(2013) Baby: Na alegria e na bebedeira, até que o castigo nos separe

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O cheiro forte de café, uma quentura perto do rosto, aquela voz delicada no meu ouvido:

-Acorda, cacete! A gente não tem muito tempo pra te fazer ficar decente!

Ah, droga.

Sentei apalpando tudo à minha volta e enfiei a mão no café instantâneo fumegante que o Tommy segurava em frente ao meu rosto.

-Porra! Isso dói!

O filho da puta deu uma gargalhada.

-Deixa a minha mãe te pegar aqui com essa cara de derrota que você vai ver o que vai doer.

Viado desgraçado. Peguei a caneca das suas mãos e dei um gole no café, que estava tão forte que dava para cortar com faca.

-Eu vou tomar um banho.

-Mas não lava o cabelo.

-Por que não?

-Se lavar, a minha mãe vai saber que você tomou banho aqui.

-Não fode, Tommy. A madrinha tá careca de saber que corro mais risco fazendo sauna com a Angie que tomando banho no seu banheiro.

-Repete isso na cara da Angie e você também vai descobrir o que é dor de verdade.

Comecei a tirar a roupa para aproveitar a adrenalina do "não posso ser pega". Depois que ela passasse, tudo começaria a doer e eu ia passar o resto do dia morgada, mas antes disso eu tinha de aproveitar o medo para manter a ilusão para o mundo adulto que eu e Tommy havíamos ido a uma festinha inocente, tomado uns refrigerantes, dançado o twist e voltado pra casa.

-Alguém sabe que eu tô aqui?

-Mandei uma mensagem pelo seu celular pro tio Mick, dizendo que a gente ficou sem carona e era mais fácil você dormir aqui.

-Você sabe a senha do meu celular? – Perguntei, enquanto me enfiava no chuveiro do loft do Tommy.

-Amor, você é a menina mais fácil da Inglaterra. Não tem nada seu que todo mundo não saiba.

Nossa, estava com um blackout completo de ontem à noite, ainda bem que Tommy estava comigo. Tenho dois melhores amigos no mundo: A Angie, que tem os melhores conselhos e uma visão que a faz parecer aqueles anciãos da tribo que ficam sentados de pernas cruzadas e falam por rimas, sabe? Tipo aquele velhinho verde do filme chato pra caralho que o papai e o Josh gostam. O outro é o Tommy, que me salva a vida. Com ele posso sair sabendo que, por mais doido que a gente fique, serei eu que terei o blackout e será ele que me fará chegar em casa em segurança.

Diga-se de passagem, esses blackouts estão ficando cada vez mais frequentes.

-Vem aqui, Tommy, porra! – Gritei do chuveiro.

-Caralho, deve ser por isso que eu sou gay! Você me fez encher o saco de mulher de tanto eu ter de olhar a sua buceta! – Ele reclamou, entrando no banheiro.

-Você olha pra minha buceta porque quer, é só olhar pra minha cara, caralho – Dei uma risada. Amo o Tommy. – Peguei quantos?

-Acho que três.

-Acha?

-Aham. Teve uma hora que eu tava pegando, aí não contei.

-É? Quantos?

-Um só.

-Pff.

-Descuuuulpe! – Ele falou, exagerado. – Da próxima vez, me avisa que é uma competição.

O Lado Escuro da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora