Ruínas - Capítulo 151

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- Jorge, pelo amor de Deus. – Bufou um tanto quanto irritada. – Colabora e passa logo o endereço.

- Eu concordo com o Micael em achar que você não deve ir pra lá. – Sophia poucas vezes se irritava com Jorge.

- Com todo respeito do mundo, quem sabe da minha vida sou eu. – Antônia sorriu. – Eu não vou deixar o Micael ir pra outro estado assim, como se eu não significasse nada. Se ele não quer mais nada comigo, vai ter que dizer olhando na minha cara.

- Vocês são dois teimosos. Quando ele estava aqui, você não queria saber dele, agora que está há horas de distância quer ir atrás. – Ele cruzou os braços.

- Não precisa entender a gente, só me passa o endereço. – Não tinha uma cara nada boa quando viu Jorge balançando a cabeça. – Se você não me falar onde fica esse maldito restaurante, eu vou sozinha e vou ficar perdida lá. Tudo o que acontecer comigo naquele lugar vai ficar na sua conta.

- Então não vai. – Deu de ombros.

- Isso não é uma opção. – Gesticulou com os braços. – Eu vou e preciso do endereço.

- Tudo bem, Sophia. – Pegou um papel e anotou o endereço. – Ao chegar lá, você diz ao Micael que me obrigou a contar.

- Eu falo. – Sorriu olhando o papel. – E vê se me faz o favor de não contar que estou indo. Você me deve isso por ter escondido as coisas de mim.

- Eu acho que você e Micael são as duas pessoas mais complicadas que já conheci na minha vida ao longo dos meus cinquenta anos.

- A gente se entende do nosso jeito. – Desfez a cara de brava e sorriu aos sogros. – Obrigada, gente. Eu mando notícias.

- Espero que dê tudo certo. – Antônia se aproximou e deu um beijo na mulher.

- Eu também. – Se despediu e sai da casa dos sogros. Chamou um carro e logo estava em casa. Sorriu ao olhar o endereço. Micael estava em Gramado e ela logo estaria também, se tudo desse certo.


Sophia aguardou o telefonema de Beth o restante do dia, mas não teve resposta. Já a noite, quando estava a ponto de dormir, viu a mensagem que recebeu. Beth tinha conseguido pra ela um teste, em dois dias e por pura coincidência do destino, era em Gramado. Respondeu a mensagem a com vários "obrigada".

Sophia ligou o computador quase que na mesma hora pra comprar a passagem pro dia seguinte. Não poderia deixar pra ir no dia do teste. Também pesquisou uns locais pra ficar, mas acabou não reservando nada.

Estava tão ansiosa que não conseguiu dormir direito. Tinha reservado o voo para as duas da tarde. Levantou de manhã e foi tomar um banho, precisava falar com Lua e se despedir da amiga, mesmo que a mesma desaprovasse aquela atitude.


- Oi, Luinha. – Sophia disse ao entrar na casa de Lua e encontrar a mulher sentada no sofá amamentando. Quem abriu a porta pra Sophia tinha sido a empregada que Arthur contratou pra ajudar a esposa nesses dias. – Você está com uma cara péssima. – Soph se abaixou e fez carinho na cabeça de Matheus.

- Você jura? – Falou baixinho pra não assustar o bebê. – O Matheus não me deixa dormir a noite, é lógico que estou com cara de zumbi. Eu fico com pena do Arthur que vai trabalhar cedo, ai passo quase a noite toda com o Matheus no quarto dele.

- O Arthur não tirou licença paternidade? Tem uns cinco dias ai pra tirar não é?

- A empresa é do Arthur, você sabe como ele é... – Bufou. – Odeia ficar longe dos negócios.

- Mas o bebê nasceu tem dois dias, não é justo você ficar com toda a responsabilidade. – Continuou questionando.

- Ele não me obriga a ficar com toda responsabilidade, eu que fico com dó. – Deu de ombros. – Mas me fala a que devo a sua visita? Com certeza não foi pra falar sobre o Arthur acordar ou não de madrugada.

- Eu vim te dar um beijo antes de viajar. – foi a vez de Soph dar de ombros. – Imaginei que você ficaria uma fera se eu fosse sem falar nada.

- Jura que você vai embora? Eu pensei que você não ia levar isso a frente. Pensa em você, menina. – Começou a brigar com a amiga. – Completamente dependente do Micael, nunca vi.

- Eu já deixei de ser dependente dele, Lua. – Encarou a amiga antes de falar. – Eu consigo seguir a minha vida, eu tenho a minha carreira que está só no começo, eu aprendi a me virar na cozinha, eu vou entrar na auto escola... Eu ando muito bem resolvida internamente.

- E vai atrás dele por que então?

- Porque eu o amo. – Lua rolou os olhos. – Isso não faz de mim fraca e nem emocionalmente mal resolvida. Isso faz de mim humana. Micael é o homem que eu amo, já tentei deixar isso pra lá algumas vezes, mas não dá. É um sentimento forte, é verdadeiro.

- Quanta ladainha. – Debochou. – A sua felicidade depende dele, isso sim.

- Lógico que não. Eu que terminei com ele dessa última vez e fui eu também que não quis reatar quando ele tentou. Eu me amo, Lua. Eu aprendi a me amar antes de ama-lo com esse tempo que tirei pra mim. Só que eu não vou perder o homem que eu amo só por orgulho ou por medo de não dar certo.

- E a sua carreira? Largou?

- Claro que não. – Sorriu. – Beth me arranjou um teste amanhã, lá. – Contou empolgada. – Por isso também eu não comprei ainda a passagem de volta, não sei quantos dias vai levar.

- Sejamos sinceras uma com a outra, você não vai voltar. – Ela tinha a voz embargada. – Vai abandonar eu e o Matheus pra sempre. Vai ter filhos e eu não vou conhecer. Você é uma péssima madrinha.

- Ei, para com essas ideias. – Saiu de onde estava sentada e foi se sentar ao lado da amiga. – Nunca vou abandonar vocês dois, somos melhores amigas desde que eu me entendo por gente.

- E a pior parte foi quando você foi embora quando a gente tinha quinze. – As lágrimas de Lua escorreram. – E agora você está fazendo de novo.

- Lua, olha pra você. – A mulher fungou. – Você é casada com o homem que você ama, você tem a sua casa, o seu primeiro filho acabou de nascer. Você tem a sua família. Não deseja que eu conquiste as mesmas coisas?

- Você sabe que eu quero tudo de bom pra você também. – Passou uma das mãos no rosto. – Só que podia ser aqui né?

- Eu prometo que quando tudo se resolver, eu falo com o Micael pra gente voltar, pode ser? – Lua balançou a cabeça. – E eu vou falar com você todos os dias. – Ergueu o dedo mindinho pra amiga. – Eu prometo. – Lua sorriu e enlaçou o dedo de Sophia com o dela, como faziam quando eram crianças.

- Eu vou cobrar. – Abraçou Sophia meio de lado.

- Agora me dá esse nenê aqui pra eu dar uns cheiros antes de ir. – Lua entregou o bebê que já tinha parado de mamar há um tempo pra Sophia. – Dinda vai acostumar você a dormir no colo e ai a mamãe vai sofrer mais ainda. – Ela falou para o bebê que tinha os olhos fechados.

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