Ruínas - Capítulo 25

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O barulho da chamada sendo completada fazia o coração de Sophia bater cada vez mais acelerado. Quando ouviu a voz dele, parecia que nada conseguiria dizer, mas era só sua voz em uma mensagem gravada para a caixa de mensagem. "Oi, eu sou o Micael, não posso atender agora, manda mensagem no whatsapp". Chorou ainda mais ao ouvir sua voz no fundo da mensagem dizendo "namorado da Sophia" enquanto ele gravava o recado. Sorriu em meio as lágrimas ao se lembrar daquele dia, tinha sido divertido.

Não desisti, ligou outra vez e mais outra. Já tinha completado mais de cinco ligações quando ele finalmente atendeu. A voz brava e ela sabia que ele tinha cansado de ficar olhando as ligações caírem na caixa postal. Sua voz se perdeu no instante em que ele falou.

- O que inferno você quer comigo?! – Esbravejou ao telefone, mas ela permaneceu muda e fungou. Não esperava que ele atendesse alguma das ligações ou esperava? – Me ligou pra ficar em silêncio? Pois, passe muito bem. – Sentiu que ele ia desligar e então ela deu um grito.

- NÃO DESLIGA. – Fungou mais uma vez. – Micael eu... - A frase morreu no ar.

- Você precisa completar alguma frase.

- Eu queria saber como você está depois... – Se interrompeu de novo. Era muito difícil conversar com Micael, ela pisava em ovos.

- Depois de ver você com o seu amante, juntos? – Ele completou a frase e ela ficou em silêncio. – Você quer saber a verdade? A verdade que eu não conto a ninguém e nem deixo transparecer quando estou perto de quem quer que seja?

- Sim. – Falou bem baixo com medo da resposta. Ouviu Micael fungar e ficou surpresa ao perceber que talvez ele também estivesse chorando.

- Aquilo acabou comigo, Sophia. – Sua voz era monótona, não tinha mais grito. – Acabou com o que tinha restado de mim desde que eu descobri tudo. Se era esse seu objetivo, parabéns, você conseguiu.

- Não! – Se apressou a dizer. – Eu não planejei nada daquilo. Eu juro, foi a Lua que me convenceu a aceitar aquela maldita carona eu nunca tive a intenção de... – Dessa vez foi ele que a interrompeu.

- E o almoço? – Fez uma pausa dramática. – Foi a Lua que te incentivou a ir almoçar com aquele cara também? – Sentiu um pouco de deboche em sua voz baixa.

- Como você sabe desse almoço? – Perguntou confusa, Lua não falaria disso, será que falaria?

- PORQUE EU VI VOCÊS DOIS JUNTOS AOS RISOS, VOCÊ PASSOU COM ELE NA PORTA DO RESTAURANTE QUE EU TRABALHO E NÃO SE DEU AO TRABALHO DE OLHAR PARA O OUTRO LADO DA RUA PRA SABER SE EU ESTAVA ALI OU NÃO. – Perdeu a compostura e gritou ao telefone. – Eu vi você com esse cara duas vezes só hoje.

- Eu não tenho nada com ele.

- E de que adianta isso agora? – Sua voz era tão sofrida que aquilo fez o coração de Sophia se apertar ainda mais. – Do que adianta você não ter nada com ele agora, se você teve enquanto namorou comigo?

- Eu amo você. – Não respondeu a pergunta.

- E de que serve esse seu amor? – Fungou mais uma vez. – Amor sem respeito, amor sem confiança, amor sem fidelidade. Faz um favor pra nós dois, não liga mais pra mim não.

- Micael, você não pode fazer as coisas dessa forma. – Tentou implorar pela última vez.

- Eu vou seguir a minha vida e quero distância de você, adeus, Sophia. – Desligou o telefone e Sophia permaneceu com a linha muda em seu ouvido. Ele não podia estar falando sério, ele não podia estar planejando seguir com a vida e se esquecer dela pra sempre.

Ela tentou ligar novamente, não podia deixar que o namoro dos dois terminasse daquela forma, não podia deixar que Micael escorresse por seus dedos desse jeito. Mas já era tarde demais, ele tinha desligado o telefone e ela não conseguiu mais contato.

Os dias que se seguiram foram torturadores para Sophia, ela não sabia o que se passava com Micael e o pior era não ter nenhuma notícia. Ela tinha descoberto depois que, naquele dia, Micael não tinha desligado o aparelho, ele tinha mudado de número novamente e dessa vez para que ela não descobrisse não passou a nenhum de seus amigos. Sumiu completamente ninguém o via há quase um mês.

Ele realmente queria se afastar de Sophia, e não conseguiria isso se não se afastasse dos amigos também, já que todos estavam sempre juntos.

- Ele tem que aparecer, Arthur! – Lua brigava ao telefone. – Vamos comemorar dois anos, ele tem que ir na nossa festa, ele foi nosso padrinho de casamento. – Sophia escutava tudo atentamente, estava sentada ao lado da amiga, ambas na hora de almoço. - Não importa, acampa na porta da casa dele se for preciso. – Suspirou. – Tá bom, eu vou esperar você ligar! Te amo. – Amansou a voz.

- Ainda nada do Micael? – Mesmo após quase um mês do sumiço, Sophia ainda sentia dor ao pensar na forma como ele tinha sumido do mapa.

- Não, no restaurante o pai dele disse que ele pediu férias. – Lua rolou os olhos. – Se ele não for na minha festa de aniversário de casamento eu vou ficar muito bolada. Os meus padrinhos tem que estar lá!

- Me desculpe por isso também. – Ela falou baixinho, remexendo no almoço com o garfo, não tinha a menor vontade de comer.

- Para, isso não é culpa sua. Ele sumiu porque quis. – Abraçou a amiga. – E vamos falar com ele, ai do Arthur se não conseguir.

- É tão estranho, já passou quase dois meses que toda a merda aconteceu e eu não me sinto nem um pouco melhor, parece que a cada dia eu estou me sentindo mais acabada, cada dia eu sinto mais a falta dele, Lua.

- Meu amor, você precisa dar a volta por cima, eu não te vejo sorrir desde o dia que me contou da ligação, Soph. Sua vida tem que andar também, meu amor.

- Eu não consigo, eu juro que tento, mas eu não consigo. – Secou as lágrimas com as costas da mão. – Eu não paro de pensar nele um minuto da minha vida. Se ele aparecer na sua festa acompanhado...

- Você tem que se preparar pra isso, amiga. – Ela tinha a voz doce. – Ninguém sabe a quantas anda a vida do Micael, você realmente precisa estar preparada pra tudo.

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