Ruínas - Capítulo 150

171 12 11
                                    

O dia seguinte Sophia tirou pra ficar em casa se lamentando. Passou o dia de pijama, comendo bobeiras que sabia que Mel a mataria se descobrisse. Pensando e repensando no que deveria fazer.

Tinha trocado algumas mensagens com Lua e a mulher deixava explicito que era contra a viagem, que Sophia tinha que seguir a vida dela. A loira jogou o telefone de lado e ficou deitada na cama, sabe-se lá por quanto tempo.

Olhou a gaveta do criado mudo e a abriu, tirou de lá o cartão que Micael tinha dado a ela. Sorriu ao olhar a lembrança que tinha trago consigo de São Paulo. Suspirou e pegou o telefone, discou o número de Micael.

- Sophia? – O moreno atendeu quase no último toque. Sophia conseguia ouvir a bagunça no fundo, com certeza estava trabalhando. – Alô?

- Chef Micael Borges? – Ela brincou como da outra vez e ouviu uma singela risada dele. – Estou ligando pra gente conversar sobre a pintura do seu carro.

- Aquele você gentilmente bateu? – O moreno entrou na brincadeira. – Vai ter que pagar a pintura dele com juros e correção monetária.

- Eu não quero nem pensar quanto que vai me custar essa pintura... – A loira riu, mas logo os dois ficaram em silêncio.

- Achei que estivesse com raiva de mim pela forma que desligou o telefone ontem. – Deu de ombros mesmo que a mulher não conseguisse ver. – Pensei que demoraria um tempo pra querer falar comigo de novo.

- Eu estou com raiva de você por ter ido embora sem nem se despedir, por ter obrigado todo mundo a mentir pra mim. Por ter dito que seguiria em frente.

- Eu disse pra você seguir em frente, não que eu seguiria. – Sophia bufou. – Eu estou com muito trabalho aqui, não tenho tempo pra essas coisas.

- Você realmente quer isso? – Não tinha lágrimas, mas sua voz falhava. – Você quer que eu ache um cara legal e me apaixone de novo? É isso?

- É bem ruim ouvir você dizendo essas coisas. – Suspirou. – Eu só quero que você seja feliz e bom, estava na cara que eu não estava mais conseguindo fazer você feliz. Esses dois meses que estamos separados, você parecia bem melhor do que comigo. Sejamos sinceros, você não precisa mais de mim.

- Você acha que isso é conversa para termos por telefone? – Questionou.

- Não quero ter essa conversa, por isso que eu não quis despedida. Ficamos no chove não molha tanto tempo que eu precisei decidir por nós dois.

- Nós vamos ter essa conversa, desculpe te decepcionar. Mas vai ser pessoalmente.

- Eu não estou pretendendo voltar nem tão cedo e não quero que você venha aqui. – Aquelas palavras magoaram Sophia, mas ela sentia que ele as dizia da boca pra fora. – Seu lugar é ai no Rio.

- O meu lugar é onde eu quero estar, você não pode decidir isso por mim também.

- Você está tornando as coisas mais difíceis pra nós dois. – Comunicou.

- Tudo bem, Micael. Se é o que você quer, pode deixar que eu não vou ai. – Desligou o telefone sem ouvir a resposta do moreno. Pulou da cama e foi pegar uma muda de roupa. Tomou um banho rápido, saiu de casa sem passar maquiagem e não demorou a estar na agência de frente para Elizabeth.

- Que bela surpresa. – A mulher sorriu para Sophia. Realmente tinham se aproximado no pouco tempo em que trabalharam juntas. – Alguma novidade?

- Preciso de uma ajuda sua. – Estava sem graça. – Preciso muito.

- Fale, se eu puder ajudar... – Apontou pra cadeira e logo foi se sentar na sua.

- Eu preciso de uma indicação de trabalho no Rio Grande do Sul. – A mulher arregalou os olhos, com toda certeza não esperava por aquilo. – Pode ser qualquer campanha que seja e também não importa muito o valor do cachê...

- Que desespero é esse pra sair do Rio? – Franziu a testa. – Você está em ascensão aqui, Sophia. É loucura querer sair do estado logo agora pra começar tudo do zero.

- Por isso eu estou pedindo sua ajuda. – Juntou as mãos suplicando. – Eu sei que você deve ter alguns contatos lá, você tem em todo país. Eu preciso ir pra lá.

- Homem né? – Beth disse com uma careta. – A única coisa capaz de fazer a gente cometer loucuras é amor. – Soltou uma risadinha. – Eu vou tentar ajudar, vou fazer alguns telefonemas e ver o que consigo pra você.

- Obrigada! – Ela tinha um sorriso empolgado. – Vou ficar devendo uma.

- E eu vou cobrar, está sabendo né? – Brincou. – Agora vai pra casa que eu ligo se tiver alguma resposta positiva pra você.

- Tá ótimo. – Balançou a cabeça. – Vou aguardar. – Sophia correu pra casa empolgada.



Não importava as palavras de Micael quando ele dizia que não queria vê-la, não importava quando ele dizia que devia seguir em frente. Iria até lá, e ele teria que dizer todas aquelas coisas diante dela, sem gaguejar ou desviar o olhar.

A loira pegou a maior mala que tinha e começou a colocar algumas roupas, uma bota, alguns acessórios. Procurou a temperatura do estado e se assustou, então decidiu levar outra mala com casacos e calças quentinhos. Foi ai então que ela percebeu que não fazia ideia de onde ficava o restaurante de Jorge.

Pensou em ligar para o mesmo, mas preferia falar pessoalmente. Como já ia dar seis da tarde, ela preferiu ir direto á casa do ex sogro e não para o restaurante. Tocou a campainha insistentemente e quem abriu foi Antônia.

Sophia sorriu para a mulher que usava um lenço na cabeça desde que tinha cortado seu cabelo devido ao tratamento. Antônia sorriu de volta e logo deu espaço pra loira entrar.

- Como está? – Perguntou e a mulher deu de ombros. – Parece melhor, seu rosto pelo menos.

- Bom, eu perdi alguns quilos e meus cabelos, mas estou me sentindo bem hoje. – Contou. – Eu sinto que estou melhorando.

- Graças a Deus! – Segurou as mãos de Antônia. – Você vai ficar bem. É só um pesadelo. – Antes que a mulher respondesse, Jorge entrou e assustou as duas mulheres. – Ai que susto, Jorge.

- O que vocês fazem paradas perto da porta? – Ele disse sorrindo. – Não tem outro lugar nessa casa pra conversar não?

- É que eu acabei de entrar! – Comunicou. – Vim falar com vocês.

- Lá vem bomba, você nunca vem falar com a gente. – Jorge brincou.

- Eu estou sabendo que o Micael foi embora pro sul. – O casal arregalou os olhos. – E que todo mundo escondeu isso de mim como se eu fosse uma criança que não pode receber notícia ruim.

- Ele pediu isso pra gente, não cabia a nós contar. – Deu de ombros. – É um assunto de vocês.

- Eu sei, Jorge. – Respirou fundo. – Mas agora que eu já sei, eu preciso do endereço do restaurante.

- Eu não posso passar, Micael pediu isso também, pra garantir que você não iria atrás dele e estragasse sua carreira aqui. 

RuínasOnde histórias criam vida. Descubra agora