isso, claro, não dá para dizer pelo telefone.

Ele disse:

Quando a Kay falou que era o namorado dela deu aquele puta choque de realidade, sabe? Tipo, a gente passou dois dias e meio fingindo que nada havia acontecido, aliás a gente não fingiu nada, eu estava com uma saudade do caralho e acho que a gente só não pensou. Só que ela foi embora. Fiquei puto da vida, ela voltou, ela arrumou um namorado, eu arrumei uma e outra que prometia se tornar uma namorada bem legal se a Kay não tivesse vindo aqui na quinta. Aconteceu uma porrada de coisas, e a gente não podia retomar de onde parou. Sei lá, ir embora porque está feliz e precisa ser infeliz para ser feliz é uma justificativa insana demais, até para ela. E eu com certeza não quero que ela vá de novo.

-O que aconteceu? – Perguntei, quando ela desligou.

-Ah, então, eu tinha combinado de sair com ele na sexta, e obviamente não saí porque a gente estava trepando, e como coloquei o celular para vibrar, perdi todas as vezes que ele me ligou. Enfim, ele está puto e fiquei de passar lá à noite para esclarecer as coisas. Tipo, terminar e tal. A não ser que você queira tentar aquela parada de relacionamento a três – Ela deu aquele puta sorriso lindo dela.

-O que aconteceu com a gente, foi o que eu quis dizer. O que te deu? Por que você acha que uma vida perfeita é motivo para ir embora?

Ela disse:

Argh, para um inglês, Vince não entende nada de sarcasmo. Ok, eu estava confusa. Acho que nem eu poderia lhe dizer o que estava acontecendo naquela época. Sabe aquele papo de casal precisar ter comunicação? A gente sempre teve comunicação, mas esbarrou em um caroço que eu nem sabia o que era, não sabia nem ao menos lhe explicar. Claro, o certo seria a gente ter sentado e conversado, mas eu diria o quê? Eu vinha me sentindo progressivamente mais e mais infeliz, passava as noites acordada, os dias querendo dormir, e aí olhava à minha volta e via que eu tinha:

O Lado Escuro da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora